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Teorização Organizacional: Um Campo Historicamente Contestado

Por:   •  24/11/2015  •  Pesquisas Acadêmicas  •  1.708 Palavras (7 Páginas)  •  1.721 Visualizações

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TEORIZAÇÃO ORGANIZACIONAL

REED, M. Teorização Organizacional: Um Campo Historicamente Contestado. In: CALDAS, M.; FACHIN, R.; FISCHER, T. (Orgs.). Handbook de Estudos Organizacionais: modelos de análise e novas questões em estudos organizacionais. São Paulo: Atlas, 1999. p. 61-104.

O capitalismo industrial e sua conseqüente modernização geram, já no século XIX, estudos organizacionais na tentativa de explicar as transformações econômicas, políticas e sociais geradas. Com o desenvolvimento, surge uma nova forma de organização da sociedade, em que os princípios científicos prevaleceriam sobre a subjetividade humana. A organização é vista como forma de poder, sendo capaz de superar o conflito entre os objetivos coletivos da sociedade e as necessidades individuais. Entretanto, o que se viu foi a fragmentação das análises organizacionais e o predomínio das incertezas e conflitos teóricos.

        Enfatizando a ordem como foco de seu estudo organizacional, o racionalismo predomina nas obras de Taylor, Fayol, Urwick e Brech, em que, segundo estes últimos, a organização é fundamentada através da divisão do trabalho. O racionalismo e seu institucionalismo triunfam sobre os valores e emoções humanas constituindo um panorama de estruturas autoritárias e incontestáveis em que os indivíduos são obrigados a seguir os padrões. Taylor e a chamada administração científica preconizam a eficiência como principal virtude, conquistada por meio da racionalização do desempenho do trabalho. Simon e o conceito de “racionalidade limitada”, apesar de criticar o excessivo controle e formalismo da teoria vigente, não aborda temas importantes como cultura, moral e política no seu modelo. As diversas limitações do modelo mecanicista não permitiram que este tivesse pleno domínio intelectual, dando lugar aos discursos organicistas.

        Contrariando o pensamento racional por sua impessoalidade e controle mecânico surgem questões que enfatizam a necessidade de integração social e do sentimento de comunidade. Para Mayo, organização e sociedade devem estabelecer processos de cooperação e participar da integração do indivíduo com a civilização industrial. A escola das relações humanas estabeleceu-se com o propósito de negar os princípios racionalistas, julgando ineficazes os pressupostos mecanicistas e controladores. A concepção de cooperação simultânea e equilíbrio dos sistemas sociais prevalecem na sociedade por vários anos. De forma convergente aos ideais organizacionais da escola de relações humanas foram desenvolvidos os princípios que originaram a teoria geral dos sistemas. Preocupada em estabelecer relações entre a estrutura interna e as configurações externas da organização, a teoria busca a estabilidade do sistema focando nas imprevisibilidades ambientais, até então, pouco importante. Entretanto, a análise organizacional desenvolve-se com o funcionalismo estrutural, que enfatiza os aspectos abordados pela teoria sistêmica. Apesar de estruturar as análises organizacionais por um período que varia entre os anos 40 e 60, a concepção funcionalista-sistêmica apresentava fundamentos ineficazes ou excessivamente teóricos como a necessidade de equilíbrio do sistema que tornava-se impraticável em uma realidade repleta de tensões e transformações organizacionais. A teoria contingencial persiste na abordagem do ambiente externo como fator participativo do processo organizacional. No entanto, essa teoria já apresentava os vícios das análises teóricas anteriores das quais fora inspirada. De fato, no fim da década de 60, o pensamento organicista perdia força e abordagens alternativas surgiam na tentativa de interpretar melhor o sistema organizacional.

        O mercado influencia ou orienta algumas abordagens organizacionais na tentativa de redução de custos e maximização dos resultados. Coase aborda a existência e os limites da empresa ou firma, utilizando tanto aspectos do modelo racional quanto o organicista nas teorias. Além da teoria da firma, desenvolvida por Coase, outras teorias orientadas pelo mercado como a ecologia populacional e a teoria dos custos de transição surgem nas décadas de 70 e 80. Essas teorias têm em comum a análise das condições externas de mercado e a busca pela eficiência e sobrevivência. Os pressupostos econômicos preconizam a expansão do mercado e a racionalidade econômica, uma vez que a competitividade advinda da globalização exige das organizações a maximização dos resultados cada vez maior. Contudo, o que se observa nessas teorias é a omissão de abordagens como a luta pelo poder e a dominação gerada dentro das organizações.

        O poder é destaque quando se fala em Weber e o processo de burocratização analisado por ele. O poder organizacional é ainda refletido nos trabalhos de Maquiavel e Foucault. As estruturas de poder e dominação fundamentadas por Weber podem gerar relações estruturadas hierarquicamente, de acordo com a habilidade daqueles que as utilizem. O controle e a dominação são conseqüências das relações de poder que, apresentam-se de três formas: o poder “episódico”, o “manipulativo” e o “hegemônico”. À medida que avança nesse sentido, o poder prevalece nas práticas organizacionais e manipula os processos de tomada de decisão.

        Outra forma de controle através de poder é discutida com a especialização em determinados campos organizacionais e a geração do conhecimento. O comportamento social pode ser regulado de maneira substantiva através de mecanismos técnicos gerados pelo conhecimento especializado. Esse conhecimento, que pode ser dominado por qualquer indivíduo com treinamento específico, torna possível a existência e o gerenciamento efetivo das organizações. Algumas abordagens desenvolvem suas análises organizacionais baseadas nesses pressupostos como a teoria ator-rede, a teoria pós-estruturalista e a etnometodologia. Esses estudos apresentam em comum, a interpretação do controle e do poder gerados através do conhecimento específico e dos processos práticos da rotina da organização.

        A abordagem micro ou local dos aspectos organizacionais discutidos no pós-modernismo e pós-estruturalismo impedem a generalização e a universalidade dos conceitos.  Surgem então, diversos críticos que procuram redirecionar os estudos das organizações a análises mais abrangentes e globais. O “novo institucionalismo” busca desenvolver um modelo de análise econômica e social considerando as instituições como variáveis explicativas do desenvolvimento econômico. Os teóricos dessa corrente interpretam a distribuição desigual do poder como um conjunto de conflitos e contradições entre instituições políticas e estruturas econômicas, em que determinados interesses são priorizados em detrimento de outros. As organizações modernas, juntamente com os avanços tecnológicos e culturais, estimulam a prática de vigilância e controle cada vez mais discretos, reafirmando os pressupostos de Weber na atualidade. A análise organizacional evolui com os discursos sobre participação e democracia, priorizando novamente questões que relacionam sociedade e política. O relacionamento entre indivíduo, sociedade, organização e Estado continua a ser tema de análises e encontra dificuldades em estabelecer parâmetros mais participativos em um ambiente cada vez mais fragmentado, instável e contestado. Portanto, ao almejar uma visão administrativa ampla das organizações deve ser levado em consideração diversos aspectos do ambiente local com o global, além de ser atribuído a essas análises o sentimento de contestação e debate, evitando assim, o universalismo ou o relativismo das premissas organizacionais.

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