A DIMENSÃO TÉCINICO OPERATIVA ODARIA BATINI
Por: Dayane Moreira • 26/11/2021 • Trabalho acadêmico • 2.391 Palavras (10 Páginas) • 130 Visualizações
A dimensão técnico-operativa na prática profissional
do assistente social
Prof.a. Dra. Odária Battini
Breve incurso histórico
Na história do serviço social no Brasil, especialmente no pós reconceituação, os assistentes sociais colocavam em questão o instrumental técnico-operativo na profissão porque, equivocadamente, entendiam que representava o pragmatismo herdado da influência teórico-metodológica norte americana e que se destinava a consolidar o projeto conservador de sociedade, amplamente questionado pela categoria profissional na época. O argumento residia na idéia da busca da perspectiva crítica do serviço social que colocava como substrato da ação profissional a interpretação do mundo, o que se processava por uma referência teórica crítica de leitura da realidade. O ponto alto da discussão que movia o debate dos assistentes sociais recaia na leitura da realidade, sem a necessária unidade teoria / prática, que dá sustentação à transformação, desconsiderada em suas dimensões teórico-metodológica, ético-política e técnico operativa. Desse suposto, resultou ênfase na teoria, no método e na história de modo abstrato, cindindo a categoria profissional entre assistentes sociais críticos e pragmáticos, reduzindo a unidade saber/fazer no serviço social.
Na atualidade, os assistentes sociais retomam a questão da instrumentalidade, já avançando na análise e na apreensão de que a teoria per si não muda o mundo e que o instrumental á a ferramenta de que a práxis requer como um de seus elementos constitutivos. Assim, a prática do serviço social, inclui o instrumental técnico alavancando sua ação como espaço de intervenção e de produção de conhecimentos. Se assim não for, a prática profissional do assistente social, ao ser invadida por uma racionalidade operativa instrumental, reduz-se a uma intervenção utilitária, subordinando à técnica a racionalidade emancipatória.
O instrumental utilizado pelo assistente social em seu trabalho, não pode ser visto, analisado e aplicado isoladamente mas, articulado ao projeto ético-político da profissão fazendo parte, portanto, de um conjunto maior da profissão e de uma determinada concepção de serviço social. O instrumental é sempre aplicado com um sentido possibilitando conduzir o trabalho profissional para novas descobertas, para uma reflexão crítica, por constituir-se aparato mediador do fazer e do ser. Portanto, o instrumental implica na condução da prática, iluminada por um projeto ético-político profissional, na direção da defesa de um projeto ético-político societário.
Instrumental e projeto ético-político
O serviço social, enquanto especialidade de trabalho, integra um projeto de sociedade que determina o projeto ético político da profissão. (BONETTI 1996). Este projeto é, também, um processo em contínuos desdobramentos e que tem em seu núcleo o reconhecimento da liberdade e da justiça social como valores centrais, tendo como pressuposto a eqüidade e a democracia (BARROCO 1993).
Desses valores desenha-se a dimensão ética da profissão (CRESS 11a região 1999), fundada na liberdade concebida historicamente como possibilidades de criação e de escolhas dentre alternativas concretas, evidenciando compromisso com a autonomia, a emancipação e a plena expansão dos indivíduos sociais. Esta perspectiva ética vincula o serviço social a um projeto societário que propõe a construção de uma nova ordem social, sem dominação e/ou exploração de classe, etnia, gênero. A partir das escolhas que o fundam, tal projeto afirma a defesa intransigente dos direitos humanos e a recusa do arbítrio e dos preconceitos, contemplando o pluralismo com hegemonia do trabalho. Em sua dimensão política, o projeto se posiciona pela participação popular especialmente nos níveis de formulação de decisões, pela universalização tanto do acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais quanto da riqueza socialmente produzida.
Do ponto de vista estritamente profissional, o projeto implica no compromisso com a competência técnica, teórica e política que tem como base o aprimoramento intelectual do assistente social que se configura:
- Pela assunção de atitude investigativa na prática cotidiana (BATTINI, 1994), como expressão do inconformismo e da indignação permanente perante a barbárie social, promovendo crítica reiterada à realidade, impulsionando o profissional para a criação de novas explicações, indo além do limite dado;
- Pela prioridade de uma nova relação com os usuários dos serviços prestados pelo assistente social, por meio dos quais o profissional pinça as singularidades dos sujeitos com os quais trabalha e, reconstruindo relações, constrói as particularidades na direção da transformação social;
- Pelo compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população;
- Pela publicização dos recursos institucionais, como condição de democratização e universalização de direitos;
- Pela participação efetiva dos usuários no processo de formulação da decisão política e no controle dos serviços, programas e atividades realizados em espaços públicos e privados;
- Pela articulação e partilha de propostas e ações com segmentos de outras categorias profissionais e de movimentos sociais que se solidarizam com as lutas gerais dos trabalhadores (BARROCO 1995).
Como operar o projeto profissional assim configurado com competência teórico-prática? Uma das alternativas de busca de respostas pode ser focada na necessária e competente formulação de metodologia de trabalho.
Instrumental e metodologia de trabalho
A prática profissional do serviço social, que se quer crítica, implica em três dimensões:
a) dimensão teórico-metodológica substanciada 1) por uma teoria social de leitura e de explicação do real que tem impressa a dimensão ético-ideológica. O projeto ético-político da profissão de serviço social que se põe em defesa das lutas gerais dos trabalhadores, sustenta-se na teoria social de Marx; 2) por teorias intermediárias ou teorias da ação que explicam e elucidam a ação humana ( ex. Teoria do Cotidiano de Agnes Heller, Teoria do Poder de M. Foucault, Teoria do Interacionismo Simbólico de G. Habermas, Teoria da Complexidade Social de E. Morin, Teoria da comunicação Humana de A Touraine, etc. ), numa unidade teoria-prática de cujo movimento dialético resulta a reconstrução de categorias teórico-metodológicas na particularidade dos objetos de intervenção profissional dos assistentes sociais (BATTINI 1998);
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