O Período pós-revolução industrial trouxe-nos um legado de modificações sociais, culturais e naturais
Por: Charles Silva • 29/12/2017 • Trabalho acadêmico • 1.434 Palavras (6 Páginas) • 423 Visualizações
1 INTRODUÇÃO
O período pós-revolução industrial trouxe-nos um legado de modificações sociais, culturais e naturais. Com estas, a partir do século XVIII, a ideia de racionalização adequou e modificou a maneira de pensar, agir e interagir com o meio.
Atualmente vivemos em um mundo em que problemas como o esgotamento de recursos naturais, relações sociais, perda da tradição e identidade e descaracterização da cultura vem se repetindo constantemente, estes fatores estão ligados à existência de uma sociedade baseada nos preceitos da racionalidade.
O racionalismo teve sua experiência máxima na primeira metade do século XX através do movimento moderno. Contudo, na segunda metade deste mesmo século, já se apresentava indícios de sua superação. Argumentos levantados por novos pensadores eram fatores importantes para sua “desafirmação”. Pensamentos estes voltados para necessidade de uma arquitetura mais preocupada com a cultura e sua diversificação, contextualismo e as exigências ambientais.
Repudia-se uma arquitetura autônoma, desrelacionado com o local e com suas histórias, esta arquitetura estranha ao ambiente em que se insere é também compreendida por Internacional Style (Estilo internacional).
Necessitava-se de uma arquitetura espontânea, reafirmada em valores novos sem sua quebra com o passado e com maior ênfase na relação com o entorno. Assim, apresentando-se como contraponto do estilo internacional e como uma renovação de um racionalismo exacerbado exibido no movimento moderno, surge à tendência arquitetônica denominada por regionalismo crítico.
No regionalismo crítico, o pensar predominante é a preocupação em conciliar valores culturais locais ao edifício, consideram-se também características do terreno (topografia, clima, vegetação) aliando tecnologias tradicionais (preferencialmente do local) a novas tecnologias - interpretando que não podemos retroagir como fizera em outrora o vernáculo[1] - criando uma arquitetura que possua uma relação de harmonia com o lugar.
Na arquitetura regional crítica busca-se unir o "novo" ao "velho", exemplificada na fala de Paul Ricoeur (1968) onde o regionalismo e apresentado como a “fecundação” entre a cultura enraizada, de um lado, e a civilização universal do outro. Logo, podemos definir a princípio que, o termo regionalismo crítico é uma conversa harmônica entre a arquitetura mundial (técnicas e tecnologias) aliada a características intrínsecas do lugar (clima, tradição, cultura, identidade).
Vila de Serra do navio e amazonas
A determinação em extrair minérios em plena selva amazônica por parte da Industria e Comércio de Minérios – Icomi, iniciado a partir de 1953 e com direito a extração por 50 anos (concessão do governo), demandou um meticuloso planejamento que envovia desde o sistema de transporte (ferrovia e porto) até as acomodações e infraestrtutura para todo o contigente de trabalhadores envolvidos.
A proposta era transformar uma terra “virgem” em um empreendimento capaz de abrigar condignamente o grande número de trabalhadores que para açi se deslocaram com uma determinada finalidade. Oswaldo Bratke apresenta na concorrência pelo projeto com uma proposta que valorizava o lugar até então desconhecido:
O tema para mim era relativamente novo naquele momento, apesar de ter feito arruamento e um pouco de urbanização. Como era um lugar que não conhecia...Queria conhecer, verificar os costumes da população, para fazer uma coisa que ajudasse as pessoas a ter uma vida descente, correta, e a cidade não fosse desfeita tempos depois. Minha proposta foi inicialmente estudar o assunto em profundidade para depois apresentar um projeto que fosse eficiente, de modo que não se jogasse dinheiro fora. Eles gostaram da minha ideia e fechamos o contrato. (BRATKE apud SEGAWA, 1995, p.238)
O trabalho do arquiteto no projeto tem uma data precisa: 24 de outubro de 1955, dia em que assinara o contrato de serviço com a Icomi. Neste contrato, era possível a complexidade do programa:
Dentre os trabalhos a serem iniciados, destacam-se –não só pelo seu valor econômico, mas também, e principalmente, por seu grande alcance social- os que se relacionam com a elaboração dos projetos de urbanização de determinadas áreas de terras, todas selecionadas pela Icomi, projetos esses que compreendem o arruamento e loteamento de áreas, unidades de habitação e prédios de interesse ou necessidade coletiva e de todas as instalações necessárias (...) O principal centro urbano será Vila Serra do Navio (...) os demais projetos referir-se-ão, principalmente, à Vila de Porto Santana(...) (Contrato citado, 1955).
O prazo total compreendia em vinte meses para entrega total do projeto, sendo que as etapas inciais deveriam ser entregue em sessenta dias contado a assinatura do contrato.
Bratke visitou outras empreendimentos deste porte, principalmente na cidade da Venezuela, onde Bratke afirmou: “Ninguém fazia cidade. Abriam uma rua central e lá se instalavam negócios que vendiam coisas para os coitados...” (BRATKE apud SEGAWA, 1995). Tais visitas pouco serviram na busca de modelos mais o auxiliaram no que não fazer no Amapá.
Pragmático, Bratke considerou todos os aspectos possíveis para o empreendimento, desde o número populacional da vila até a quantidade de pães que deveriam ser produzidos por mês e quantos padeiros seriam necessário para tal ação. No hospital, considerou os principais atendimentos que poderiam ser realizados e quais equipamentos necessários para tal.
Na dificuldade encontrada pela escassez tanto de material (visto que tratava-se de uma região remota) como de mão de obra, foi implantado na canteiro de obra uma fábrica de blocos de concreto e uma oficina-escola para capacitar a mão-de-obra.
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