TrabalhosGratuitos.com - Trabalhos, Monografias, Artigos, Exames, Resumos de livros, Dissertações
Pesquisar

Contextualismo cultural nas obras de Rafael Moneo

Por:   •  15/7/2019  •  Trabalho acadêmico  •  1.625 Palavras (7 Páginas)  •  678 Visualizações

Página 1 de 7

CONTEXTUALISMO CULTURAL NAS OBRAS DE RAFEL MONEO

Introdução

O contextualismo cultural é uma tendência arquitetônica que busca na tradição e na cultura do lugar valores que orientam a produção arquitetônica tomando como ponto de partida as peculiaridades especificas do local e concedendo um importante peso à tradição histórica. De acordo com Montaner (2001) o contextualismo coloca a cultura do lugar no centro do processo projetual e pretende que a arquitetura volte a se situar entre os bens culturais do homem e esteja relacionada com a criação de lugares significativos.

Ele surge na década de setenta, em um momento de intensa crítica ao modernismo, principalmente ao Estilo Internacional cujos projetos eram pensados de forma independente e isolada. Se por um lado o contextualismo tem suas bases no passado – memória, história e tradição, e no presente – lugar, cultura e ambiente, o Estilo Internacional fundamenta-se no universal, na ausência de limites, particularidades ou identidades locais (Bronstein, 2012). Neste sentido, o contextualismo integra-se ao movimento pós-moderno como uma forma de crítica ao modernismo e aos seus preceitos que ignoram a tradição histórica da cidade ao fazer arquitetura.

Apesar de ter se desenvolvido no final do século XX, o contextualismo foi fortemente influenciado por teorias postuladas ainda na década de cinquenta por Ernesto Natham Rogers, defensor da adaptabilidade à tradição do local e das preexistências ambientais; Christian Norbeg-Shultz, que discute o papel do genius loci[1] na arquitetura e no conceito de lugar; e tem relação ainda com o regionalismo crítico de Kenneth Frampton. Através do desenvolvimento dessas ideias, o contexto existente passa a constituir o principal fator dentro de um novo pensamento sobre as cidades; e a arquitetura, como elemento urbano por excelência, é o meio com o qual a cidade poderia ser trabalhada a partir do seu viés histórico e cultural, oferecendo novas respostas frente a crise do urbanismo moderno (Montaner, 2001; Bronstein, 2012).

O arquiteto italiano Aldo Rossi foi um dos precursores do contextualismo cultural e graças as suas teorias e obras arquitetônicas, seus fundamentos se estenderam por todo o mundo. Assim, ao longo das décadas de oitenta e noventa, o tecido histórico das cidades funcionou como estrutura base para as mais diversas experimentações que privilegiavam, em diferentes graus, e a partir de distintas interpretações, os valores da história, da memória e da tradição formal da arquitetura. É interessante notar que apesar de não haver princípios norteadores como acontecia no modernismo, alguns recursos eram amplamente utilizados pelos arquitetos contextualistas, tais como o prolongamento de linhas identificadas nos prédios anexos, repetição da modulação de janelas e outras características dos prédios antigos, manutenção do gabarito, entre outros, a fim de adequar a arquitetura ao seu contexto (Montaner, 2001; Bronstein, 2012).

[1] Genius loci é um conceito romano, do latim, que significa Espírito do lugar. Segundo os gregos cada ser “independente” tinha o seu genius, o seu espírito-guardião, que dava vida às pessoas e aos lugares, os acompanhava desde o nascimento até a morte e determinava as suas características e essência.  

Por se tratar de uma tendência que busca na tradição histórica base para o processo projetual, o contextualismo cultural tornou-se mais expressivo no contexto europeu. O caso italiano é o mais claro com Aldo Rossi como seu precursor, mas também na Espanha é possível encontrar exemplos destacados dessa tendência nas obras de arquitetos como Rafael Moneo, Juan Navarro Baldeweg, Antonio Cruz e Antonio Ortiz, Esteve Bonell e Francesc Rius e Josep Fuses e Joan-Maria Viader; e em Portugal nas obras de Álvaro Siza e Eduardo Souto de Moura (Montaner, 2001).

Rafael Moneo

José Rafael Moneo é um arquiteto e teórico espanhol, nascido em Tudela em 1937. Ele se formou em arquitetura em 1961 pela Escola de Arquitetura da Universidade de Madri. Durante seus estudos, colaborou em vários projetos com arquiteto Francisco Javier Sáenz de Oiza, e após formado trabalhou durante um ano no escritório de Jørn Utzon na Dinamarca, no mesmo período em que o projeto da Ópera de Sydney estava sendo desenvolvido nesse escritório. Nesta mesma época viajou pela Escandinávia e conheceu Alvar Aalto. De volta a Madri, Moneo ganhou uma bolsa de estudos na Academia Espanhola em Roma, onde estudou por dois anos e teve contato com importantes arquitetos italianos como Paolo Portoghesi, Bruno Zevi e Manfredo Tafuri.

Durante sua trajetória como arquiteto, Moneo ganhou visibilidade internacional, projetou em diversas partes do mundo e lecionou em importante faculdades de arquitetura na Espanha, nos EUA, na Suiça, sendo inclusive nomeado chefe do departamento de arquitetura da escola de Design da Universidade de Havard. Ainda desenvolveu extenso trabalho como crítico e téorico da arquitetura e publicou o livro “Inquietação Teórica e Estratégia Projetual” em 2004, com bases nas aulas ministradas em Havard, onde faz uma reflexão crítica sobre a trajetória de oito célebres arquitetos – James Stirling, Venturi & Scott Brown, Aldo Rossi, Peter Eisenman, Álvaro Siza, Frank O. Gehry, Rem Koolhaas e Herzog & De Meuron – descrevendo seus projetos em profundidade. Além de ter recebido diversos prêmios e honrarias pela sua atuação como arquiteto e teórico, Moneo foi agraciado em 1996 com o Prêmio Pritzker de Arquitetura. Na atualidade, ele continua trabalhando como arquiteto e professor da Harvard, além de desenvolver um amplo trabalho como conferencista, crítico e teórico de arquitetura.

Sua “arquitetura contextualista” tem forte influência do trabalho de arquitetos organicistas como Oiza, Utzon e Aalto e se destaca pelo valor da história e das raízes que se reinterpretam gerando projetos plenamente contemporâneos com forte apelo pelas tradições históricas, fruto do debate intelectual dos italianos. O patrimônio, não somente cultural, mas pessoal, a memória, a nostalgia, são as bases das suas obras. (Montaner, 2001).

Em uma das suas primeiras obras, o Edifício Urumea (1970-1971), edifício residencial localizado às margens do rio Urumea em San Sebástian, Moneo em parceria com Marquet, Unzurrunzaga e Zulaica, utiliza-se de formas organicistas para criar uma tipologia que faz referência

...

Baixar como (para membros premium)  txt (10.7 Kb)   pdf (127 Kb)   docx (11.5 Kb)  
Continuar por mais 6 páginas »
Disponível apenas no TrabalhosGratuitos.com