HABITAR E HABITATUS
Por: Vinícius Andrade • 4/9/2016 • Resenha • 686 Palavras (3 Páginas) • 738 Visualizações
RESENHA CRÍTICA TEXTO - HABITARE E HABITUS
No ensaio: “Habitare e Habitus – um ensaio sobre a dimensão ontológica do ato de habitar” de Adson Cristiano Bozzi Ramatis Lima, o autor expõe sua visão da essência do habitar e sua relação profunda com a arquitetura. Adson inicia o ensaio com a frase de Louis Khan: “Na natureza do espaço estão o espírito e a vontade de existir de uma certa maneira.”. O espaço assim como a língua segundo os teóricos gerativistas, teria capacidades inatas, que dependeriam de quem o habita para desempenhá-las. (HERTZBERGER, Herman, 1996). Essa ideia é reforçada por algumas vezes durante o texto e é bem interessante que seja observada, já que as competências que o espaço pode assumir devem de maior conhecimento do arquiteto quanto possível, para que o conceba de forma a desempenhar a função necessária dentre tantas possíveis O autor no ensaio reforça a ideia de que o espaço possui um talento inato, que lhe é descoberto pela seu uso.
O quanto o fator tempo influenciaria no ser do espaço? Adson levanta essa questão ao colocar em pauta se o domus romano, outrora habitável, seria habitável nos dias de hoje. Certamente que não. O uso do espaço depende de seu contexto político, econômico e histórico. Com as constantes mudanças da sociedade, se torna necessário que se mude o espaço para se adequar às novas necessidades. Quartos de empregada por exemplo, que têm entrado em grande desuso pelos custos cada vez mais altos de se manter uma empregada doméstica, por exemplo, acabam se transformando em escritórios, salas de TV, e em grande maioria das novas construções, nem existem. A sala exclusiva para o jantar, deixa de existir tendo em conta a menor permanência das pessoas fora de casa e o espaço urbano mais caro e disputado, e sua função passa a ser exercida na sala de estar.Com esses e outros exemplos do dia a dia, fica clara o quanto um espaço depende de seu contexto e pode se tornar vazio.
Porém ainda tendo como objeto de estudo o domus, se argui: Qual o porquê de serem ainda visitadas tais construções sem nenhuma capacidade de habitação atualmente? Segundo o autor, porque nos serve de retrato do que um dia significaram. Ele ainda acrescenta que não se tornariam habitáveis hoje, porque o habitar remete obrigatoriamente ao momento presente, se tornando inconcebível que se habite algo já obsoleto.
Com base no conceito de que “habitar significa dominar, ou, ao menos, controlar a natureza pelo trabalho e pela técnica.” (LIMA, Adson, 2007), se entra em contradição com o afirmado anteriormente, já que podendo o homem dominar quaisquer espaço, nada o impediria de controlar uma habitação histórica. Porém, essa definição é demasiada simplista, visto que habitar é algo muito mais amplo. Habitar envolve uma série de atividades que são peculiares ao indivíduo ou grupo que ocupa um local. O habitar se relaciona diretamente com os hábitos de quem ali vive.
Adson defende que a habitação historicista tem como função, já que não ser habitada, de rememorar, compreender o passado e as evoluções na forma de se abrigar e viver. Deve-se compreender este espaço, pois essa compreensão nos traz à tona nossa identidade como pertencente a uma “comunidade maior”. É a compreensão do espaço como abrigo da memória de uma família, de um povo ou até de uma civilização. É o que nos faz preservar esse espaço e tê-lo como importante mesmo não realizando a função para que foi inicialmente concebido.
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