PÓS-ESTRUTURALISMO E DESCONSTUÇÃ
Por: Rogério Fagundes • 5/7/2018 • Bibliografia • 2.909 Palavras (12 Páginas) • 145 Visualizações
PÓS-ESTRUTURALISMO E DESCONSTUÇÃO
Pedro Henrique Matos Barbosa Cardoso¹
Rogério de Jesus Fagundes¹
Resumo: O pós-estruturalismo é um método de análise das ciências humanas que se inspira na linguística e que depreende a realidade social a partir de um conjunto considerado elementar (ou formal de relações), aceitando modificações a partir de outras teorias que podem ser acrescentadas a ela. Quando essa corrente passou a fazer parte dos estudos existentes na arquitetura, houve uma série de inovações que já estavam ocorrendo desde o início do modernismo, como a combinação de códigos arquitetônicos de diversas – e opostas – influências. Logo após o pós-estruturalismo, nasce o desconstrutivismo, que leva os arquitetos Peter Eisenman e Bernard Tschumi a repensarem os conceitos e funções tradicionais da arquitetura. Assim, a desconstrução liberta o pensamento e o processo criativo, anulando os preconceitos, e propõe uma crítica às ideias pré-estabelecidas aos conceitos da forma, função, abrigo, entre outros.
Palavras-chaves: Pós-estruturalismo; desconstrução; arquitetura; filosofia; estruturalismo.
Abstract: Post-structuralism is a method of analysis of the human sciences that draws its inspiration from linguistics and which delineates social reality from considered set that is elementar (or formal relations), accepting modifications from other theories that can be added to it. When this current became part of the existing studies in architecture, there were a number of innovations that were already occurring since the beginning of modernism, such as the combination of architectural codes of various - and opposing - influences. After post-structuralism, deconstructivism was born, which leads architects Peter Eisenman and Bernard Tschumi to rethink the traditional concepts and functions of architecture. So, deconstruction liberates thought and the creative process, nullifying prejudices, and proposes a critique of already pre-established ideas to the concepts of form, function, shelter, among others.
Keywords: Post-structuralism; desconstruction; architecture; philosophy; structuralism.
INTRODUÇÃO
O estruturalismo começou com Ferdinand de Saussure, um linguista suíço que encarava a língua como uma estrutura de sinais linguísticos, esses que fariam parte de uma estrutura maior e mais importante.
“A grande fundamentação da teoria estruturalista é extrair da pluralidade da fala um sistema de significação de uma linguagem, ou seja, o todo é mais do que a soma das partes” (SANCHEZ, 2012). Dito isso em outros termos, um conjunto individualizado é uma estrutura com características próprias e que em muito excede as de suas partes consideradas em particular ou mesmo em conjunto. Para explicar a posição dos estruturalistas, classicamente é utilizado o exemplo da melodia. Ela é composta por notas musicais, mas o estudo isolado dessas notas nada diz sobre melodia, e sim o estudo do conjunto e de seus elementos estruturantes (sequencias, posições entre as notas, ênfases), que vão permitir o entendimento dessa melodia.
Claude Levi-Strauss, antropólogo, na primeira metade do século 20, conviveu com populações que ainda viviam em moldes de uma sociedade primitiva, observando sistematicamente seus comportamentos para formular umas conclusões importantes. Levi-Strauss percebeu que existia dentro das relações sociais algo vinculado com uma questão da linguística, podendo colocar ambas em paralelo. Essa conclusão ia além da comunicação entre os homens, estendendo-se para o entendimento de que a estrutura da sociedade seguia basicamente a estrutura da linguagem. De início, essa aplicação da linguística entrou nas relações da antropologia, mas aos poucos foi sendo espalhada e difundido para as demais ciências, chegando na arquitetura, onde se encontra uma visão plenamente pós-moderna, evocando elementos tradicionais com elementos novos, exercendo uma confluência de teorias e estilos, buscando sempre uma arquitetura que pudesse ter seus códigos organizados de uma maneira mais livre, sem regras formuladas.
O pós-estruturalismo nasce quando “além dos padrões da análise estrutural, o método do estruturalismo passou a ser flexibilizado, abrangendo a cultura desse tempo como um todo, e seus conceitos estruturantes são revisitados e desconstruído” (COLLINS, 2009).
DESENVOLVIMENTO
O pós-estruturalismo é a corrente de pensamento semelhantemente ao estruturalismo e empreendida por pensadores formados sob ideias, e que se adiantam a elas. É importante ressaltar que o pós-estruturalismo não significa uma ruptura absoluta com o estruturalismo, nem uma sequência que extingue o movimento surgido anteriormente. As duas teorias são produto de um pensamento de época similar, que foi se desenvolvendo e sofrendo mudanças com o acréscimo de outras teorias.
Robert Venturi, ao projetar a Casa Vanna Venturi, para sua mãe, utilizou elementos modernos inspirados em Corbusier e a simplicidade formal já existente no Estados Unidos, características heterogêneas proclamadas pelo pós-estruturalismo, que pregava recombinar os códigos, dando-lhes sentido, enquanto faz relação com o contexto histórico e cultural em que esse objeto foi inserido.
Figura 1 – Fachada da Casa Venturi [pic 1]
Fonte: www.archdaily.com.br
A obra de Venturi não se trata apenas da soma de códigos operativos como em uma lista, mas da associação existente entre eles, substituição de uns por outros e combinação ao longo do sistema:
A janela cortada, a chaminé, a janela em fita, a grande janela guilhotina, a moldura cimbrada, a verga de concreto são lidos como componentes fragmentários em uma alegoria na qual seus significados originais são alterados em um novo contexto” (apud FRIEDMAN, 1998)
Aprofundando-se na obra de Venturi, percebe-se que o arquiteto recebeu diversas influências distintas, como a cobertura inclinada, derivada do Shingle americano, a simetria de Palladio, em Nymphaeum da Villa, o que mostra que há de fato uma grande mistura de elementos tanto tradicionais quanto modernos na residência (COLIN, 2010).
A casa de Venturi constitui-se de uma arquitetura que se abre, devido aos seus mais diferentes referenciais, evocando lembranças, e pelo fato de ser feita de maneira que segue rigorosamente o programa do cliente. A união de elementos do passado com outros do presente traz a poética para a obra, não mais presa, mas livre e variada.
Já no final dos anos 80 iniciou o desconstrutivismo. Este estilo é caracterizado pelo desenvolvimento de traços não lineares e fragmentados, cujo princípio da ideia é justamente distorcer a base da arquitetura. O visual resultante é algo inusitado e diferente, que se destaca das demais construções com aparências retas. O desconstrutivismo teve como influências principais os filósofos franceses Jacques Derrida e Peter Eisenmam, onde o último faz referências ao expressionismo e ao cubismo, e tem como base o movimento literário chamado desconstrução, cujo nome deriva do construtivismo russo que existiu na década de 1920.
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