"O Mito" de Roland Barthes
Por: Bruna Iacono • 4/5/2017 • Resenha • 1.375 Palavras (6 Páginas) • 5.412 Visualizações
“O Mito”, em Mitologias
de Roland Barthes
Em sua obra Mitologias, Roland Barthes recorre à semiologia para descrever o mito contemporâneo, caracterizando-o como uma linguagem que depende da cultura da sociedade em que está inserido, banalizando o desconhecido, naturalizando o que não era natural e tornando um abuso ideológico em algo óbvio. Diferente de um sistema de comunicação, de um objeto ou conceito, o mito se define pela maneira que é proferido, e não pela mensagem em si: é um modo de significação. Ou seja, o mito tem limites, mas não tem substancias. Além disso, o mito está presente em todos os lugares e tempos, com princípio de transformar a história (processo coletivo; fazer humano) em natureza (naturalidade na recepção dos fatos), com isso, este não se preocupa com o certo e o errado, ele busca apenas alcançar seus objetivos, mesmo que deforme o conceito original. A linguagem mítica é segundaria, assim precisa do primeiro sistema de comunicação para se apropria da ideia. Por isso tudo pode ser um mito só basta se apropriar de um significante para gerar um significado. A definição de semiologia é o estudo dos signos, e Barthes recorre a ela justamente pelo fato do mito ser um signo, logo para entender a mitologia é preciso entender a relação significante e significado. O significante é o objeto em si; o significado, por sua vez, é o motivo ou o valor atribuído ao objeto.
- O MITO É UMA FALA
Barthes caracteriza o mito como uma linguagem, uma fala. Assim como a fala, o mito não é definido pelo conteúdo da mensagem, mas sim pela forma que esta é proferida. O mito então possui limites apenas formais, e não substanciais; sendo assim, tudo pode ser um mito, já que o universo é infinitamente sugestivo.
- O MITO COMO SISTEMA SEMIOLÓGICO
A semiologia, como ciência formal, ideológica e histórica, estuda as ideias-em-forma; e a mitologia, por sua vez, está contida nesta ciência. Dentro da semiologia temos o significante, significado e o signo. Ao passo de que o significante é vazio, o signo é pleno, tem um sentido; e o significado é o próprio conceito. E esta relação entre o conceito (significado) e a imagem (significante) é o signo, a entidade concreta.
- A FORMA E O CONCEITO
Ao mesmo tempo que o significante do mito é pleno de um lado, ele é vazio do outro, sendo sentido e forma ao mesmo tempo. No próprio sentido está constituído uma significação, fazendo parte de uma história. Posteriormente, o mito em si transforma tal significação em vazia; assim, o sentido esvazia-se a história evapora-se. A forma empobrece e afasta o sentido, mas não o suprime. Mesmo perdendo seu valor, o sentido alimenta a forma do mito, passando a ser uma forma de reserva de história. Como num jogo de esconde-esconde, a forma encontra raízes nos sentidos, e também se esconde nele. Diferentemente da forma, o conceito não é tão abstrato, mas está repleto de uma situação. Somente por conta dele que uma nova história é implantada no mito. Dando sentido à forma, a imagem perde parte do seu saber e torna-se disponível para o saber do conceito.
- A SIGNIFICAÇÃO
Segundo Barthes, a significação é o próprio mito. Ela depende diretamente de uma forma para gerar um conceito, ambos os termos são presentes no próprio mito, e este não esconde nada, já que tem como função deformar, e não desaparecer. A relação de deformação é justamente o que une o conceito do mito ao sentido dele. O sentido deforma a face plena do significante no mito, que é o sentido, e tem também a face vazia, a forma. O conceito, por sua vez, deforma, mas não elimina o sentido.
- LEITURA E DECIFRAÇÃO DO MITO
O mito tem como princípio transformar a História em Natureza como uma inflexão, não uma mentira ou uma confissão; como dito anteriormente, o mito apenas deforma. Essa transformação passa a ser um discurso natura, já que o mito é uma fala excessivamente justificada. Define-se o mito como um fato, sendo que ele é apenas uma linguagem, um sistema semiológico.
- O MITO COMO LINGUAGEM ROUBADA
Barthes associa o mito como sendo sempre um roubo de linguagem pelo fato deste dar sentido a forma.
A linguagem mais roubada pelo mito é justamente a língua, pois esta, além de conter as mesmas predisposições míticas, ela oferece pouca resistência. A linguem matemática, por exemplo, é uma linguagem indeformável, praticamente impossível de ser invadida. Pode-se dizer então que o mito rouba uma pureza. Ele pode atingir e corromper tudo, de modo que quanto mais resistente o objeto no início, no final é o que mais cede. De acordo com Barthes, a melhor arma contra o mito é mitifica-lo, produzindo um mito artificial, e o mito reconstruído seria a verdadeira mitologia. “Visto que o mito rouba a linguagem, por que não o roubar também?”. .
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