REALENGO, AQUELE DESABAFO!: ÓTIMO DOCUMENTÁRIO SOBRE POLÍTICA DE REASSENTAMENTO DE FAVELAS
Por: Flávia Campelo • 8/4/2019 • Resenha • 775 Palavras (4 Páginas) • 186 Visualizações
“Realengo, aquele desabafo!”: ótimo documentário sobre política de reassentamento de favelas
“Realengo, aquele desabafo!” é um interessante documentário sobre a política de reassentamento de favelas. O filme mostra o processo de reassentamento de 598 famílias moradoras de assentamentos informais na cidade do Rio de Janeiro.
Após um período de 30 anos, em que se reconheceu a necessidade de se preservar o direito à moradia, a cidade do Rio de Janeiro vem presenciando a retomada das remoções, justificadas pela existência de áreas de risco ou pela realização de obras que visam parar a cidade para os grandes eventos que se aproximam: a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016.
Em uma cidade, habitação representa a principal função urbana, pois é a partir da concentração de pessoas e de domicílios que a dinâmica urbana é constituída. Nos anos 60, o Rio de Janeiro sofreu intenso processo de remoção de favelas, com seus moradores sendo realocados em conjuntos de habitações precários, em periferias distantes.
Para atender essas demandas, a prefeitura vem realizando o reassentamento de famílias de diversos pontos da cidade. Empreendimentos do programa Minha casa, minha vida, todos localizados na zona oeste da cidade.
Em 2010, 598 famílias de baixa renda passaram a conviver no mesmo endereço, localizado a cerca de 30km de distância dos seus locais de origem. Os ex-moradores de situações de favelas, situadas nos bairros de Copacabana, Madureira, Rocha Miranda e Olaria passaram a residir no condomínio Vivendas do ype branco. O residencial ao lado, vivendas do Ypê amarelo, foi destinado somente às vítimas das chuvas e consequentes desabamentos do Morro do urubu, em Pilares.
Grande parte das famílias viveu situações dramáticas durante a ida para Realengo, tiveram que sair as pressas de seus antigos lares. Para os moradores do Ypê branco, esta mudança se deu por uma ordem da prefeitura. Estabeleceu em média, para os futuros moradores, o prazo de 5 dias para que deixassem suas casas. Essas pessoas só descobriram onde e como iriam morar quando foram deixadas junto com seus pertences pessoais diantes das portas do novo lar.
O local escolhido pela prefeitura como começo de uma nova vida apresenta uma série de obstáculos aos recém moradores. Quando se trata de ter acesso á serviços e equipamentos urbanos, longas distâncias precisam ser percorridas para se chegar ao supermercado, ao posto de saúde ou à praça mais próxima. Faltam serviços de banco, farmácia, áreas de lazer e vagas nas escolas.
66% dos estudantes não conseguiram vaga nas escolas locais. Mercado mais próximo: 3km. Tempo médio de deslocamento até o centro: 60min. Até o momento em que o documentário foi feito, não havia rede de telefonia fixa, internet e nem telefones públicos no empreendimento. 33% dos moradores perderam seus empregos após a mudança. A prefeitura subdisiará a compra dos imóveis durante 10 anos, após este prazo as escrituras serão liberadas, o que implica aos moradores uma sensação de que estão presos, pois não podem vender ou alugar o local onde vivem, a única alternativa seria doar, coisa que não podem fazer pois não possuem outra opção de moradia.
Muitos enfrentam diariamente a dificuldade de acesso à transportes e de tempo no deslocamento no trajeto aos pontos de trabalho ou de estudos. A única via que liga os Ypês de Realengo ao restante da cidade se dá por meio da Av. Brasil, e grande parte dos moradores dos Ypês, precisam pegar mais de uma condução para chegarem aos seus empregos, nas áreas centrais da cidade, isso encarece as despesas de seus patrões, o que facilmente os dispensam.
A Caixa Econômica Federal estabeleceu uma série de normas de manutenção do empreendimento: não é permitido trocar portas e janelas, pintar a fachada de cor diferente, ou mesmo plantar no gramado, não se pode pendurar roupas em locais visíveis, ou seja, nas janelas e nas escadas de acesso, nem utilizar as escadas e patamares para colocar vasos de plantas. Não é permitido estabelecer atividades de comércio e serviços nas residências, os moradores também não podem fazer pequenas confraternizações no interior das residências (tudo deve ser feito no salão próprio).
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