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O desafio da pesquisa sem acesso à documentação

Por:   •  1/4/2019  •  Artigo  •  2.606 Palavras (11 Páginas)  •  146 Visualizações

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Mapeamento de Referências Culturais do Agreste Alagoano: o desafio da pesquisa sem acesso à documentação

RESUMO

Tendo como base o Mapeamento de Referências Culturais do Agreste Alagoano, produzido pelo Grupo de Pesquisas Nordestanças, que formou um inventário de identificação dos patrimônios culturais, além de discutir acerca das identidades da região Agreste, este artigo se propõe a analisar as principais dificuldades que ocorreram durante o desenvolvimento do mapeamento, tecendo reflexões relacionadas aos entraves, principalmente na coleta de dados, registros fotográficos, observações em campo e entrevistas, também fazendo um relato de como procedeu a coleta dos materiais para o âmbito do mapeamento cultural. Verificou-se a partir das atividades de mapeamento a escassez de informações relacionadas à região Agreste, dificuldades em consultas à bibliotecas, secretarias, gestores públicos e até mesmo nos reconhecidos mecanismos de pesquisas pela internet. Estas limitações de informações não impossibilitaram a realização do mapeamento, porém a ausência de exposição de um banco de dados culturais e de informações - que em alguns casos existem, entretanto eram desconhecidos por muitos, principalmente por não serem divulgados - dificultaram a coleta de material e acabaram por retardar as atividades de análise do material recolhido. Diante das dificuldades encontradas, foi necessário adaptar os métodos de busca : o formato de entrevistas em um caráter preliminar, mas que continha questionamentos pontuais relacionados aos bens, produziram resultados satisfatório. Foram realizadas cerca de duzentos e quarenta entrevistas - no formato de entrevista habitual e como formulário online - com moradores de todos os municípios da região, e através delas tornou-se mais tátil a obtenção de dados que serviram de base para as demandas seguintes do projeto de mapeamento, que incluíam um trabalho mais aproximado de seu objetivo. A memória, principalmente a dos idosos, foi um dos fatores mais essenciais ao desenvolvimento e ao rumo dado ao projeto, em suas atividades seguintes e em seu desenvolvimento de forma geral. Através desta memória viva, tornou-se possível o conhecimento através do olhar de quem viu e viveu o que fala, e assim, conhece com maior propriedade o objeto do qual trata.

O presente artigo baseia-se na realização do Mapeamento de Referências Culturais do Agreste Alagoano, produzido no ano de 2013 pelo Grupo de Pesquisas Nordestanças e financiado pela edital PROEST/MEC-SESu. A proposta do projeto desenvolvido teve como objetivo mapear o Patrimônio Cultural do Agreste alagoano. Nesta região do estado o mapeamento ainda se encontra de forma bastante preliminar, o que tem levado o poder público a atuar no planejamento urbano desconsiderando o patrimônio cultural presente nas mesmas. A proposta visou, portanto, a produção de um inventário de identificação destes patrimônios como base para ações de planejamento em que o reconhecimento das identidades seja levado em consideração. O Mapeamento produziu também uma discussão acerca das identidades do Agreste Nordestino, uma vez que este foi pouco evidenciado no discurso das identidades regionais, por sua vez, bastante marcadas pelas identidades relativas à Zona Canavieira e as identidades do Sertão, que acabaram por construir hegemonicamente as identidades regionais. Entende-se que há muito a percorrer no que tange o reconhecimento das identidades formadas no Agreste, onde localizam-se cidades bastante relevantes em seu aspecto cultural e pouco abarcadas pelo discurso patrimonial. O Agreste nordestino abriga cidades de abrangência regional como Caruaru (PE), Campina Grande (PB) e Arapiraca (AL), que constituem centralidades identitárias com forte presença do patrimônio imaterial.

        O Mapeamento realizado justifica-se pela percepção da necessidade de produção de material mais completo e sistematizado do patrimônio cultural do Agreste de Alagoas, especialmente no momento em que se instituiu a região Metropolitana do Agreste, agrupando 20 municípios da região, e evidenciando um discurso desenvolvimentista para a área, discurso esse que pode levar, caso não seja acompanhado de elaboração de um inventário que norteie as ações de planejamento e os próprios planos diretores, tanto à destruição de parte importante do patrimônio edificado, quanto à fragilização das expressões culturais do patrimônio imaterial.

        Cultura e memória são elementos que fazem com que as pessoas identifiquem-se umas com as outras, e as relacionam através de histórias em comum. Mesmo não apresentando uma definição rígida para o termo “identidade” as pessoas que habitam a área da pesquisa falam de diferentes maneiras; sinalizam para o grande número de bens representativos das pessoas do lugar: histórias de vida, memórias, expressões, hábitos, cantares, contares, enfim tudo aquilo que tornou cada localização inventariada, singular, perante as demais.

Em Alagoas, a ação do IPHAN é marcadamente voltada para o sítio histórico urbano de Penedo, tombado pelo Iphan, onde está implantado o Programa Monumenta, que tem como objetivo preservar o sítio, tornar sua população participante do processo de preservação, assim como aperfeiçoar a gestão do mesmo, contribuindo para a mesma e para a utilização econômica, cultural e social local. Quanto às ações da Secretaria de Cultura do Estado, atualmente é realizado um mapeamento cultural, visando alimentar o Sistema Nacional de Indicadores e Informações Culturais – SNIIC, onde os bens podem ser cadastrados. No entanto, analisando dados deste mapeamento é possível perceber que, no tocante ao Agreste o mapeamento ainda é pouco abrangente, e que as informações recolhidas concentram-se de forma bastante evidente no município de Palmeira dos Índios.

É compreendendo a necessidade clara de descentralizar tais ações e tentando incorporar essas regiões pouco tocadas pelos discursos patrimoniais, que a realização do Mapeamento das Referências Culturais do Agreste Alagoano se ancora. Ao propor o mapeamento, na forma de um inventário de identificação dos bens patrimoniais do Agreste alagoano, acenamos com a necessidade de construção/reconstrução das identidades historicamente construídas para esta região. Compreendendo identidades como construções que se baseiam em seleções - escolhas discursivas e afetivas - a identificação, valorização e proteção do patrimônio podem ajudar a sedimentar identidades preocupadas tanto com as memórias locais e os vínculos afetivos consolidados, quanto com as ações de planejamento preocupadas em não apagar as marcas dessas memórias e desses afetos.

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