COMPLEXO DO VER-O-PESO INSERIDO NO DEBATE: A INTERVENÇÃO ARQUITETÔNICA EM CENÁRIOS HISTÓRICOS
Por: Marana Almeida • 7/9/2017 • Artigo • 2.453 Palavras (10 Páginas) • 329 Visualizações
COMPLEXO DO VER-O-PESO INSERIDO NO DEBATE: A INTERVENÇÃO ARQUITETÔNICA EM CENÁRIOS HISTÓRICOS
Juliana de Aquino ¹
Universidade Federal do Pará, Belém, PA, Brasil, julianaaaquino@outlook.com
Marana Almeida Barbosa ²
Universidade Federal do Pará, Belém, PA, Brasil, marana.almeida.b@gmail.com
Resumo
A arquitetura como tipo de linguagem visual fala muito sobre o desenvolvimento cultural, político e social de uma cidade. Em centros urbanos, como Belém, elementos arquitetônicos mais “antigos” acabam coexistindo com elementos do contemporâneo, ocasionando tanto a comunicação dos estilos arquitetônicos entre si, quanto a comunicação visual urbana destes para com os habitantes locais e turistas. Há um desafio muito presente na realidade atual de se projetar em meio a espaços de memória, devido a existência desta comunicação urbana que não pode ser ignorada. Este artigo visa analisar de que forma a integração estilística no Complexo do Ver-o-Peso se encaixa no antigo debate sobre a comunicação visual arquitetônica e o respeito ao patrimônio.
Palavras-chave: Intervenção arquitetônica. Centros históricos. Ver-o-Peso. Patrimônio histórico. Arquitetura contemporânea.
Abstract
Architecture as a type of visual language speaks a lot about the cultural, political and social development of a city. In urban centers, such as Belém, "older" architectural elements coexist with elements of the contemporary, causing both the communication of architectural styles and urban visual communication with the local inhabitants and tourists. There is a very present challenge in the current reality of projecting into spaces of memory, due to the existence of this urban communication that can not be ignored. This article aims to analyze stylistically the architectural components: Estação das Docas and the free fair, inside the context of Complexo do Ver-o-Peso in Historical Center of Belém of Pará, and how its stylistic integration fits into the an old debate about architectural visual communication and heritage respect.
Keywords: Architectural intervention. Historical centers. Ver-o-Peso. Historical heritage. Contemporary architecture.
Introdução
Belém, como qualquer outra cidade, é materialmente composta por uma grande diversidade de extratos de tempo, visíveis em seus espaços públicos e edificações. Estes passam por processos lentos, porém acumulativos, de modificações ao longo do tempo, e chegam na atualidade coexistindo com a arquitetura contemporânea. Cada um desses edifícios é avaliado conforme sua representatividade na identidade de memória do lugar de onde se apresenta, de forma que seja proposta a forma mais adequada para sua manutenção enquanto patrimônio.
Cada obra arquitetônica possui uma particularidade em sua constituição física, história e artística, e está inserida num ambiente de cultura próprio e singular. Essa determinada obra, possuindo caráter de monumento, necessita de atenção e controle com relação as ações de intervenção, que caracterizariam o diálogo entre o “novo” e o “antigo”, o original e as intervenções.
A relação entre o antigo e o novo leva a esta discussão sobre preservação e intervenção, onde “preservação” se ocupa de manter a integridade do monumento, enquanto a “mudança” é instigada pelo passar do tempo, sendo este a causa maior e referencia principal para o debate: o arco temporal justifica o surgimento do “novo”, que divide a continuidade da atuação da vida nas cidades.
A conservação histórica tem sua essência na procura do ponto de equilíbrio do que preservar ou esquecer; levando em conta os novos contextos espaço-temporais que os monumentos perpassam. Com um monumento inserido em uma nova função temporal, a intervenção feita deve se enquadrar tanto nas expectativas do tempo presente quanto dentro do contexto arquitetônico original da obra, levando em conta valores históricos, artísticos e espirituais. Nesse sentido a intervenção em centros históricos é a intervenção na preexistência histórica, baseada, contudo, na admissão de suas significâncias, e a transmissão destas para as futuras gerações.
No Brasil, somente a partir do final dos anos 70 a preservação de bens culturais começou a ser pensada e praticada de modo efetivo e abrangente. Antes disso os únicos bens tombados eram os edifícios considerados de grande valor histórico, datados do período colonial brasileiro. Com isto, a cidade viu desaparecer um grande acervo arquitetônico, e outros bens culturais a ele agregados.
Já em Belém, o Centro Histórico (CHB), núcleo inicial da cidade, foi tombado em 1994 pelo poder público do município. Devido a essa legislação de proteção tardia, o local está hoje muito descaracterizado, já que ao longo do tempo, devido à falta de políticas de proteção, sofreu alterações advindas do progresso temporal, principalmente a partir de 1960 quando lá foram enquadradas edificações verticais e intervenções devido a atividade comercial.
O presente artigo usa da metodologia de revisão bibliográfica e tem por objetivo analisar a intervenção arquitetônica dentro do Complexo do Ver-o-Peso, mostrando o diálogo do “antigo” e do “novo” apresentado entre componentes do Centro Histórico de Belém; e inseri-los no antigo debate sobre a intervenção arquitetural em patrimônios edificados.
O “antigo” debate
Os edifícios contemporâneos que são erguidos em locais de cenários históricos são uma controversa para a Arquitetura, e acabam por alimentar um debate centenário que envolve estética e respeito ao patrimônio.
De acordo com Benévolo (2007), a Europa possui a mais antiga tradição em termo de conservação e restauro. Com a Comissão de Monumentos Históricos criada na França, a responsabilidade sob os monumentos históricos foi passada ao poder público em 1837, prática presente na realidade brasileira atual. De acordo com Choay (2001), esta legislação foi tida como referência em toda Europa, desencadeando a promulgação da primeira lei sobre monumentos históricos em 1887, que tomava sua forma definitiva em 1913 após algumas alterações.
Dentro do cenário francês intervencionista, a figura máxima a definir uma teoria de preservação foi Viollet-Le-Duc (1814 – 1879), que afirmava que restaurar um edifício é dar a ele um formato que pode ainda nunca ter existido. Em contrapartida, de caráter anti-intervencionista, surgem John Ruskin (1819 – 1900) e William Morris (1834 – 1896), que consideravam as marcas conferidas pelo tempo parte da essência do monumento, e que qualquer intervenção seria extremamente agressiva à sua história.
Direto de Viena, o juiz, filósofo e historiador Alois Riegl (1858 – 1905), trouxe a grande contribuição de atribuir aos monumentos arquitetônicos o caráter de objeto social e filosófico, sendo o primeiro a definir os mesmos a partir de seus valores históricos. Além de Riegl, Gustavo Giovannoni (1873 – 1943) também agregou valor museal aos monumentos, mas agora estes dentro de conjuntos urbanos, cidades históricas.
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