A Produção do Espaço Urbano e Arquitetônico
Por: raulcardosojr • 15/5/2022 • Projeto de pesquisa • 1.983 Palavras (8 Páginas) • 102 Visualizações
Anexo 3
Modelo de Pré-Projeto de Pesquisa
Edital nº 02/2022
Processo Seletivo - Mestrado Acadêmico
Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo e Design
da Universidade Federal do Ceará (PPGAU+D-UFC)
PRÉ-PROJETO DE PESQUISA
Área de Concentração: Produção do Espaço Urbano e Arquitetônico.
Linha de Pesquisa: Teoria e História da Arquitetura, do Urbanismo e da Urbanização.
O BOM, O MAU E O NÃO FEITO: UMA HISTÓRIA DOS PROJETOS DAS PRAÇAS DE FORTALEZA QUE NÃO SAÍRAM DO PAPEL
Raul de Castro Cardoso Junior
INTRODUÇÃO
É possível definir a arquitetura, segundo Étienne-Louis Boullée (2005), não apenas como ciência, mas também como arte. A razão da distinção é deixar claro que existem duas dimensões: uma delas na construção em si, chamada de ciência, e que teria um papel secundário; a outra parte é aquela imagem que vem antes, uma produção do espírito, a arte. Nossos antepassados construíram suas cabanas somente após terem concebido sua imagem, pois a construção não é possível sem essa visão primária. Em síntese, a Arquitetura seria mais sobre o processo e o projeto em si, o que caracterizaria também os projetos per se, não construídos, como tal.
A história da arquitetura e do urbanismo é permeada pelos ideais trazidos por projetos utópicos que, longe das amarras do exequível, firmaram conceitos, metodologias e comportamentos. Basta citar as propostas urbanísticas do renascimento, da arquitetura moderna, e os projetos monumentais do próprio Boullée (LAGE, 2019). Os projetos que não saem do papel podem ser, seguindo essa linha de pensamento, não apenas artisticamente pertinentes, mas podem mostrar resoluções e evoluções que, em muitos casos, culminam em trabalhos construídos de grande valia. A história das cidades pode ser mais que aquela contada por seus limites, pontos nodais e marcos, mas também sua utopia.
Portanto, se nos é possível conhecer o conto narrado pela parcela planejada e construída por uma cidade para seus habitantes, que história podemos ouvir da parcela que permaneceu nas gavetas? É possível vislumbrar, indo além dos conceitos de um bom ou mau projeto, a narrativa que se encerra naqueles não feitos?
O trabalho aqui proposto deseja analisar os projetos das praças públicas que não foram construídos e, realizando essa exploração dentro de um contexto local, define o recorte dentre aqueles realizados pela Prefeitura de Fortaleza na história recente. Para que se enquadre nesse recorte temporal, a pesquisa estende-se entre os anos de 1980 e 2020, desde as últimas gestões indicadas durante o Regime Militar até a última gestão já finalizada. Além disso, os projetos escolhidos devem ter sido substituídos por uma outra versão, construída em seu lugar, de modo a tornar possível a comparação dos programas e propostas entre os dois projetos. Ainda assim, considerando que a quantidade de objetos de análise seja ainda muito extensa, um recorte mais fino se dará considerando aqueles com maior relevância a nível de cidade.
JUSTIFICATIVA
Problemática
Em julho de 2009 o Cirque du Soleil deixou Fortaleza, e a sua partida evidenciou uma questão sobre o local onde havia se instalado na capital: A Praça 31 de Março, com projeto original de 1977, já não atendia aos seus objetivos como espaço público e, como disse Jane Jacobs (2011, p. XXX), não tinha mais “a dádiva da vida e da aprovação conferida a eles”. Dessa forma, após pedidos da população através do Orçamento Participativo, a municipalidade anunciou um projeto para o local em 2011, sendo realizado por arquitetos contratados, e rebatizou o espaço como Praça do Futuro (OLIVEIRA, 2011). A nova estrutura foi entregue a seus usuários em Julho de 2015. Assim como aconteceu ao evento que deu o nome para o local nos anos 70, ao projeto, à estrutura erigida à época, ao projeto de 2011 e ao seu correspondente construído, entraram todos para a prateleira de História de Fortaleza, na seção de Arquitetura.
Contudo o que também deveria estar na mesma prateleira, e a seção está claramente incompleta sem isso, era a informação de que os arquitetos da Prefeitura realizaram um projeto anterior e que esse, originalmente, foi o responsável pela elaboração do programa e a renomeação (LIMA, 2018).
Tendo este pesquisador participado da equipe que elaborou o projeto não construído para a praça e acompanhado todo o processo até o anúncio da segunda proposta, surgiu aí o questionamento sobre as demais ocasiões em que o mesmo evento ocorreu e como a exposição dessas propostas arquivadas poderia ser importante para a compreensão da cidade construída.
Aderência à Linha de Pesquisa
Esta pesquisa se enquadra no contexto da História Local, entendido em oposição ao conceito de Globalização, pois é justamente face à mão unificadora da Aldeia Global que o local ganha importância (SILVA, 2003). Ora, se como nos disse Protágoras “o homem é a medida de todas as coisas” (SANTOS, 2017), o macromundo só existe como o conjunto de vários micros. Dessa forma, no caso da história, a história mundial pode ser entendida como as histórias das nações, e a história dessas, como a de suas partes menores, e assim por diante. Fortaleza, portanto, entendida como dimensão local segundo a mesma definição, é parte da história nacional, mundial e humana, e a arquitetura e o urbanismo da cidade são partes integrantes desta narrativa.
Referencial Teórico
A pesquisa pretende, para além de uma enumeração de projetos, um exame da literatura existente sobre os processos históricos que culminaram no urbanismo contemporâneo, tanto a nível global como local, de modo a identificar o contexto em que essas propostas foram elaboradas.
Como ponto de partida para uma contextualização histórica no âmbito do urbanismo, presta-se a leitura de obras como as de Mumford (2001), Benévolo (2019), Secchi (2000), Rossi (2001) , Choay (2011), Calabi (2012) e Hall (2016). Além desses, para uma abordagem em âmbito nacional, a pesquisa se propõe ainda à leitura de Serpa (2007), Gomes (2009) e Maricato (2000). Para
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