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O Movimento Moderno nas Colônias

Por:   •  2/12/2020  •  Trabalho acadêmico  •  2.096 Palavras (9 Páginas)  •  182 Visualizações

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Para que se possa compreender de um modo mais claro o motivo para a fixação profissional e pessoal de muitos arquitetos portugueses em África, sobretudo a partir dos inícios da década de 50, é necessário considerar o ambiente político e social que se vivia no continente português ibérico entre os anos de 1940 e 1950, essencialmente.

Em Portugal, com o final da guerra, a contestação ao regime de Salazar era muito evidente, o que conduziu a uma organização de oposições que tinham como objetivo a queda rápida do Estado Novo. Uma vez instalada a crise no seio do regime em vigor, foi forçado o uso de medidas eficazes que levariam a uma agitação crescente em diversas áreas com a consolidação do Estado. É neste contexto que se consolidam as políticas culturais que tinham sido testadas na Exposição do Mundo Português, em 1940. Em meados da década de 40, uma nova geração de arquitetos vindos das escolas do Porto e de Lisboa, mais tarde conhecida como “a terceira geração”, acabava de se formar assumindo uma nova consciência critica, social, ética e política.

Entre 1945 e 1948, surge um partido em Portugal conhecido como MUD – Movimento de Unidade Democrática – acabando por culminar, no ano de 1949, na Campanha de Norton de Matos para a Presidência da República. No entanto, esta campanha foi derrotada pelo regime Salazarista que iria irromper desde 1950. Com a vitória do regime ditatorial, a nova geração de arquitetos encontrou-se, em geral, comprometida e prejudicada pela participação política a favor do Movimento de Unidade Democrática (MUD). É também do ano de 1948 que acontece em Portugal o 1º Congresso Nacional de Arquitetura, promovido pelo governo e organizado em simultâneo com a 1ª Exposição de Obras Públicas. Este congresso iria acabar por representar a primeira vitória dos ideais modernistas sobre a geração anterior que era apoiada pelo Estado. Deste congresso, resultou um despertar da consciência para a nova realidade democrática afirmada na Europa do pós-guerra. É, portanto, a partir do Congresso que se assiste a uma maior flexibilidade da arquitetura portuguesa aos modelos da arquitetura moderna que já se praticava internacionalmente, em especial pela produção arquitetónica que se fazia neste momento no Brasil. No entanto, por terem feito parte da oposição, os arquitetos da terceira geração, firmados no Congresso de 1948, eram perseguidos pela PIDE e, assim, não lhes era possível arranjar trabalho na sua área de formação em Portugal o que os leva a rumar para colónias portuguesas, principalmente para Angola e Moçambique onde iriam acabar por colocar em prática novos modelos inspirados na arquitetura brasileira.

A “terceira geração moderna” vem suceder e contestar a anterior, a geração dos modernistas submetidos no gosto e na prática profissional às imposições do Estado Novo. As dificuldades que se faziam sentir nesta época, com principal incidência nos anos 40 e 50, eram inúmeras uma vez que se trata de uma fase transicional quanto ao tipo de arquitetura feito até então. Em paralelo, a arquitetura do país encontrava-se “estagnada”, ou mesmo num processo de regressão, uma vez que se difundiam os modelos historicistas, regionalistas e classicizantes, sendo que todos eles apresentavam um cariz neotradicional que era apoiado pelo Estado Novo e pelas autarquias e eram obrigatoriamente praticados pela generalidade dos técnicos, arquitetos e construtores.

A ida dos arquitetos portugueses recém-formados para África, no início dos anos 50, e o seu papel enquanto profissionais, desempenhado em território africano, foi essencial na modernização das cidades e dos territórios das colónias portuguesas mencionadas anteriormente. No entanto, uma vez chegados a África, este grupo de arquitetos em busca de um modo de afirmação de vida, com os seus ideais, propostas e criatividade, encontrava-se ainda bastante preso aos ideais arquitetónicos do Estado, conhecido como o estilo “Português Suave”, uma arquitetura tradicionalista e retrógrada ao mesmo tempo que se mostrava ser monumentalista. Como exemplo desta arquitetura, construído já em território africano, existe o Banco de Angola, por Vasco Regaleira no ano de 1956, um edifício classicizante construído na nova marginal de Luanda.

No entanto, no seio de uma sociedade menos restritiva e longe do poder político de Portugal, estes arquitetos tiveram a oportunidade de construir com um vocabulário mais moderno adaptando cada obra às especificidades do lugar onde se encontravam, era esta a lição brasileira.

A arquitetura nas colónias portuguesas em África destaca-se pela manifestação de liberdade, existindo ao mesmo tempo uma grande busca de acercamento aos modelos que se inserem na Arquitetura Moderna Brasileira. Esta incorporação de linguagem deve-se principalmente às semelhanças climáticas dos territórios.

De modo a entender a Arquitetura Moderna é necessário dar destaque ao pensamento de Le Corbusier, desde a aplicação dos “cinco pontos” à premissa da utilização de regras de aplicação universal.

A geração pós-congresso idealizou então neste território uma abertura para ensaios técnicos combinados com a parte estética; a procura de eficácia funcional e proveito dos recursos disponíveis foram das principais preocupações destes profissionais.

O betão armado reforça a ideia de universalidade, sendo um material exaustivamente utilizado, não só pela sua função estrutural, mas também ganhando uma importância a nível plástico. Surge assim um novo elemento: o brise-soleil; este funciona como uma grelha naturalmente ventilada, aproveitando-se das especificidades estruturais deste material.

No Mercado do Kinaxixe em Luanda, obra de Vasco Vieira da Costa, encontramos fachadas revestidas de brise-soleil: lâminas verticais e grelhas rendilhadas nos pátios interiores.

Situado na Beira, no Colégio dos Maristas é executado um sistema de sombreamento constituído por grelhas de elementos transversais em betão e quebra-luzes verticais.

Estas grelhas transformaram-se rapidamente em elementos também decorativos através da diversificação das geometrias nelas inseridas, surgindo assim o elemento denominado cobogó.

Este elemento marca o Liceu do Lobito, de Francisco Castro Rodrigues, onde estas grelhas não só ventilam o espaço, mas também oferecem sombreamento.

O betão não foi o único material utilizado nestas grelhagens, houve uma procura de outros que apresentassem uma combinação funcional e expressiva, tais como grelhas metálicas ou em tijoleira cerâmica.

Com a exploração do betão armado e a vontade de libertação de modelos formais começam a surgir elementos mais orgânicos, trazendo aos poucos uma conotação escultórica às obras propostas nas colónias. Os elementos curvos (palas ou rampas) ou a abóbada são aplicados assim nesta demanda pela liberdade expressionista.

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