Construir e habitar: Ética para uma cidade aberta

x[pic 1]	MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE MATO GROSSO CAMPUS VÁRZEA GRANDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO URBANO
Disciplina: ESPAÇOS URBANOS: HISTÓRIA, SOCIEDADE E CULTURA Professor: DR. IGOR ANTONIO MARQUES DE PAIVA
Turma: 2022
Nome Completo do(a) Pós-Graduando: Patricia Carla Filoso

Fichamento do texto: SENNETT, Richard. Construir e habitar: Ética para uma cidade aberta. SEGUNDA PARTE: A dificuldade de habitar; Rio de Janeiro: Record, 2018.  

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p.146	A tolerância e a busca por uma convivência harmoniosa com o Vizinho enquanto um Estranho é o que constitui uma ética que civiliza. A indiferença por estes estranhos, simplesmente motivada pela natureza destes, corrói o caráter ético da cidade.
p.148	A fuga da cidade de Heidegger foi também uma fuga dos outros, da convivência em sociedade e com as pessoas, especialmente com pessoas de origem judaica. Algo que se agravou depois de seu envolvimento com o regime nazista, ao aceitar o convite para ser o reitor da Universidade de Freiburg.
p. 149	A cabana de Heidegger sintetiza uma ideia nazifascista, que persiste nos dias de hoje sob outras formas, mas com o conteúdo semelhante, que é, “para excluir, simplifique”. Uma cabana quadrada, feita com materiais simples e sem grande complexidade é algo simples, mas também excludente, pois essa simplicidade serve para apenas uma pessoa, ou para um tipo específico de pessoas, ao passo que exclui classe de sujeitos que seja diferente. No caso de Heidegger, estamos falando de um local para arianos, que exclua especialmente judeus, mas também ciganos, comunistas, eslavos e outros povos diferentes daquele idealizados pelos nazistas.
p. 153	A Veneza dos séculos XV e XVI encontrou uma forma efetiva de isolamento dos judeus, mas mantendo a possibilidade de utilizá-los para serviços considerados subalternos à época. Os canais de Veneza ajudaram neste isolamento, ao passo que se constituíam em obstáculos naturais para a divisão entre cristãos e judeus. No entanto, este isolamento proporcionou aos judeus um espaço seguro para à sua prosperidade, desde que, destaca-se, os judeus aceitassem a sua condição de marginalizados.
p. 155	Dentro dos guetos judeus em Veneza havia, porém, uma mistura de correntes judaicas, algumas bastante distintas em suas doutrinas. A convivência forçada entre os povos judeus de cada uma destas correntes, os forçou a criar uma fantasia de uma voz uníssona, para que defendessem os seus direitos. Diferenças teológicas eram evitadas, por entenderem que não chegariam a um denominador comum, para que fossem encontrados pontos em comum capazes de uni-los enquanto um povo, para além da religião e suas diversas linhas doutrinárias. No entanto, essa união não foi atingida de fato, mas o que aconteceu foi a criação de um contexto de boa vizinhança apenas.
p. 156	Isolar um povo, como o que ocorreu em Veneza, não impediu que a classe dominante cristã explorasse o conhecimento e serviços, a partir do convívio diário, que os judeus podiam prestar. Ao passo que hoje, o isolamento de uma classe burguesa em condomínios ou prédios de luxo, a fim de se isolarem da população mais humilde economicamente, não impede que esta mesma burguesia explore a força de trabalho em seus espaços de habitação.
p. 160	Cabe notar que o processo de gentrificação impacta cerca de 75% da população que se encontra na base econômica da população urbana, que se vê forçada a sair de seu território tradicional, mais central, por razões que podem ser o aumento no preço dos aluguéis ou mesmo a indução na venda de suas propriedades, a fim de atender especuladores imobiliários. Os agentes causadores deste processo correspondem à uma parcela pequena da população, mas que ocupa o topo da pirâmide socioeconômica urbana. Como resultado, percebemos uma repetição moderna do processo de segregação entre classes, que afasta a classe trabalhadora para longe das regiões centrais que oferecem melhor infraestrutura e onde está concentrada boa parte dos empregos.
p.165	Comunidades mistas, mesmo àquela cuja convivência ocorre há anos, de forma aparentemente harmoniosa, não impede que tensões ou mesmo conflitos surjam, quando alguns boatos ou acontecimentos fora da rotina acontecem. Justamente porque não há de fato uma convivência baseada na tolerância e respeito, mas apenas em pequenos e superficiais rituais de bom convívio e gentileza que, embora sejam questionáveis do ponto de vista ético, são necessários para o equilíbrio da confiança entre seus moradores.
p. 169	Para Tocqueville, a expressão “igualdade de condições” se refere à preferência das pessoas serem as mesmas, apesar das condições desiguais.
p.171	Os Googleplex, escritórios do Google, oferecem um variado número de serviços e opções de entretenimento dentro de seus complexos. À primeira vista isso parece constituir um ambiente de trabalho atrativo e descontraído. Todavia, a intenção é criar uma comunidade fechada que consiga isolar o indivíduo de qualquer distração que não esteja relacionada ao trabalho, tal qual acontecia nas cidades empresarias da era industrial. Por isso a grande maioria dos funcionários da Google, ou de qualquer outra empresa de tecnologia, é formada principalmente por pessoas jovens e solteiras, tendo em vista que este perfil de pessoa geralmente não possui outros vínculos fora do ambiente de trabalho, como família, por exemplo.
p.173	O interior atraente de um Googleplex se assemelha muito a condomínios de luxo ou a regiões habitadas pela elite econômica, estão na cidade, mas não pertencem a ela. A ironia, neste caso, é que prédios como o do Googleplex são assim concebidos a fim de estimular a criatividade. No entanto, cabe o questionamento se um ambiente voltado à si mesmo é capaz de estimular a criatividade.

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