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Os Teóricos do Restauro

Por:   •  21/11/2021  •  Resenha  •  2.421 Palavras (10 Páginas)  •  167 Visualizações

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Em relação às teorias de restauro abordadas em sala é possível concluir que o compilado das ideias discutidas ao longo do tempo foi fundamental para  entender o restauro e seus princípios atuais. Mesmo que algumas teorias sejam divergentes e bastante criticadas ao longo dos tempos.
Le Duc, por exemplo, apesar de cometer o falso histórico e falso artístico em seus restauros, sua teoria é baseada na Integridade e leva em consideração o conhecimento profundo da obra, sua historiografia e sistemas construtivos, metodologia inicial para qualquer intervenção de conservação de uma obra. Outro ponto interessante no pensamento Leduciano é o pensar  na reutilização funcional da edificação, visando torná-las úteis  à sociedade.

Já Ruskin defende a Autenticidade do bem, e dentro de sua teoria a ideia que se destaca é a necessidade da manutenção periódica das edificações históricas, a manutenção do bem também é um ato de conservação, por isso é um ponto importante, sendo necessário pensar além do restauro, crítica realizada posteriormente por Boito.

Brandi traz pensamentos importantes para a Conservação, a necessidade de ler um bem como documento e assim compreendê-lo  por todo seu curso histórico. historiografia como uma técnica para a conservação garantirá efetivas ações de conservação e deve anteceder qualquer intervenção já que irá assegurar a permanência de seus atributos e, consequentemente, de seus valores, da autenticidade, da integridade e da significância.

Muñoz atribui um valor afetivo do bem, levando em consideração a cultura e a importância do bem para a sociedade, sendo não apenas uma análise técnica e objetiva, mas levar em consideração seus valores subjetivos.
Todos esses pensamentos irão contribuir para uma visão crítica da área de estudo, as edificações  fazem parte da memória do bairro sendo um testemunho do passado no cotidiano da cidade. É crucial pensar o quanto as edificações são importantes para os habitantes do bairro, como por exemplo o Mercado da Boa Vista, que apesar de não ser reconhecido como um bem patrimonial tombado, é uma edificação no qual atribui sensação de pertencimento e memória a população - valor subjetivo defendido por Muñoz.  Outras edificações como algumas casas de época, localizadas no recorte, estão totalmente descaracterizadas e sem uso, é preciso então repensar até que ponto o restauro irá ser benéfico a obra, e como atribuir uma utilização social a edificação.  
Portanto, as teorias estudadas irão ajudar a formar um senso crítica nas diretrizes projetuais para a àrea de estudo, e todas as teorias foram importantes para a construção de uma análise visando a conservação da Boa Vista.  

TEÓRICOS DO RESTAURO

Viollet le Duc

  • “restauração estilística”, ou seja, um processo que, baseado na unidade formal e estilística das edificações buscava criar um modelo idealizado na “pureza” de seu estilo.

  • Viollet-le-Duc [...] procurava entender a lógica da concepção do projeto [...] Não se contentava unicamente em fazer uma reconstituição hipotética do estado de origem, mas procurava fazer uma reconstituição daquilo que teria sido feito se, quando da construção, detivessem os conhecimentos e experiências de sua própria época, ou seja, uma reformulação ideal de um dado projeto”
  • Desenvolvendo uma metodologia de trabalho onde, muitas vezes, o resultado final da intervenção proporcionava uma obra completamente diferente da original, Viollet-le-Duc acreditava que dominando o sistema construtivo da edificação e conhecendo profundamente seu estilo arquitetônico, conseguiria atingir plenamente os objetivos de um processo de restauração. Dizia que se as formas do passado fossem compreendidas em suas instâncias formais e espaciais, serviriam de base para esclarecer os problemas da arquitetura do presente.
  • “Restaurar um edifício não é mantê-lo, repará-lo ou refazê-lo, é restabelecê-lo em um estado que pode não ter existido nunca em um dado momento”
  • O pensamento leduciano defendia a idéia, de que todas as partes retiradas de um monumento, deveriam ser substituídas por equivalentes de melhor material e por meios mais eficazes. Afirmava que era de bom senso do arquiteto substituir as tesouras de madeira de uma cobertura, já degradada e infestada por insetos, por uma em ferro de igual desenho e proporção. Em um caso como este, ou na obrigação de instalar um novo equipamento não previsto no uso original, deveria se fazê-lo não tentando dissimular esse novo elemento, mas sim, utilizar a sua inserção como ênfase à nova fase do projeto.
  • Defendia a idéia de reutilização funcional das edificações, lhes atribuindo utilizações concretas enquanto arquiteturas, com o objetivo de torná-las úteis à sociedade.

John Ruskin

  • onde descreveu sua apologia ao “ruinísmo” como um devoto às construções do passado, pregando o total e absoluto respeito à matéria original das edificações
  •  Sua luta contra os efeitos nocivos da industrialização revelou sua forte ligação com a cultura tradicional.
  • acreditava que a conservação da arquitetura do passado, como expressão de arte e cultura, nos permitiria entender a relação existente entre os estilos arquitetônicos e as técnicas construtivas como a resultante do fruto do trabalho de determinada cultura, utilizando-se da história dessas construções como o veículo de comunicação dos processos de desenvolvimento cultural
  • Manter vivo o testemunho cultural do passado no cotidiano da cidade, possibilita com que os indivíduos identifiquem nos espaços urbanos, e, nos monumentos históricos, marcos referenciais de identidade e memória.
  •  Ruskin defendia a idéia de que as edificações deveriam atravessar os séculos de maneira intocada envelhecendo segundo seu destino, lhe admitindo a morte se fosse o caso. Com algumas exceções permitia pequenos trabalhos de intervenção (9) que evitassem a queda prematura das edificações.
  • O conceito de pitoresco (10) é utilizado por Ruskin como uma forma de qualificar uma obra arquitetônica de reconhecido valor histórico e cultural. A beleza acrescentada pelo tempo confere às edificações um perfil peculiar e “estilo” característico
  • Para Ruskin a restauração era a mais completa e bárbara destruição que poderia estar sujeito um edifício. Considerava impossível restituir o que foi belo e grandioso arquitetonicamente, pois a alma dada ao prédio por seu “primeiro construtor” jamais poderia ser devolvida.
  • O processo de restauração se resumiria a uma imitação da arquitetura passada se transformando em uma falsa descrição do que teria sido aquela obra, criando assim uma réplica e um falso histórico, pois o novo estado pertenceria a uma nova época. Segundo Ruskin, o processo causava a perda de grande parte do significado documental das edificações históricas afetando sua autenticidade, seus valores evocativos e poéticos.
  • Ruskin sugeriu a manutenção periódica dos prédios históricos como forma de evitar os danos causados por intervenções de maior amplitude preservando a ação do tempo e o testemunho histórico.

 Camillo Boito

  • restauração e conservação não são a mesma coisa, sendo, com muita freqüência, antônimas. Os conservadores são tidos como “homens necessários e beneméritos” ao passo que os restauradores são quase sempre “supérfluos e perigosos”
  • A regra geral para a escultura era a de que não houvesse completamentos, excetuando-se quando fossem devidamente documentados (1), pois os mesmos poderiam desfigurar a obra, levando-a por um caminho totalmente diferente do que aquele previsto por seu autor.
  • Em relação à pintura, preconizava que se deveria saber o momento de parar e ser a intervenção menor possível
  • Sobre a arquitetura recaía, em sua opinião, a maior complexidade: distanciava-se de Ruskin e de le-Duc: do primeiro, à medida que não aceitava a morte certa dos monumentos e, do segundo, não aceitando levá-los a um estado que poderia nunca ter existido antes.
  • “nem acréscimos, nem supressões”, ficando evidente o respeito que os acréscimos ao longo da história deveriam ter e orientando, ao mesmo tempo, a mínima intervenção.
  •  Não se desejava mais levar o edifício a um estado inicial e, fundamentalmente, a um que jamais houvesse existido antes.

Cesare Brandi

  • necessidade de excluir o empirismo dos processos de restauração das obras de arte, garantindo, assim, que aquele imperativo moral de preservar nossas relíquias para as gerações futuras seja levado a cabo a contento.
  • Preconizava-se a necessidade de tornar o restauro um ato científico, que seguisse princípios e métodos cientificamente determinados, respeitando os monumentos enquanto documentos históricos, para os quais deveriam ser dispensados cuidados de filólogo, tal como defendia Gustavo Giovannoni, cujas idéias tiveram grande repercussão no entre-guerras europeu.
  • Assim, esses questionamentos suscitaram o pensamento de que o restauro era, para além de um ato científico de filólogo, também um ato crítico (
  • conceito de restauro como “o momento metodológico do reconhecimento da obra de arte, na sua consistência física e na sua dúplice polaridade estética e histórica, com vistas à sua transmissão para o futuro”
  • condiciona o ato de restauração à compreensão / experimentação da obra de arte enquanto tal, o que resulta na prevalência do estético sobre o histórico, na medida em que é exatamente a condição de artística o que diferencia a obra de arte de outros produtos da ação humana.embora não exclua a importância do valor histórico, intrínseco a todo monumento.
  • 1º. axioma: “restaura-se somente a matéria da obra de arte” (p. 31), que se refere aos limites da intervenção restauradora, levando em conta que a obra de arte, em sua acepção, é um ato mental que se manifesta em imagem através da matéria e é sobre esta matéria – que se degrada - que se intervém e não sobre esse processo mental, no qual é impossível agir. Daí decorrem as críticas às restaurações baseadas em suposições sobre o “estado original” da obra, condenadas a serem meras recriações fantasiosas, que deturpam a fruição da verdadeira obra de arte.
  • 2º. axioma: “A restauração deve visar ao restabelecimento da unidade potencial da obra de arte, desde que isso seja possível sem cometer um falso artístico ou um falso histórico, e sem cancelar nenhum traço da passagem da obra de arte no tempo” (p. 33). Ainda que se busque com a restauração a unidade potencial da obra (conceito de todo distinto de unidade estilística), não se deve com isso sacrificar a veracidade do monumento, seja através de uma falsificação artística, seja de uma falsificação histórica.
  • Assim, é o estado de conservação da obra de arte no momento da restauração que irá condicionar e limitar a ação restauradora, a qual deverá, sob o ponto de vista da instância histórica, “limitar-se a desenvolver as sugestões implícitas nos próprios fragmentos ou encontráveis em testemunhos autênticos do estado originário”
  •  E em relação à instância estética, os limites da ação do restaurador estão postos em função da matéria original da obra e de sua definição mesmo como obra de arte, pois “a unidade figurativa da obra de arte se dá concomitantemente com a intuição da imagem como obra de arte”
  • Brandi define ainda como princípios para intervenção restauradora mais dois aspectos fundamentais:

1º. “a integração deverá ser sempre e facilmente reconhecível; mas sem que por isto se venha a infringir a própria unidade que se visa a reconstruir” (p. 47);

2º. “que qualquer intervenção de restauro não torne impossível mas, antes, facilite as eventuais intervenções futuras” (p. 48).

Muñoz Viñas

  • Seu estudo indica que duas correntes dominantes orientaram grande parte das intervenções nos bens culturais nos últimos cem anos: uma inclinada para valores estéticos e outra para preceitos científicos.
  • em todos os objetos sujeitos ao restauro são obras de arte, bem como os motivos que levam a restauração desses bens podem relacionar-se a outros valores além do histórico e do artístico – sejam estes ideológicos, afetivos, religiosos, etc. - não sendo, portanto, inerentes ao próprio objeto nem, tampouco, cientificamente quantificáveis
  • Não obstante, questiona vários paradigmas da teoria da restauração, especialmente aqueles oriundos da teoria do italiano Cesare Brandi, publicada em meados do século XX. Critérios legitimados como mínima intervenção, distinguibilidade e reversibilidade, referências ainda fundamentais na justificativa das ações interventivas, são discutidos à exaustão. Partindo dessa análise minuciosa, o texto faz uma crítica explícita aos conceitos clássicos, apresentando a teoria contemporânea como alternativa para suprir suas limitações. Traz à discussão a necessidade de adoção de uma ética mais democrática e menos aristocrática a fim de que a restauração atenda a mais sensibilidades e contemple o maior número possível de formas de entender o objeto e atender equilibradamente a todas as suas funções e usuários.
  • No que se refere à ciência a serviço da conservação-restauração, o teórico sustenta que esta informa, mas não justifica as decisões que são tomadas na seleção de um determinado estado dos bens patrimoniais, logo, o restauro científico seria insuficiente para atender ao contexto contemporâneo da restauração
  •  Muñoz Vinãs adverte que as razões pelas quais se restaura e a seleção das coisas que se restauram são decisões culturais, antes de iniciativas de caráter estritamente técnico
  • O autor admite que os conceitos subjetivos emergentes do atual endendimento de cultura produzem efeitos também na restauração, área que exige contínuas e bem sustentadas tomadas de decisão.
  • o caráter subjetivo da conservação-restauração deve prevalecer sobre os aspectos objetivos de busca de verdades pois avalia que o que caracteriza a restauração não são suas técnicas ou instrumentos, mas sim a intenção com que se fazem as ações. Em suma, ela não depende do que se faz e sim para que se faz.
  • destaca como essencial o caráter simbólico da restauração, cujos objetivos e limites estão vinculados à manutenção e recuperação dessa capacidade - sendo esta a diferença de outras atividades similares como reparação, repinturas ou remendos.


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