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A Teoria da Justificação do Sistema

Por:   •  9/6/2022  •  Trabalho acadêmico  •  5.783 Palavras (24 Páginas)  •  230 Visualizações

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Teoria da Justificação do Sistema

Silva, R.A (2020)

Jost e Banaji (1994) ressaltam que o conceito de justificação desempenha relevante papel na teorização da psicologia social, servindo de base para diferentes estudos e colaborando para a compreensão de diversos fenômenos. Citam, como exemplo, diversos autores de áreas distintas (Freud, Lerner, FestingerWicklund e Brehm), que de forma direta ou indireta, postularam em suas teorias que as pessoas sempre tentarão justificar o atual estado das coisas e o contexto em que estão inseridas.

Pesquisas empíricas comprovaram que as pessoas buscam explicações ou justificativas para eventos sociais, seus próprios pensamentos, sentimentos, comportamentos, para comportamentos agressivos ou discriminatórios, de classe ou nível social dos outros, de sua própria posição ou condição social, para atos agressivos ou discriminatórios de outros membros do grupo, e para as diferenças sociais, dentre outros. Estas explicações fazem com que os indivíduos se acomodem e permaneçam numa situação de privação de bens materiais e inexistência das condições mínimas necessárias para a sobrevivência e, até mesmo, desenvolvam necessidades que colaborarem para a perpetuação da injustiça, da miséria e da agressividade (Jost & Banaji, 1994).

Jost et al. (2011) ressaltam que ”sistema” é um termo reconhecidamente vago, e que o seu uso é proposital, com a intenção de permitir a inclusão de uma grande variedade de casos, dentre eles, arranjos sociais como aqueles encontrados em famílias, instituições, organizações, grupos sociais, governos, etc. Assim, justificativa sistêmica refere-se ao processo psicológico pelo qual as condições prevalecentes, sejam elas sociais, políticas, econômicas, sexuais ou legais, são aceitas, explicadas e justificadas simplesmente porque existem.

A justificação do sistema é um processo psicológico que legitima os arranjos sociais existentes às custas dos interesses individuais e do grupo. A psicologia social experimental fornece evidências de que os indivíduos geram crenças sobre si mesmos e estereótipos sobre grupos sociais de modo a justificar as situações existentes. É importante destacar que este processo, quase sempre, é de natureza inconsciente, o que possibilita que o indivíduo adote ideologias e seja influenciado por elas sem perceber e/ou pensar criticamente sobre isto (Jost, et al. 2010; Dirilen-Gumus, 2011;Blasi & Jost; 2006; Kay & Friesen, 2011).

Além da justificação do ego, que se dá por meio de estereótipos utilizados para proteger a posição e os comportamentos individuais, e da justificação de grupo, em que os estereótipos são utilizados para validar a postura e os comportamentos do grupo, há a justificação do sistema, que é um processo pelo qual os indivíduos adotam crenças e ideologias que legitimam o ordenamento social, validando a estrutura social e econômica, mesmo quando essa postura é conflitante com seus interesses pessoais e grupais (Jost et al. 2005). Isso significa que os indivíduos defendem ativamente e, até mesmo, reforçam os arranjos sociais existentes, em muitos casos, negando ou racionalizando injustiças e outros problemas, ainda que para tanto tenham que ir de encontro aos interesses pessoais e grupais (Van der Toorn e Just, 2014).

A teoria da justificação do sistema tem como principais objetivos compreender como e porque as pessoas apoiam o status quo1, mesmo quando este apoio entra em conflito com os seus interesses pessoais e grupais, e analisar os antecedentes sociais e psicológicos e as consequências deste apoio, especialmente para as pessoas que fazem parte de grupos desfavorecidos socialmente (Jost & Hunyady, 2005; Sengupta et. al 2017). A teoria refere-se ao processo psicológico responsável pela preservação do ordenamento social existente, a despeito dos evidentes prejuízos psicológicos e materiais que eles causam para os indivíduos e grupos desfavorecidos (Jost et al. 2003). Ao invés de levantar questionamentos sobre a organização ou a legitimidade do sistema que produziu determinado arranjo ou resultado, é comum as pessoas atribuírem a si mesmas e a outros traços, consonantes com sua posição social, seja positiva ou não, a explicação para a configuração das coisas.

Observa-se uma tendência que os sujeitos justifiquem o sistema mesmo quando estão cientes de que os arranjos ou resultados foram alcançados arbitrariamente e resultam em consequências negativas para eles (Jost e Hunyady, 2005). Além dessa justificação que acontece a nível individual ou grupal, é necessário destacar a existência de ideologias que são consideradas como ideologias justificadoras do sistema, como por exemplo, a ideologia do mercado justo, ideologia da meritocracia, justificação do sistema econômico, oposição à igualdade, ética do trabalho protestante, crença em um mundo justo, crença na mobilidade individual e social, conservadorismo político (Jost & Hunyady, 2005). Apesar das diferenças e do fato de algumas se deterem somente a questões sociais e culturais, e outras estarem voltadas para o sistema econômico, essas ideologias possuem a mesma função, ou seja, legitimar os arranjos sociais existentes (Dirilen-Gumus, 2011).

A teoria da justificação social é de grande importância para a psicologia social, pois aponta para a existência de fenômenos psicológicos que, de certo modo, validam as mazelas sociais. Isso possibilita uma análise dos problemas sociais e, mais especificamente, uma análise dos processos envolvidos na justificação do sistema, além de uma análise dos aspectos subjetivos a nível individual e grupal, fugindo das tradicionais generalizações da assimetria nas relações de poder, que embora importantes e legítimas, não dão o devido valor aos processos psicológicos envolvidos nessas relações.

Neste sentido, filósofos e teóricos sociais afirmaram que a inexistência de rebeldia se devia meramente a aceitação passiva do poder e/ou das ideologias das elites dominantes, e raramente se considerou a possibilidade de os indivíduos de todos os segmentos da sociedade serem, de algum modo, compelidos– por razões psicológicas – a legitimar o contexto social em que estão inseridos e do qual dependem (Van der Toorn& Just, 2014). Desse modo, a teoria da justificação do sistema aborda essa lacuna existente na teoria e propõe a existência de um motivo geral por parte dos indivíduos para manter a imparcialidade e a legitimidade do status quo.

Graças à teoria da justificação do sistema, verifica-se que membros de grupos desfavorecidos, às vezes, compartilham da justificação do status quo e se acabam se tornando,

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