- Desde o outono de 1919, o autor desejava descobrir o que fazia uma teoria ser classificada como científica. Naquela época sua preocupação estava em, com suas palavras, “traçar uma distinção entre a ciência e a pseudociência” (Popper, 1980), e, descobrir isso baseado não somente na observação ou experimentação, como sugere o método empírico. O clima revolucionário que surgira após o colapso do Império Austríaco trouxe diversas teorias à tona. Dentre elas, a Teoria da Relatividade de Einstein era considerada a mais importante para Karl, que considerava também a teoria da história de Marx, a Psicanálise de Freud e a Psicologia Individual de Alfred Adler.
- Após a euforia das descobertas que surgiam sobre cada teoria, chegou também o incômodo com algumas delas. Este incômodo não se dava baseado na veracidade das teorias, mas na facilidade com que as teorias de Marx, Freud e Adler eram comprovadas. O mundo aparentava estar repleto de verificações das teorias. Em relação a teoria de Adler, com quem o autor teve uma experiência pessoal, o que impressionou foi a análise de um caso, que, segundo Adler, estava relacionado a teoria do sentimento de inferioridade. Quando questionado sobre o motivo para a constatação, ele afirmou que já havia visto e tratado casos iguais anteriormente, e que este seria o motivo do veredito. Após ouvir o posicionamento de Adler e analisar esta constatação e a maneira como se chegou a ela, Karl afirma que cada observação havia sido examinada à luz da experiência anterior, o que só as tornavam confirmações adicionais.
- Como conclusão principal após análises em 1919-1920, definiu-se que o critério que define o status científico de uma teoria é sua capacidade de ser refutada ou testada. Diante dessa e outras conclusões, Karl encontra mais problemas, levando em consideração a facilidade para se classificar uma teoria como científica, e então propõe um critério de refutabilidade, não para resolver problemas relacionados ao significado, veracidade ou aceitabilidade das teorias, mas sim para traçar uma linha entre as afirmações das ciências empíricas e todas as outras afirmações. Mais tarde, esse problema foi chamado de “Problema de Demarcação”.
- A publicação das ideias do autor relacionados ao critério de demarcação vieram para contrapor o critério de significação de Wittgenstein, que em seu Tractatus procura demonstrar que as proposições filosóficas ou metafísicas são na verdade falsas proposições, ou pseudo-proposições, sem sentido ou significado. Segundo essa visão, portanto, há uma coincidência da verificabilidade, do significado e do caráter científico. O critério de Wittgenstein é o da verificabilidade, más esse critério é tanto restrito quanto amplo demais, pois exclui muito do campo científico e deixa de excluir a astrologia. Para Karl, “nenhuma teoria científica pode ser deduzida de informações derivadas da observação, ou descrita como função da verdade nelas contida” (Popper, 1980).
- O autor descreve como apresentou suas ideias para seguidores de Wittgenstein e para os membros do Círculo de Viena. Os membros do círculo classificaram a ideia de Karl como “uma proposta para substituir o critério de significado”, o que ia contra a perspectiva do autor, não tendo uma ligação com sua intenção verdadeira. A respeito de suas críticas sobre verificação, o efeito foi diferente: tanto os filósofos verificacionistas do sentindo quanto os do sem-sentido foram levados a mais completa confusão, afinal, originalmente a proposta que considerava a verificabilidade como critério de significado era simples e clara, e quando as modificações foram introduzidas não era isso o que acontecia, causando uma tremenda confusão. O autor finaliza o texto afirmando que, embora tenha criado a confusão, o mesmo jamais participou dela. Ele não propôs a refutabilidade ou a testabilidade como critérios de significado, e embora se considere culpado por haver introduzido ambos os termos na discussão, não os introduziu na teoria do significado.
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O autor, por mais que descreva com embasamento considerável toda sua visão em relação a maneira como se classificam teorias científicas, acaba por deixar esta questão de lado e se dedica mais na descrição dos critérios de refutabilidade e de significação, do que a descoberta do que faz uma teoria ser classificada como científica, o que torna o texto divergente do seu objetivo principal inicial.
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