O Ensino de Design de Lina Bo Bardi
Por: Andre Batistella • 23/9/2015 • Artigo • 2.030 Palavras (9 Páginas) • 430 Visualizações
O Ensino de Design de Lina Bo Bardi
The Teaching Design of Lina Bo Bardi
André Felipe Batistella Souza
andrebatistella@gmai.com
Renato Leão Rego
rlrego@uem.br
Resumo
Lina Bo Bardi, além de produzir grandes obras para a arquitetura no Brasil, também foi responsável por criar duas propostas de ensino de design no país, uma em São Paulo, em 1951, e a outra na Bahia, no início dos anos 1960. A Escola de Desenho Industrial proposta por Lina na Bahia foi instalada no conjunto arquitetônico do Solar do Unhão e buscava desenvolver uma indústria a partir do pré-artesanato brasileiro. As atividades da escola encerraram com o Golpe Militar de 1964.
Palavras-chave: Design, Lina Bo Bardi, Pré-artesanato
Abstract
Lina Bo Bardi, in addition to producing great works for architecture in Brazil, was also responsible for creating two design learning programs in the country, one in São Paulo in 1951 and the other in Bahia, in the early 1960. The school of Industrial Design proposal by Lina in Bahia was installed in the architectural ensemble of the Solar Unhão and sought to develop an industry from the Brazilian pre-craftsmanship. School activities ended with the military coup of 1964.
Keywords: Design, Lina Bo Bardi, Pre- craftsmanship
Introdução
O desenvolvimento da cultura material através do design começa propriamente a se estruturar, no Brasil, após a instituição da Escola Superior de Desenho Industrial – ESDI, na cidade do Rio de Janeiro, no ano de 1963, responsável pelo primeiro curso de graduação em nível superior em toda a América Latina. Porém, antes da instituição oficial do design nos anos sessenta no Rio de Janeiro, outras iniciativas similares tinham sido tomadas, sobre a origem do ensino de design em nível acadêmico no Brasil (MORAES, 2006).
O que pode ser considerada a semente do ensino de design no Brasil, foi o IAC (Instituto de Arte Contemporânea), criado por meio do MASP (Museu de Arte de São Paulo), em 1951, cujo objetivo era preparar profissionais para atuar na emergente indústria nacional. A instituição dava acesso a informações, metodologia e treinamento do processo criativo do processo de design. Neste sentido, entende-se que foi de fundamental importância para o esclarecimento e difusão do papel do design no processo cultural e industrial brasileiro, revelando uma profissão que possibilitava uma nova visão da participação social do artista, fomentada por uma formação educacional adequada (ANDRADE et al, 2010).
Sem designers de formação, o curso contou com nomes como Pietro Maria Bardi, Oswaldo Bratke, Lina Bo Bardi, Roberto Sambonet, entre outros, para realizar seu programa. P. M. Bardi era professor e grande animador do curso, o que não foi o suficiente para mantê-lo. O IAC não conseguiu implementar totalmente o programa a que se propôs, faltaram oficinas específicas, disciplinas de matemática e psicologia. O curso fechou no final de 1953 por falta de apoio financeiro e operacional das empresas do governo (LEON, 2014).
Entre os anos de 1958 e 1964, a arquiteta Lina Bo Bardi, que atuou em Salvador, dedicou grande parte da sua atuação para criar no Nordeste um Centro de Estudos sobre o Trabalho Artesanal/CETA e, a partir deste, se empenharia na realização de uma “Escola de Desenho Industrial” que seria implementada no conjunto arquitetônico do Solar do Unhão, no qual dedicou-se também ao seu restauro (PEREIRA, ANELLI, 2005).
Lina se descolocou pela primeira vez para a Bahia em 1958 atendendo a um convite de Diógenes Rebouças, para ensinar Filosofia e Teoria da Arquitetura na Escola de Belas Artes da Universidade da Bahia. Um convite do governador Juracy Magalhães, convocou a arquiteta para a implantação do Museu de Arte Moderna (RISÉRIO, 1995).
Este artigo faz um breve estudo da Escola de Desenho Industrial proposta por Lina Bo Bardi na Bahia, visto que esta ainda é muito pouco conhecida dentro da história do ensino de design no Brasil.
Por que o Nordeste?
Lina possuía uma experiência profissional que lhe conferiu bases para pensar o design de uma forma diferente do restante dos arquitetos brasileiros, visto que naquela época o Brasil não contava com designers de formação acadêmica. Em seu Curriculum Literário, Lina descreve que em Milão, para adquirir prática, entrou no escritório do arquiteto Gió Ponti, líder do movimento pela valorização do artesanato italiano, onde desenvolveu trabalhos desde o design de xícaras e cadeiras, moda até projetos urbanísticos (BARDI, 2008).
Essa experiência com Gió Ponti e a valorização do artesanato, provavelmente fez com que Lina lançasse um outro olhar sobre a produção no Nordeste. Porém ela afirmava nunca ter existido artesanato no Brasil “...o que existiu foi uma imigração rala de artesãos ibéricos ou italianos e, no século XIX, manufaturas. O que existe é um pré-artesanato doméstico esparso, artesanato nunca (BARDI, 1994, p. 12).
Para a arquiteta, deveria ter sido feito um levantamento cultural do pré-artesanato brasileiro antes do país enveredar para um capitalismo dependente, onde as opções culturais no campo do Desenho Industrial poderiam ter sido outras, mais aderentes às reais necessidades do país (BARDI, 1994).
O pré-artesanato existente no nordeste era uma produção extremamente rudimentar, sendo que a estrutura familiar de algumas produções como, por exemplo, as rendeiras do Ceará ou os ceramistas de Pernambuco, poderiam ter uma aparência artesanal, mas são grupos isolados, obrigados pela miséria e este tipo de trabalho, que desapareceria logo com a necessária elevação das rendas do trabalho rural (BARDI, 1994+).
Lina considerava a cultura nordestina e suas potencialidades como fator para o desenvolvimento de um desenho industrial nacional, assim como o economista Celso Furtado via nesta mesma força de trabalho, um ponto de investimento da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) para a implantação de um parque industrial. Infelizmente a Escola de Desenho Industrial e Artesanato foi a atividade planejada menos materializada da arquiteta em Salvador (ROSSETTI, 2003).
Do pré-artesanato ao desenho industrial
O Museu de Arte Moderna da Bahia teve suas instalações provisórias no foyer do incendiado Teatro Castro Alves. Diante da intenção de recuperar o edifício desativado, devolvendo a ele suas condições para a utilização como espaço para espetáculos, surgiu a necessidade de estabelecer uma sede definitiva para o MAMB (PEREIRA, 2007).
Neste contexto surge o Unhão, considerado inicialmente para abrigar o Museu de Arte Popular e também como uma possibilidade para a instalação provisória do Museu de Arte Moderna, pois como a proximidade do fim do governo de Juracy Magalhães, a ausência deste apoio impediria imediatamente os recursos para a construção de uma nova e definitiva sede para o MAMB, conforme desejava Lina (PEREIRA, 2007).
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