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As Mulheres na Arquitetura

Por:   •  21/5/2023  •  Ensaio  •  1.939 Palavras (8 Páginas)  •  71 Visualizações

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MULHERES NA ARQUITETURA:

A DESCONSTRUÇÃO DE UM ESPAÇO SEXISTA E HEGEMÔNICO

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia – Campus Barreiras

Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo

Ana Beatriz Bonfim (anabeatrizboonfim@gmail.com)

Bruna Ribeiro Cordeiro (brunaribeirocordeiro@hotmail.com)

Larissa Nogueira dos Santos (lala6nogueira@gmail.com)

Marina Ramos de Almeida (ramosmarina173@gmail.com)

Rebeca Alves Pereira (rebecaapereira54@gmail.com)

Introdução

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Figura 1 - Fonte: Archdaily

Inseridas em uma sociedade permeada de relações de poder e supremacia masculina, quais são os espaços ocupados pelas mulheres no âmbito profissional e na construção do conhecimento? Como saber o papel delas num contexto em que os discursos, documentos políticos e fontes literárias, por exemplo, foram escritos por e para homens?

Platão, filósofo grego, afirmou em seu livro “A República” que a relação de homem para mulher é, por natureza, uma relação de superior para inferior, respectivamente. Por muito tempo esse foi, e continua sendo, o pensamento chave para a construção de uma sociedade sexista e patriarcal, apoiado sobretudo no determinismo biológico. Essa corrente de pensamento utiliza argumentos biologizantes que desqualificam o sexo feminino, principalmente no campo cognitivo e de relações comportamentais, e sustenta a ideia de que cabe à mulher somente as funções reprodutivas, do lar e do recato.

Para de Simone de Beauvoir “A representação do mundo, como o próprio mundo, é operação dos homens; eles o descrevem do ponto de vista que lhes é peculiar e que confundem com a verdade absoluta”. Isso se evidencia quando nos livros de história, nas grandes premiações, nas teorias cientificas, obras e cargos importantes são os homens que ocupam os lugares de prestígio, sendo as mulheres, em sua maioria, excluídas e invisibilizadas em favor da masculinidade hegemônica.

Mesmo com alguns avanços já conquistados, as marcas dessa ideologia sexista e patriarcal ainda persistem e são refletidas principalmente no que tange à inserção feminina no mercado de trabalho. Sendo assim, buscaremos discutir ao decorrer deste ensaio a respeito da complexa sobreposição de gênero que dificulta a carreira profissional e faz da prática arquitetônica, em específico, um espaço desigual.

1. Sexismo nas profissões

Após a chegada do período industrial surge a necessidade de dar à mulher algum nível de instrução, sem abandonar, porém, a educação doméstica. Nessa realidade ainda não há o desejo de instruir, de maneira igualitária, mulheres e homens, nem promover uma simetria dos papéis sociais dos dois sexos (SAFFIOTTI, 1979. p.190).

Mesmo diante dessa revolução, época na qual houveram dispersas mudanças positivas, a sociedade patriarcal continuou sendo uma realidade. Contudo, com o passar dos anos, o mundo se dividiu nas atividades trabalhistas e domésticas. Nesse período se incorporou o trabalho da mulher na fábrica e separou o trabalho doméstico do remunerado fora do lar. E assim, a imagem feminina finalmente foi inserida no mercado trabalho. 

Após esse acontecimento, a mulher passou a ter uma dupla jornada de trabalho. Cabia somente a ela cuidar da prole, das tarefas domésticas e também da remuneração que o trabalho a proporcionou, porém, seu salário sempre foi menor comparado ao do homem. Com a permanência da imagem feminina como inferior, a luta pela democratização das relações de gênero continuou, e com a Constituição Federal de 1988, houve uma igualdade jurídica entre os sexos. O homem deixou de ser o chefe da família, e a mulher passou a ser considerada um ser tão capaz quanto a figura masculina. 

No entanto, há controvérsias. Pensamentos preconceituosos e discriminações que se baseiam no machismo, perduram na contemporaneidade dentro do âmbito do trabalho. Tais acontecimentos corroboram com o surgimento de injustiças e abusos, como as diferenças salariais para profissionais da mesma área, obstáculos para ser promovido a um cargo melhor e assédio moral e sexual. Esses fatos arraigados no inconsciente coletivo e na cultura patriarcal da sociedade são manifestações do sexismo no ambiente do trabalho.

No que se refere a entrada e atuação feminina na profissão de arquitetura e urbanismo, essa se deu de maneira ainda submissa à vida doméstica, uma vez que a produção delas se iniciou no formato impresso por ser visto como apropriado para o gênero. Isso porque era viável a escrita no ambiente domiciliar, por ser um espaço que dificultava a disputa entre arquitetos (dominavam a área da construção) e arquitetas. Além de que, por serem responsáveis pelo lar, as mulheres tinham conhecimentos acerca do ambiente sendo capazes de contribuir na elaboração de residências funcionais (Ana Gabriela Lima apud LIMA, 2016).

2. O paradoxo da presença feminina no meio arquitetônico

Para a arquiteta Beatriz Colomina (2010), as mulheres são os fantasmas da arquitetura moderna, sempre presentes, cruciais, mas estranhamente invisíveis. Ao longo da história, a figura feminina vem sendo excluída ou apresenta papéis secundários nos reconhecimentos e trabalhos propostos no universo da construção civil. A arquitetura tem apoiado seu reconhecimento e prestígio na vida dos grandes mestres - homens brancos - e nas suas obras, como o referencial a ser seguido.

 Um levantamento realizado pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR) em 2019 sobre a presença da mulher na arquitetura e no urbanismo, comprova esse paradoxo. Conforme os dados, entre os profissionais ativos e registrados dentro do conselho, cerca de 63% são arquitetas, o mesmo ocorre dentro das universidades com 67% sendo alunas. No entanto, esses números se invertem quando se trata das premiações e representatividade, já que somente 15% dos prêmios nacionais de projeto foram concedidos a equipes lideradas por mulheres, assim como apenas 17% dos membros do conselho diretor federal não são homens. 

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Figura 2 e 3 - Fonte: CAU/BR      

A famosa escola de design e artes, a Bauhaus, fundada em 1919, propôs um sistema de pedagogia idealizado como algo inovador e um lugar aberto a "qualquer pessoa de boa reputação, independentemente da idade ou do sexo" (ESPEGEL, 2007, p. 82). Sendo assim, as alunas poderiam escolher livremente qualquer oficina ofertada dentro dos estatutos da Bauhaus. No entanto, a realidade era diferente. Carmen Espegel (2007) esclarece que a política interna da Bauhaus a respeito das relações tanto de professoras quanto de alunas, era bastante tradicional e convencional. Apesar de terem que pagar taxas mais altas, após o curso introdutório eram encaminhadas para aulas de encadernação e poesia, tendo o acesso negado às aulas de arquitetura.

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