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O Fichamento de Citação

Por:   •  27/4/2019  •  Resenha  •  1.631 Palavras (7 Páginas)  •  168 Visualizações

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A arquitetura foi o objeto principal com que foram sendo constituídos no ocidente os patrimónios históricos nacionais a partir do século XIX. Na Europa oitocentista a noção de monumento histórico estava atrelada àquela de arquitetura erudita do passado, fossem as ruínas da antiguidade, fossem as igrejas, castelos e palácios medievais e renascentistas. (p.453)

Camillo Boito, em 1893, identificava três qualidades principais para os monumentos arquitetônicos: a importância arqueológica, a aparência pitoresca e a beleza arquitetônica (Boito, 1989: 115). (p.453)

Eram estas qualidades que definiam três possíveis abordagens de restauro, vinculadas cada uma delas a um distinto período da história da arte. O restauro arqueológico seria aplicado às ruínas da antiguidade com ações de consolidação; o restauro pictórico voltado para os monumentos medievais valorizados pela sua aparência pitoresca; e o restauro arquitetônico, no qual se previa uma intervenção mais completa, dedicado a restabelecer a beleza arquitetônica dos edifícios renascentistas. (p.453)

Há na proposta do italiano Camillo Boito uma valorização no tratamento dos monumentos do renascimento em relação aos medievais, [...] as escolhas na seleção do que seriam os monumentos históricos refletiam a busca da origem e grandeza das nações. Os monumentos arquitetônicos do passado guardavam em si um valor cognitivo (Choay, 2001: 128), que expressava a história e a identidade das nações. No contexto de uma reflexão sobre Patrimónios de Influência Portuguesa, interessa pensar como edificado e paisagem traduzem a história e a identidade dos povos que os construíram. Arquitetura, cidade e território são, nessa perspectiva, documentos patrimoniais que registram a história dos homens. (p.453-454)

Os monumentos arquitetônicos são, além de objetos notáveis do ponto de vista plástico, fonte de informação sobre a passagem do homem na terra. (p.455)

Pensar os monumentos edificados como documentos históricos implica compreender o trabalho de restauro e conservação destes monumentos como um processo de produção de conhecimento. [...] A capacidade dos monumentos arquitetônicos de informar relaciona-se com a afirmação da sua identidade e autenticidade. Os edifícios históricos têm, portanto, um valor informativo, mas também têm um valor sensorial e expressivo, que é o seu valor artístico ou de imagem. Este valor é mutável, ao longo dos séculos, e faz com que a apropriação dos monumentos históricos seja um processo continuado de reinterpretação dos seus valores artísticos. A qualidade plástica, assim como a informação histórica contidas na arquitetura é que irá qualificar esta como monumento histórico. (p.455)

Dito isso é necessário ressalvar que o suporte material e a informação nele contida não são necessariamente indissociáveis. Muito pelo contrário, é parte fundamental do trabalho de proteção a transcrição para outro suporte da informação contida no monumento arquitetônico. É o conhecimento produzido nas transcrições do que está registrado em barro e pedra, para o papel, meio digital ou outro, que permite a reflexão e o entendimento necessário para decifrar os sentidos da linguagem arquitetônica dos monumentos. (p.456)

Conservar significa principalmente produzir conhecimento e registrar este, em suportes diversos da pedra, barro e madeira de que são feitas as arquiteturas. A conservação da matéria concreta deve-se relacionar com um processo de nova apropriação voltado à reflexão e ao entendimento das matrizes culturais que geraram aquelas formas. (p.456)

As primeiras ações de proteção e conservação do património arquitetônico existente assumiram para si um enorme desafio, recuperar a imagem do passado dessas construções que se encontravam bastante modificadas pelas adições que a história havia lhes dado. (p.457)

Para suprir a ausência destas informações, o restauro voltou-se inicialmente para o estudo estilístico, a analise tipológica, a generalizantes caracterizações construtivas do passado (Carbonara, 2000). Os estudos permitiram o acúmulo de conhecimento sobre a arquitetura do passado até então inédito, mas também foram a base para a busca de uma inexistente originalidade perdida dos monumentos arquitetônicos. (p.457)

No Brasil no início da atividade de proteção do património histórico, os operadores do restauro dos monumentos vão procurar através das informações ainda existentes nos edifícios, dos registros da história da arte e da analogia com edifícios semelhantes, a originalidade perdida. (p457)

No Brasil do início da atuação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional a busca da originalidade perdida se dava pelo restauro baseado nas fontes documentais, apoiada na história dos estilos sempre que fosse necessário (Fig. 3). O debate entre a busca da originalidade dos monumentos e a compreensão destes como testemunhos de um processo de transformação ao longo da história estará presente nas chamadas cartas patrimoniais, documentos internacionais que pretendem ser normativas para a atuação de restauro. (p.459-461)

Se analisarmos os principais documentos internacionais veremos que houve sempre uma preponderância no sentido de pensar os monumentos arquitetônicos como resultado das diferentes adições feitas ao longo da sua história, em detrimento da ideia da busca de uma originalidade perdida. O documento da Sociedade das Nações, em Atenas, em 1931, propunha "que se respeite a obra histórica e artística do passado, sem prejudicar o estilo de nenhuma época" (Cury, 2000: 13). Em 1964, [...] Carta internacional sobre a conservação e restauro de monumentos e sítios, denominada Carta de Veneza, propõe a ampliação do conceito de monumento histórico, passando da arquitetura erudita para os sítios urbanos e rurais. Defende a inseparabilidade entre matéria e significado "o monumento é inseparável da história de que é testemunho" (Idem: 93). Reafirma a importância da história na compreensão dos monumentos arquitetônicos, "as contribuições válidas de todas as épocas para a edificação do monumento devem ser respeitadas, visto que a unidade de estilo não é a finalidade a alcançar no curso de uma restauração" (Ibidem: 93). A Carta de Veneza considera que não só a arquitetura erudita deve ser objeto da proteção patrimonial, mas também aquela chamada de vernacular, as obras modestas que registram a linguagem arquitetônica das diferentes culturas. A arquitetura vernacular tem um papel fundamental na compreensão do património dos países de língua portuguesa. No Brasil desde a criação do Serviço do Patrimônio

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