A Cidade da Noite Apavorante
Por: Danipesp • 10/9/2022 • Resenha • 2.317 Palavras (10 Páginas) • 156 Visualizações
O primeiro, Classe A, abrangia não mais qúe 11 000 no East End, e talvez 50 000 em toda Londres: 1,25% da população. "Con-siste de alguns (chamados) operários, vadios, semidelinqüentes, parte dos ambulantes, artistas de rua e outros." Incluía muita gente moça: "rapazes que caem naturalmente na vadiagem; meninas que, quase tão naturalmente quanto eles, vivem nas ruas"; levavam "uma vida selvagem, sujeita a vicissitudes de extrema dureza e excesso ocasio-nal. O que comem está abaixo de qualquer descrição, e seu único luxo é a bebida"55. O otimismo de Booth baseava-se no fato de esse grupo ser tão pequeno: "As hordas de bárbaros de que ouvimos falar, e que, saindo de seus cortiços, irão um dia derrubar a civili-zação moderna, não existem. Os bárbaros constituem uma porcen-tagem minúscula e decrescente"56. Mas mesmo assim, repre-
32 CIDADES DO AMANHÃ sentavam um problema insolúvel: "Não prestam qualquer serviço útil e não produzem bens. Pelo contrário, freqüentemente os des-troem. Degradam tudo o que tocam. E como indivíduos, não têm condições de progredir... O que de melhor se pode esperar é que essa classe tenha suas características hereditárias progressivamente reduzidas"57. Esses, portanto, eram os clássicos Pobres Indignos Vitorianos: o material grosseiro da plebe, o perpétuo pesadelo das classes res-peitáveis, ainda que em número muito menor do que o que Hyndman e outros haviam apregoado. O segundo grupo, Classe B, era, porém, muito mais que um problema. E por uma única razão: constituía in-dubitavelmente o grupo maior — 100 000 no East End, talvez 300 000 em toda Londres; acima de 11% da população da cidade. Booth descreveu seus componentes como "em carência crônica": "Essa gente, como classe", — são dele as palavras — "é inepta, gastadeira, amante do prazer e sempre pobre; seu ideal é trabalhar e divertir-se quando bem lhe aprouver"58. O problema desse grupo residia na natureza ocasional dos seus salários. Compreendia um número rela-tivamente alto de viúvas, mulheres não casadas, jovens e crianças. Booth sentia que a solução para o problema da pobreza era "a total exclusão dessa classe da luta diária pela existência", visto "consti-tuir um peso constante para o Estado... Sua presença nas nossas cidades gera uma luta dispendiosa e muitas vezes inútil em prol da elevação do seu padrão de vida e de saúde"59. Imediatamente acima, situava-se a Classe C, contando perto de 74 000 indivíduos no East End, ou 250 000 em toda Londres: mais de 8% no total. Formavam "uma classe digna de lástima, constituída por gente batalhadora, sofredora, desesperançada... as vítimas da competição, e sobre as quais recai com especial dureza o peso das depressões recorrentes do mercado"60. O .problema básico_dessas pessoasestava na natureza irregulardeseus salários. E por fim a Clas-se D, composta por indivíduos sujeitos a salários regulares porém pequenos, com um total de 129 000 habitantes no East End, ou seja, 14,5% da população da cidade; digamos, 400 000 em toda Londres. "Vivem duras vidas com muita paciência", e a esperança de melhora só lhes poderia vir através dos filhos, visto que ' 'para a classe como um todo, a probabilidade de melhora é remota"61. Um grupo que leu com particular interesse esses resultados ini-ciais apresentados por Booth foi a Fabian Society, onde o trabalho paciente de desencavar fatos, desenvolvido por Sidney Webb, casa-va-se agora com a pena ácida de Bernard Shaw. A obra fabiana, clássica e definitiva, Facts for Socialists, cuja primeira edição data de 1887, foi repetidamente reimpressa, tendo vendido 70 000 exem-plares em oito anos; dois anos depois, surgia, em continuação,
A CIDADE DA NOITE APAVORANTE 33 Facts for Londoners. "Em Londres", concluíam os pesquisadores, "uma em cada cinco pessoas morrerá num asilo, num hospital ou num hospício"62.
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