O Severiano Mário Porto
Por: camirocha • 11/9/2022 • Trabalho acadêmico • 1.165 Palavras (5 Páginas) • 127 Visualizações
Sede da Aldeia Infantil SOS // Severiano Mário Porto
Amazonas, Brasil
_Introdução
Severiano Mário Vieira de Magalhães Porto, natural de Uberlândia (MG), formou-se em 1954 pela Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Integrou as gerações de arquitetos que vivenciaram de perto o início do processo de modernização do país, consequente do crescente emprego da técnica sobre bases científicas na transformação da sociedade: da industrialização, da intensificação do processo de urbanização e de internacionalização da cultura.
Destacou-se no cenário arquitetônico nacional pela obra construída no Amazonas desde os anos 1960, sendo cultuado desde 1980 como um arquiteto regionalista que sabe aproveitar de forma criativa os materiais e os costumes do lugar. Mundialmente conhecido como o “arquiteto da floresta, ou “arquiteto da Amazônia, “ele foi responsável por conceber um modelo único de arquitetura amazônica e sustentável, que une técnicas desenvolvidas por ribeirinhos e caboclos com as mais modernas e inovadoras criações na arquitetura” (nota do CAU/AM).
O arquiteto foi contratado em 1993 para projetar uma vila formada por "casas-lares", que abrigariam de 7 a 10 crianças que vivem na companhia de uma cuidadora, que pode ser chamada de mãe-social ou tia. Para que as crianças construam seu futuro com autonomia, o programa incentiva que elas participem ao máximo da sociedade em que estão inseridas. Desta maneira, o escopo contempla outros edifícios para incentivar o uso e a participação das comunidades vizinhas.
A organização que o contratou, a Aldeias Infantis SOS, foi fundada em 1949, em Imst, Áustria, por Hermann Gmeiner, um educador austríaco comprometido em ajudar crianças que perderam seus lares, suas famílias e sua segurança em consequência da Segunda Guerra Mundial. Com o apoio de muitos doadores e colaboradores, a organização vem crescendo para ajudar crianças, adolescentes e jovens em todas as partes do mundo.
Nesse trabalho, a sede da Aldeia infantil SOS Manaus será analisada de acordo com os critérios de análise tectônica propostas por Kenneth Frampton.
_Topografia
A sinuosa circulação coberta (em vermelho) constitui-se como a rua-praça desta pequena aldeia
A Sede das Aldeias Infantis SOS localiza-se em Manaus, cidade onde o arquiteto realizou boa parte de suas obras e, desde o princípio, foi cuidadosamente pensado e planejado, visando a melhor integração do conjunto ao meio natural, ao contexto urbano e atendimento ao bem-estar das crianças e dos funcionários.
O conjunto de edificações proposto no programa ficou distribuído em um terreno de dimensões generosas (400,7m x 164,1m) e de suave declividade. O lote está localizado em meio a um contexto urbano de uso predominantemente residencial, com construções modestas de pequeno e médio porte. A implantação das edificações acomodou-se aos desníveis do terreno alterando minimamente suas características naturais.
Em relação a distribuição do programa, as partes que são frequentadas pela comunidade externa foram situadas próximas aos eixos viários circundantes principais e, portanto, com maior comunicação com o meio urbano. Aquelas que requeriam aconchego e privacidade foram colocadas nas áreas mais distanciadas das vias públicas.
[pic 1]
Croqui da orientação ideal de uma vila em relação a
direção dos ventos - Manual do Arquiteto Descalço, pg.105
_Metáfora Corporal
Com o objetivo de atender às demandas do programa e fazer uma arquitetura adequada ao meio, é possível observar o cuidado do arquiteto em selecionar elementos que combinados valorizassem o potencial do terreno ao mesmo tempo em que enriquecem a experiência espacial e visual.
O conceito de aldeia se sustenta pela integração das casas-lares aos espaços de uso comum com a circulação coberta que, sem muito esforço, é o destaque do projeto devido a sua forma (sinuosa em comparação com a ortogonalidade das demais edificações), sua extensão, dimensão e sua tectônica (troncos de madeira e palha em contraposição às edificações em alvenaria e telha cerâmica).
A circulação de palha funciona como uma área tanto de passagem quando de permanência e convivência, proporcionando uma experiência sensorial notável pois ao longo do seu percurso, a cada virada de curva, segue outra completamente diferente (ora a curva se alarga, ora se comprime, ora o pé-direito ganha altura, ora perde altura). É interessante observar que a sinuosidade do percurso não é aleatória, pois a sua forma segue o curso da topografia (acompanha as curvas de nível do terreno), alterando o terreno o mínimo possível.
Vale observar que os detalhes que Severiano Porto emprega no desenho do piso mencionado (assim como a variedade da sequência de visadas e articulações entre os diversos espaços da circulação) foram pensados para ser usufruídos pelo observador, para ser vividos no espaço existencial e não reduzidos a um desenho bidimensional da prancheta.
[pic 2]
_Etnografia
É possível perceber forte ligação do projeto com a cultura indígena amazônica. Por exemplo, as diversas edificações da aldeia são interligadas pela sinuosa circulação coberta construída em madeira e folhas de palha, onde podemos perceber claras referências à cultura local, tanto no processo construtivo como no tipológico, lembrando os grandes espaços comunitários das ocas indígenas.
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