As influências do Neoclassicismo na Arquitetura Brasileira a partir da Missão Francesa - Zilsa Maria Pinto Santiago
Por: nayra priscila • 25/9/2022 • Resenha • 1.931 Palavras (8 Páginas) • 140 Visualizações
Curso de Graduação em Arquitetura e Urbanismo[pic 1][pic 2]
Campus Águas Claras
RESENHA - Texto 01
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As influências do Neoclassicismo na Arquitetura Brasileira a partir da Missão Francesa - Zilsa Maria Pinto Santiago | ||
O texto é uma parte integrante da pesquisa de doutorado da autora, que discorre sobre arquitetura escolar inserida na História da Educação integrando a abordagem que vem crescendo nos últimos anos sobre a cultura material escolar. O foco da pesquisa está voltado para o estudo das escolas construídas na década 1920, que também irá abordar o contexto nacional da Educação e da Arquitetura nos finais do século XIX e início do século XX no Brasil. A arquitetura brasileira sofreu influência Europeia, com a vinda em 1816 de artistas, arquitetos e engenheiros a convite de Dom João VI com a chamada Missão artística Francesa. A introdução das tendências neoclassicistas na concepção dos edifícios na época, se deu principalmente por que esses profissionais estrangeiros e oriundos dessa referida missão francesa, tinham sua formação classicista. Segundo a autora GRadjean de Montigny foi considerado historicamente o primeiro titular da cadeira de Arquitetura na Escola Belas Artes no Rio de Janeiro. A Modernização das Cidades Brasileiras Nesse período de construção da identidade nacional brasileira no período de modernização das cidades, a autora levanta alguns registros históricos que apresentam os profissionais da medicina, engenharia e educação como propulsores do processo de modernização da sociedade brasileira – “missionários do progresso”. Embora de cunho científico, por serem profissionais da medicina, engenharia e educação, esse discurso está associado ao poder, concebido como uma peça dramática que persiste e se dá em todas as sociedades. Mourão lembra que Balandier demonstra a semelhança dos mecanismos de poder nas diferentes civilizações, contrastando com o espaço e o tempo, visto que o drama ou “teatrocracia”, como ele chamou, está por trás de todas as formas de organização da sociedade e de organização das forças. Sobrepondo o saber técnico-científico, esses profissionais se auto reconheciam como os mais adequados para a reordenação social e viabilização do progresso. A cidade é considerada um “laboratório privilegiado” pelo aproveitamento das múltiplas potencialidades da sua atividade criativa, tanto ao nível dos novos conhecimentos do mundo em que vive como sobretudo na capacidade de intervir, controlar e modificar a partir da sua vontade (Kropf in Herschmann, Kropf e nunes). Esses eventos levantam ainda mais questões de organização de eventos urbanos, nos quais técnico e higienistas são os precursores das políticas e legislações urbanas atuais. No Brasil, não é diferente da Europa, mas ocorre no final do século XIX e no início do século XX. A autora acrescenta que, Sousa discorda do fato de a linguagem neoclássica ter sido introduzida no Brasil por Montigny e questiona esse problema. Como a formação dos arquitetos veio para o Brasil pela Academia Imperial de Belas Artes do Rio de Janeiro, a maioria dos profissionais que trabalhavam no projeto de edifícios eram engenheiros ou arquitetos estrangeiros com formação no classicismo. Nesse período do século XIX, a influência francesa foi relevante não só no desenho das edificações, mas também nos processos de "modernização" de cidades como as obras de Haussmann em Paris, proporcionando essa novidade com a abertura de grandes edifícios, ruas. O poder continua a funcionar para neutralizar ansiedades e medos. No entanto, nem todos os planos encontram todas as condições favoráveis para o pleno sucesso das intervenções urbanas e, eventualmente, em parte, incompletas, "velhas cidades" que devastam irreversivelmente. No Brasil, notadamente no Rio de Janeiro, grande foi esta influência francesa no governo de Francisco Pereira Passos, prefeito de 1902 a 1906, que com novas obras, demoliu o cenário “colonial” pois eram consideradas como retrógadas, demolindo assim, parte dos centros antigos para abrir largas avenidas. Essas mudanças foram consideradas na época bastante radicais pela alteração trazida da fisionomia da cidade, sendo, no entanto, justificadas por princípios que Kropf julga fundamentais, que são princípios de ordenamento da cidade, na busca de um desenho físico e simbólico, sintetizado em quatro ideias básicas: retilinidade, uniformidade, proporcionalidade e visibilidade. As Influências Neoclassicistas na concepção da Arquitetura Brasileira No texto a autora cita Pereira que diz grande parte da arquitetura brasileira no sec. XIX tende a um reducionismo. O barroco predominaria na Colônia, o neoclassicismo no Império e o ecletismo na Primeira República. Estes esquemas redutores sobrevivem nesta historiografia tradicional, apoiados numa metodologia que está fundamentada basicamente na “pinçagem” de alguns fatos históricos relevantes, tais como a chegada da Missão Francesa e a abertura da Academia de Belas Artes no Rio de Janeiro. (apud Pereira). Afirma ainda que sido um desafio para os historiadores da arte e da arquitetura entender essa diversidade estilística da arquitetura do século XIX, tanto na Europa quanto no Brasil. A abertura para cultura europeia e francesa no Brasil se deu naturalmente, uma vez que a população da elite brasileira, de um modo geral, aspira aos valores culturais europeus e às noções vigentes de modernidade e de civilização, manifestadas nos costumes, nas artes, na moda, com destaque para a arquitetura. A autora também traz a visão de Bruand que afirma que o Brasil mesmo rotulando “neoclássicos” todos os edifícios tinham um vocábulo arquitetônico com origem gre-romana, sendo assim uma forma de ecletismo e considera que o neoclássico verdadeiramente foi introduzido no Brasil com a vinda da referida Missão Artística Francesa. Para Sousa, a linguagem neoclássica não teria sido introduzida no Brasil por Montigny, pois argumenta que sua influência teria sido no âmbito regional e quando se trata da produção arquitetônica no mesmo período no Recife, por exemplo, o nome do engenheiro Louis Vauthier é lembrado. Para esse autor em outros estados, especialmente no nordeste brasileiro, pouco se teve influência da missão francesa e da Academia Imperial de Belas artes do rio. O autor faz, portanto, uma divisão periódica em que considera três momentos: primeiro, as obras provenientes de concepções neoclássicas europeias; segundo, as de tendências de elementos classicistas, mas de caráter brasileiro e, terceiro, a produção classicista Imperial, cuja contribuição pernambucana é de valor não inferior a que se tem visto no Rio de Janeiro. As construções neoclássicas apresentavam uma repetição de fórmulas, como por exemplo: marcação de um pórtico com frontão e colunas no eixo da fachada principal; geralmente este elemento projetava-se, com maior ou menor intensidade, do resto da edificação e continha colunas colossais ou colunas assentadas, acima do pavimento térreo, sobre embasamento em arcada. Bastante difundido foi também o partido de se lançar, nas fachadas, segmentos (ou mesmo a totalidade) do peristilo do templo greco-latino; foram utilizados tanto os segmentos dotados de frontão quanto aqueles deste desprovidos e muitas vezes chegou-se a reproduzir integralmente, ou quase, a configuração externa daquele edifício. Uma outra solução freqüente foi o emprego da cúpula coroando a composição, quase sempre concebida tendo como inspiração a cúpula do Panteão romano (de perfil exterior pouco pronunciado) ou os modelos renascentistas (Sousa. 1994: 27). A partir daí se difundiria pelo país até 1880, uma nova arquitetura de natureza classicista, mas uma interpretação própria, brasileira e miscigenada do grande movimento classicista que dominou a arquitetura ocidental. A autora traz a visão de Reis Filho (1976) onde afirma que, de uma maneira ou de outra, as características do Neoclassicismo estiveram presentes no Brasil por todo o século XIX, depois da independência do país, a arquitetura da época firmou-se em duas versões: o neoclássico oficial, da Côrte, em sua maioria feito de importações e a versão provinciana, simplificada, feita por escravos, exteriorizando apenas por detalhes. Fazendo uma comparação de ideias tanto Bruand como Sousa apresentam, de uma certa forma uma aparente harmonia de pensamento, mesmo que de ângulos diferentes quando ambos consideram que não se devia denominar neoclássica, pois já estava fora do intervalo de tempo que caracterizou este movimento na Europa, e sim uma espécie de eclética. Processo de Transformações Urbanas e Importação de Valores Europeus: o exemplo da Cidade de Fortaleza no Estado do Ceará A maneira que o Brasil encontra de se inserir neste cenário europeu é incorporando os padrões importados daquele país. Segundo o mesmo autor, no afã de incorporar o País nos padrões arquitetônicos e urbanos de cunho europeu, desenvolve-se uma campanha permanente em favor do progresso e da civilização, que toma a França como parâmetro superior. (Castro in Fabris. 1987: 213). O Brasil, ciente de sua posição inferior, aliada as aspirações de mudanças do novo regime republicano, de aderir às ideias e propostas procedentes dos países em nível mais civilizados (Castro in Fabris. 1987:214-215). No Ceará não foi diferente. Nobre considera que havia uma ligação forte do Ceará com a Inglaterra pelas relações comerciais, deixando em segundo plano a influência francesa. No Ceará a influência cultural da França era limitada aos conhecimentos científicos de alguns poucos frequentadores de escolas superiores. A visualização de tal influência na cidade de Fortaleza3 pode ser observada no refinamento dos costumes, na moda, na vida social, na preferência por escolas de literatura e arte, até nos termos usados pelo segmento letrado da população. Esta ebulição de fatos e de busca de um perfil civilizado, conduz a uma necessidade de mudanças urbanas, a valorização da cidade como vitrine da civilização. A autora cita: Castro (1987) “exigindo a modificação dos espaços urbanos, incentiva o surgimento de novas formas que permitissem o conforto ou que favorecessem a exibição das classes dominantes. Seriam, portanto, fatos consequentes tanto a transposição da vida social de uma Europa belle époque como a importação.” A “modernização” da cidade de Fortaleza no começo do século XX, se dava pelo aformoseamento da cidade com constituição de ajardinamento de praças e da aparência urbana. Além dos pontos estéticos, foi criado o Código de Postura de 1835 que faz recomendações em termos iniciais para o alinhamento das ruas da cidade, exigindo pela primeira vez a presença de um "arruador público" nomeado pela Câmara a fim de alinhar as novas edificações a serem construídas na capital. No Código de Posturas de 1893, já havia determinações de adoção de padronização formal nas platibandas, obrigatórias nas fachadas de frente, bem como nos vãos de portas e janelas externas. É, no entanto, no começo do século XX que vamos encontrar uma realização mais efetiva das “ações ordenadoras” urbanas. O Aformoseamento da Cidade de Fortaleza Segundo a autora foi nesse período que existiu certa harmonia no conjunto urbano, embora de feição eclética, é bem lembrado na literatura. Fazendo um diálogo com o contexto urbano e a arquitetura dominante na cidade, encontramos o triunfo do capitalismo emanado principalmente da França, espalhando-se pela Europa e por todos os países envolvidos pelo processo de ocidentalização, atingindo inclusive o Brasil, cuja belle époque duraria até a Revolução de 1930. Para a autora o marco inicial da modernização urbana foi a elaboração da planta topográfica da cidade de Fortaleza realizada pelo engenheiro Adolfo Herbster em 1875, que segundo ela foi inspirado nas realizações de Paris de Haussmann. Herbster estabeleceu o alinhamento de ruas segundo um traçado em xadrez, de forma a disciplinar a expansão da cidade. Onde apresenta as vias circundantes, chamados boulevards: Boulevard do Imperador, do Livramento e da Conceição. A partir de 1880, a cidade ganhou serviços e equipamentos urbanos, como o transporte coletivo por meio de bondes com tração animal, serviço telefônico, caixas postais, o cabo submarino para a Europa, a construção do primeiro pavimento do Passeio Público. Fortaleza na virada do século precisou passar por medidas de higienização social, de saneamento ambiental, além de executar um planto de reformas urbano com a implantação de jardins, cafés, coretos e monumentos, e a construção de edifícios seguindo padrões estéticos europeus. Os primeiros automóveis circularam em 1910, e a implantação de bondes elétricos e a circulação de ônibus e caminhões. | ||
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