O urbanismo como modo de vida na contemporaneidade
Por: Wesley afonso da silva Dias • 21/10/2018 • Ensaio • 1.958 Palavras (8 Páginas) • 384 Visualizações
O URBANISMO COMO MODO DE VIDA NA CONTEMPORANEIDADE
Wesley Afonso da Silva Dias
Discente do Programa de Pós-graduação Projeto e Cidade da UFG
Adriana Mara Vaz de Oliveira
Docente do Programa de Pós-graduação Projeto e Cidade da UFG
Márcia Metran de Mello
Docente do Programa de Pós-graduação Projeto e Cidade da UFG
INTRODUÇÃO
O presente ensaio tem por objetivo analisar as obras: “A metrópole e a vida mental” de Georg Simmel (escrito em 1903) e “O urbanismo como modo de vida” de Louis Wirth (escrito em 1938), ambos os textos retratam a vida nas grandes cidades e as decorrências para os indivíduos que nelas habitam, sendo estes escritos nas primeiras décadas do século XX, o que representa o modo de vida deste período, e analisar as obras “Por uma antropologia da mobilidade” (escrito em 1994) de Marc Augé e “Cidades para um pequeno planeta” (escrito em 1997) de Richard Rogers que cita algumas considerações sobre modo de vida deste período contemporâneo, visando assim fazer uma análise comparativa entre estas para traçar paralelos e transversais entre os dois períodos, tendo por relevância constatar se vivemos um mesmo modo de vida.
O MODO DE VIDA URBANO SEGUNDO SIMMEL E WIRTH
A priori torna-se importante ressaltar que Gerog Simmel e Louis Wirth analisam o modo de vida em metrópoles, Berlim e Chicago respectivamente do início do Século XX, compondo assim a sociologia urbana.
Simmel abordou em seu ensaio que a vida na metrópole cria certas condições psicológicas que estimula a individualidade, onde existe uma proximidade física intensa, porém a distância social é enorme, uma ambiguidade, um dos fatos que corrobora para tal, é a acelerada mudança e descontinuidade encontros e desencontros proporcionados pela cidade grande, diferentemente ao que ocorre na vida rural, onde o fluxo é lento, cita nesta passagem:
Com cada atravessar de rua, com o ritmo e a multiplicidade da vida econômica, ocupacional e social, a cidade faz um contraste profundo com a vida de cidade pequena e a vida rural no que se refere aos fundamentos sensoriais da vida psíquica. A metrópole extrai do homem, enquanto criatura que procede a discriminações, uma quantidade de consciência diferente da que a vida rural extrai. (SIMMEL, 1973, p.12)
Neste sentido, Wirth comunga da mesma ideia de Simmel, onde o que pode ser considerado moderno está relacionado ao crescimento das cidades, a migração do meio rural para o urbano, porém não é apenas o crescimento que impacta o modo de vida dos habitantes, para ele não se trata apenas em uma questão quantitativa, mas sim das relações qualitativas que distingue o modo de vida das grandes cidades, assim não seria apenas pela concentração e densidade que definiria a cidade, mas sim as relações da vida social. (WIRTH, 1973)
Assim Simmel argumentava que existia uma superioridade do intelecto sobre as emoções que, no qual o primeiro permitiria uma maior adaptação a vida na cidade, preservando das forças sociais, considerando-se que a cidade seria adequada a atitude racionalista, que preservaria mais a vida, como um mecanismo de defesa a velocidade dos impulsos na metrópole, onde uma pessoa intelectualizada se torna indiferente a toda e qualquer individualidade. (SIMMEL, 1973)
Nesta mesma linha de pensamento, para Wirth o modo de vida é caracterizado pela especialização, diversificação e relações sociais, onde ocorre a substituição dos contatos primários pelos secundários, corroborando para a corrosão da solidariedade social. (WIRTH, 1973)
Para Simmel a lógica do dinheiro predomina, uma vez que a mente moderna se torna mais calculista e a economia do dinheiro enche o dia das pessoas. (SIMMEL, 1973)
Outro fator importante é a organização do tempo e espaço, necessário para o fluxo da vida existente nas metrópoles, criando necessidades e comportamentos, tais como o fenômeno psíquico que este considera o mais ligado a metrópole que é a atitude blasé, que consiste no poder de discriminar, tratando as pessoas com indiferença, desconfiando dos homens, torando a vida mais reservada. (SIMMEL, 1973)
Wirth elabora sua teoria a partir de um conjunto de proposições sociológicas, em relação a quantidade da população, a densidade, e a heterogeneidade dos habitantes, assim ele argumentou que o aumento do número de habitantes acima de um dado limite afetaria as relações entre estes e o espaço urbano.
Os contatos da cidade podem na verdade ser face a face, mas são, não obstante, impessoais, superficiais, transitórios e segmentários. A reserva, a indiferença e o ar blasé que os habitantes da cidade manifestam em suas relações podem, pois, ser encarados como instrumentos para se imunizarem contra as exigências pessoais e expectativas de outros. (Wirth, 1973, p. 109).
Assim a análise de Wirth converge com a de Simmel, fazendo da indiferença do ar blasé, um mecanismo de defesa do cidadão da cidade grande, onde o anonimato e o caráter transitório das relações sociais explicaria a racionalidade destes habitantes.
Porém esta atitude está ligada diretamente a cidade grande, onde o modo de vida na metrópole seria caracterizado pelo processo de diferenciação através das particularidades individuais, onde os habitantes buscam por exclusividade para afirmarem por sua individualidade, chegando a atitudes extremas como extravagâncias e caprichos para serem diferentes. (WIRTH, 1973)
Outro ponto importante que Wirth ressalta é o da mobilidade dos indivíduos, que estão sujeitos a um status flutuante no interior dos grupos sociais, que compõem a estrutura social das cidades, onde a heterogeneidade estaria associada a formação de grupos particularizados. (WIRTH, 1973)
Ao mesmo tempo que existem estas diferenças, a cidade possui uma influência niveladora que despersonaliza os indivíduos através da base econômica, divisão do trabalho, atividades educacionais e culturais.
O MODO DE VIDA URBANO SEGUNDO AUGÉ E ROGERS
Para Marc Augé, o mundo contemporâneo nos confere com uma série de paradoxos, dentre os quais o espaço-tempo parece consagrar o presente, como se nunca se passa-se para o futuro, um congelamento. (AUGÉ, 2010)
Outro paradoxo importante é o espacial e social, onde se enclausuram em bairros privados que segregam os demais habitantes para áreas excludentes, e um paradoxo não menos importante é o do domínio do conhecimento, onde a ciência não deixa de avançar para alguns, para outros é inacessível. (AUGÉ, 2010)
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