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Fichamento Contexto do Desenho Urbano

Por:   •  21/4/2022  •  Trabalho acadêmico  •  10.212 Palavras (41 Páginas)  •  174 Visualizações

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                  O contexto do desenho urbano no Brasil

    O objetivo desta introdução é prover um entendimento básico sobre a evolução do desenho urbano no Brasil como prática profissional sistemática, do surgimento do modernismo aos nossos dias, com a ampliação da noção de intervenção urbana, passando pelo período militar e pelos períodos de redemocratização do país.  Além disso, como entendemos que a história do desenho urbano não pode ser dissociada de uma compreensão maior do quadro de desenvolvimento político, econômico e social, o presente texto também busca cobrir as principais correlações entre esses tópicos.

     Desde os primeiros esforços para criar uma nação avançada, desenvolvida e comprometida com o paradigma modernista, o Brasil avançou na busca pela democracia e pela equidade social por meio da construção da cidade. O desenho urbano contemporâneo brasileiro aceita o modernismo como um dos possíveis modelos para entender e atuar sobre a cidade, mas adota ainda outros modelos igualmente válidos. Do discurso rígido, positivista, reducionista e universal do movimento moderno ás mudanças fragmentadas, pluralistas e multifacetadas das sensibilidades que caracterizam o pós-modernismo, o desenho urbano contemporâneo brasileiro vem se recriando e permite a coexistência de lógicas territoriais múltiplas na busca por modos diversos de responder a demandas sociais e problemas urbanos. Esperamos contribuir para explicitar por que o desenho urbano contemporâneo brasileiro se tornou capaz de absorver perspectivas e possibilidades múltiplas, razão pela qual o percebemos como pós-moderno.

      O Plano Agache propunha um zoneamento rígido, cidades-satélites para as classes operárias, planos infra estruturais para toda a cidade, impressionantes embelezamentos urbanos e uma total renovação do centro para ser o portal do Brasil. Modernista no sentido de buscar uma cidade ideal em que as mudanças físicas conduziriam a mudanças sociais, o Plano Agache se tornaria vítima das intensas transformações políticas na década de 1930, que acabariam identificando-o com a República Velha, levando ao seu engavetamento, embora tenha sido mantido como referência dos trabalhos posteriores, Agache acabou estabelecendo escritório no Brasil e viria a fazer planos para outras cidades brasileiras, tais como Curitiba e Vitória, e empreendimentos urbanos, como o bairro paulista de Interlagos. Outro importante exemplo de urbanismo da época Vargas foi a construção da nova capital do estado de Goiás, em 1933. Goiânia representou um gesto de ruptura simbólica com as antigas oligarquias rurais e um Goiás arcaico e o estabelecimento de um novo centro para apoiar a ‘Marcha para o Oeste’’, política do governo Vargas. A modernidade do projeto original de Atílio Corrêa Lima - escolhido pelo interventor indicado para governar o estado - foi influenciada pela escola francesa de urbanismo.

       Englobando uma área de 1.000 hectares, o projeto previa uma população de 50.000 habitantes, cuidava da localização e composição arquitetônica dos prédios públicos e do centro administrativo (tendo Versailles como referência) com as sedes dos governos estadual e municipal, propunha zoneamento menos rígido do que pregavam os modernistas mais extremados e incluía uma cuidadosa hierarquização viária em estrutura aberta, conectando as avenidas a zonas de expansão. Enquanto isso, em 1930, São Paulo conhecia o Plano de Avenidas. influenciado pelas demandas da circulação viária moderna e pelo nascente planejamento de transportes americano, elaborado pelos engenheiros Francisco Prestes Maia e Ulhôa. Foi a primeira vez que a cidade de São Paulo era pensada como um todo, com projeto de organização espacial baseado num modelo ideal radiocêntrico, baseado em avenidas perimetrais e radiais.

       apesar da modernidade do plano com suas parkways ao longo do Rio Tietê e previsão de linhas de metrô, sua arquitetura ainda se inspirava nos estilos clássico ou renascentista monumentalizados. Prestes teria a chance de iniciar a implantação de seu plano quando prefeito nomeado de 1938 a 1945, durante praticamente todo o Estado Novo e, depois, corno perfeito eleito em 1961. As propostas viárias progressistas do Plano de Avenidas influenciaram o planejamento da cidade e diversas obras públicas durante muitos anos. Projetos similares foram elaborados em todo o país segundo o discurso positivista do modernismo, perseguindo a ideia de promoção do desenvolvimento, de disciplina social e de ordem por meio do desenho urbano. No Rio de Janeiro, por exemplo, Vargas se entusiasmou com a proposta de uma nova avenida monumental na área central - a atual Avenida Presidente Vargas -, que, com seus 60 metros de largura, destruiu 20 blocos da antiga morfologia colonial e quase mil edifícios residenciais, substituindo-os por torres comerciais de 22 pavimentos, coladas lado a lado, em ambos os lados da avenida. Interessante é que o projeto da Avenida Presidente Vargas retornou elementos do Plano Agache, como a galeria coberta para pedestres, as passagens em miolo de quadras e as áreas públicas internas das quadras. Além disso, durante o Estado Novo, departamentos de urbanismo foram criados nas principais cidades brasileiras, os primeiros códigos de zoneamento urbanos foram aprovados e muitos urbanistas foram nomeados prefeitos por Vargas.

       Tanto Vargas quanto a agenda política do Estado Novo reconheciam a importância do incentivo ao progresso nacional, da difusão dos valores da classe média e da educação do povo para obter apoio ao regime. O sistema educacional foi objeto de profundas reformas, incluindo-se a criação do Ministério da Educação e Saúde Pública em 1930, que se tornaria um forte instrumento na institucionalização da doutrina modernista. A educação superior foi expandida, com a criação da Universidade de São Paulo em 1934 e a reorganização da Universidade do Brasil (Universidade Federal do Rio de Janeiro) em 1938. Com o apoio do Estado Novo, um grupo de intelectuais capitaneados por Mário de Andrade, Rodrigo Mello Franco e Lucio Costa, interessados na preservação da memória brasileira, criou a primeira agência para a preservação histórica. em 1936. O SPHAN (Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. atual lPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) foi criado dentro da estrutura do Ministério da Educação e Saúde, demonstrando que a preservação histórica também poderia ser realizada a serviço do regime, no mínimo como meio de enfatizar a importância da modernidade. Por conta dos ideais modernistas do regime, em 1931, logo após a criação do Ministério da Educação e Saúde, o ministro nomeou Lucio Costa, então um jovem arquiteto modernista funcionário do ministério, diretor da Escola Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro, com a responsabilidade de reformá-la totalmente. Costa instituiu um curso "funcionalista" paralelo ao antigo currículo beaux arts e contratou arquitetos e urbanistas modernistas como professores, obtendo sucesso imediato entre os estudantes. ele também atraiu a oposição dos docentes antigos, que acabariam forçando a sua renúncia um ano depois, mas não antes de ter inspirado um importante grupo de estudantes - no qual se incluíam Oscar Niemeyer e Roberto Burle Marx-. que viriam a formar a primeira geração influente de arquitetos modernistas. As mudanças no currículo do Rio logo influenciariam as escolas de arquitetura de todo o Brasil, e Lucio Costa se tornaria a grande referência para a nascente arquitetura moderna brasileira. O modernismo também dominaria os debates do primeiro Congresso Brasileiro de Urbanismo em 1941 e logo seria institucionalizado como profissão específica através da criação do primeiro programa de pós-graduação em urbanismo na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Brasil (hoje FAU) no Rio de Janeiro, em 1945.

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