VIOLÊNCIA SIMBÓLICA NO CONTEXTO ESCOLAR Uma reflexão ao Sistema de Ensino Privado.
Por: Caatibaia • 16/1/2019 • Ensaio • 3.489 Palavras (14 Páginas) • 256 Visualizações
VIOLÊNCIA SIMBÓLICA NO CONTEXTO ESCOLAR:
Uma reflexão ao Sistema de Ensino Privado.
Esta pensata foi desenvolvida com o objetivo de contextualizar sobre a violência simbólica no contexto escolar do ensino privado, explicando inicialmente os três principais conceitos utilizados pelo sociólogo francês, Pierre Bourdieu - habitus, campo e capital. Os entendimentos dessa tríade são primordiais para alcançar os outros conceitos abordados nesta pensata, bem como, a explicação do poder simbólico e a violência simbólica nas relações entre estrutura e agente, buscando enfim a reflexão para o sistema de ensino privado como um sistema de reprodução, inserido dentro de um jogo de interesse, poder, dominação e relações estratégicas.
Pierre Bourdieu foi um sociólogo francês, formado em filosofia e iniciou sua vida profissional como professor. Sua carreira sofreu uma interrupção devido a uma função obrigatória prestada ao serviço militar na Argélia, e seu retorno à França marcou o início de sua volumosa produção científica. Suas reflexões dialogavam entre os pensamentos dos sociólogos renomados Max Weber e Karl Marx.
Para Bourdieu as questões se encontram nas relações, no espaço intermediário entre o objetivo e o subjetivo, adotando a nomenclatura de construtivismo estruturalista ou/e de estruturalismo construtivista, analisando a relação entre a estrutura e o agente e vice-versa. O sociólogo ainda presumi que em todas as relações há o dominador e o dominado, sendo assim seu posicionamento epistemológico segue a linha estruturalista-construtivista, que compreende as relações entre estrutura no papel dominante e o agente de dominado e também a relação construtivista-estruturalista, que examina o agente no papel de dominante e a estrutura como dominado.
Partindo do princípio sobre as relações entre agente e estrutura, Bourdieu acredita que tudo é socialmente construído, não é estático, há uma sedimentação contínua, a sociologia do conhecimento compreende a realidade humana como uma realidade socialmente construída, onde o espaço social é onde ocorrem as relações entre os variáveis capitais e forças, e o Habitus representa as relações do campo, ou seja, as relações de um segmento do espaço social.
A definição de Habitus é primordial para o início da discussão, pois esse conceito envolve todos os outros. Ele estabelece a ligação entre a sociedade e o indivíduo, onde estão fundidas as condições objetivas e subjetivas. Complementado a definição, Bourdieu define o Habitus como:
[...] sistemas de disposições duráveis e transponíveis, estruturas estruturadas predispostas a funcionar como estruturas estruturantes, ou seja, como princípios geradores e organizadores de práticas e de representações que podem ser objetivamente adaptadas ao seu objetivo sem supor a intenção consciente de fins e o domínio expresso das operações necessárias para alcança-los, objetivamente “reguladas” e “regulares sem em nada ser o produto da obediência a algumas regras e, sendo tudo isso, coletivamente orquestradas sem ser o produto da ação organizadora de um maestro. (2009, p. 87)
Pode-se dizer que o Habitus é um sistema de disposições socialmente construído, uma estrutura incorporada que representa o que cada individuo traz em si. Ele produz as práticas individuais e coletivas, portanto, faz parte do campo e está na realidade, ou seja, é a própria construção da realidade.
O Habitus é incorporado, não é imutável, ele é adquirido desde a mais tenra idade em hábitos primários contraídos inicialmente na estrutura familiar e posteriormente em outras estruturas, como por exemplo: escola e igreja. Além disso, o Habitus pode sofrer alterações com novas experiências obtidas pelo sujeito.
O objeto de estudo de Bourdieu são as relações que acontecem entre o texto e o contexto, ou seja, aquilo que se vive e aquilo que se vê, e o espaço que se constrói as relações (microcosmo) é denominado de campo. É importante ressaltar que Bourdieu (2004) desenvolvia uma análise a partir dos recortes de alguns pontos da sociedade, pois para ele não era possível trabalhar o todo, era necessário analisar um campo para entender os outros, mas não obrigatoriamente o que acontece em um campo, acontece em outros, é subjetivo.
Sendo assim, Bourdieu e Wacquant (1992, p. 114) definiram o campo como “uma rede ou uma configuração de relações objetivas entre posições", assim os campos são relacionais e dinâmicos, também é visto como um jogo, associados a ideia de poder e dominação. De acordo com Bourdieu e Wacquant:
Como um espaço de forças potenciais e ativas, o campo também é um campo de lutas que visa preservar ou transformar a configuração dessas forças. Além disso, o campo como estrutura de relações objetivas entre posições de força fortalece e orienta as estratégias pelas quais os ocupantes dessas posições buscam, individual ou coletivamente, salvaguardar ou melhorar sua posição e impor o princípio da hierarquização mais favorável aos seus próprios produtos. (1992, p. 101)
Dessa forma, pode-se dizer que o campo é um espaço hierarquizado, onde ocorrem “lutas” por poder e interesse, relações de dominação, forças que se chocam e capitais envolvidos, e é nesse recorte do espaço social que se deve compreender as relações que nele ocorrem. Dentro desse pressuposto há a noção de região, que seria o território de alcance do capital do campo, ou seja, dos capitais que estão no campo em discussão.
O capital pode ser entendido como diferentes espécies de recursos, conversíveis uns nos outros a partir de diferentes taxas de troca, sendo cada um deles operativo em campos e em tempos específicos (EMIRBAYER E JOHNSON, 2008). Bourdieu menciona a existência de várias espécies de capitais, que são fundamentais e se fazem presentes em diversos campos, como por exemplo, a forma mais óbvia de capital, o econômico, que é relacionado à capacidade monetária do agente.
O capital econômico dá acesso ao capital social, definido como um conjunto de relacionamentos sociais influentes mantidos pela família, e ao capital cultural incorporado, formado por títulos escolares. Adentro das espécies de capitais, o sociólogo destaca o capital simbólico, partindo da noção do poder simbólico, descrito por Bourdieu (1989, p. 7) “ com efeito, esse poder invisível o qual só pode ser exercido a cumplicidade daqueles que não querem saber que lhe estão sujeitos ou mesmo que o exercem”. Conforme explicado, o capital simbólico é regido pelo poder simbólico, um poder invisível que permeia o Habitus, o campo e as relações, uma forma transfigurada e legitimada das outras formas de poder.
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