RESUMO RESENHAS PENSADORES RESTAURO
Por: Gabryella Panza • 4/12/2016 • Resenha • 2.513 Palavras (11 Páginas) • 1.124 Visualizações
O pensamento do restauro foi a consequência do amadurecimento das propostas de Le-Duc e Ruskin: os trabalhos de Le-Duc, Boito e Giovanoni, apresentaram-se sob a forma de “receituário” que estabelece um código de erros e acertos fundamentados na experiência prática de exemplos e observações ao restauro do passado. Já a teoria de Brandi, a restauração é retirada do empirismo, lançando conceitos filosóficos e de uma linha de raciocínio lógica - é inicialmente rígida e sempre explicada por meio de exemplos extremos e polêmicos.
“Restauração” – Le-Duc
Le Duc explica o entendimento pela restauração ao longo da história, traça o percurso da preservação dos monumentos arquitetônicos na França do século XIX, e aborda sua teoria de restauro, que defende postura crítica do arquiteto restaurador e os princípios metodológicos a serem observados.
Embora este tema sempre estivesse presente, principalmente ao fim dos períodos das civilizações, nenhum povo praticou a restauração como naquele momento: no século XIX adotou-se uma postura crítica ao passado, e o desenvolvimento dos estudos arqueológicos contribuiu para o entendimento da arquitetura medieval.
Comissão dos monumentos históricos: seu programa de restauro foi fundamental ao estudo, e posterior restauração dos monumentos franceses. Tinha como princípio a restauração em seu estilo original (aparência e estrutura). O conhecimento completo do edifício, o levantamento documental da obra e o plano de ação passam a ser essenciais - o arquiteto restaurador deve ter senso crítico para cada caso, devendo ter conhecimento dos períodos artísticos, peculiaridades das escolas, domínio dos materiais e técnicas construtivas dos diversos locais e tempo, e busca por se colocar no lugar do construtor original. Para cada intervenção, deve-se haver um planejamento baseado em documentos para evitar que uma atitude errada leve à sucessivos erros. Estes trabalhos da comissão tiveram grande alcance social ao movimentar setores ligados a construção civil (estimulou-se a formação de mão de obra, criação de novos ateliês e o fornecimento de materiais em várias províncias francesas).
Nos acréscimos ou substituições deve-se optar por materiais superiores aos originais visando maior longevidade.
Afim de evitar grandes adaptações, recomenda-se adoção de programas de usos compatíveis com o original para que ocorram apenas pequenas alterações necessárias ao conforto.
Le-Duc trata os monumentos como objeto plástico de valor artístico, passível de preservação. Para ele, restaurar é recriar de uma forma que jamais possa ter existido num certo período: justifica que o projeto de restauro recrie um novo edifício ao admitir que ele possa nunca ter sido daquela forma. Possui discurso moderno, pois considera aspectos práticos e/ou científicos para tratar a questão, e recomenda alternativas técnicas.
Dá margem à interpretação do restaurador nos traços originais do monumento, não atentando-se ao estado em que chegou no tempo presente. E embora pontue os princípios que devam reger as intervenções, até se contradizendo, defende a postura crítica do arquiteto.
“Restauração” contribuiu à sistematização do restauro, defendendo a postura crítica do arquiteto diante a obra, indicando um método de trabalho.
“A Lâmpada da Memória” - Ruskin
John Ruskin divide seu texto em vinte itens, onde desenvolve o pensamento sobre a preservação, refletindo sobre a memória e o caráter dos edifícios, para depois concluir sobre a restauração.
Sendo a arquitetura testemunho dos feitos dos homens, deve-se estudar e preservar sua história. Mantém seu discurso dentro da moral cristã, defendendo a preservação como honra à memória do pai: a beleza das cidades depende das habitações, não dos templos: elas possuem caráter sagrado, e os filhos tem obrigação moral de zelar por esse bem, honrando a memória do país, pois a falta de cuidado com essas casas resultaria em aglomerações humanas desorganizadas, sem vida e infelizes. A casa é que demonstra o verdadeiro valor do homem.
A beleza do edifício está em seu significado e seu valor histórico, mais que em suas formas e decoração, pois nem todo monumento nasce belo, mas pode tornar-se. Deve-se cuidar do edifício aceitando a ação do tempo sobre ele, pois a beleza depende de seu significado histórico.
O Gótico expressa os feitos nacionais e serve de exemplo, pois em sua arte, os ornamentos eram como narradores da história e não apenas elementos decorativos.
Possui postura romântica e pessimista ao afirmar que o verdadeiro significado da restauração ainda não foi entendido, pois é impossível “restaurar” um edifício: sua vida só pode ser recuperada por seu autor, ao dá-lo outra “alma” em outra época, cria-se um novo. As ruínas têm maior valor histórico! Admite alguns trabalhos como conservação, mas com a consciência de que com o tempo, as alternativas de preservação esgotam-se, portanto o fim do edifício é certo, e deve ser digno e verdadeiro sem restaurações desonrosas, como demolições e/ou restauros.
Ruskin contribuiu para o avanço das críticas aos trabalhos de restauro e suas intenções, lançando novas ideias sobre preservação, e relacionando-as com a memória e encarando o monumento como, além de uma obra de arte, um bem simbólico à história da humanidade.
Comparativo Le-Duc/Ruskin
Apesar de opostas, são visões complementares: Le-Duc ressalta a obra de arte, valorizando soluções técnicas para manter o edifício, e Ruskin prioriza o valor histórico e subjetivo, criticando os restauradores que, ao buscarem a salvaguarda de um bem, acabam por destruí-lo.
Le-Duc valoriza a arte medieval, principalmente quanto a sua forma e estrutura, enquanto Ruskin cita a arte gótica como fonte de narração histórica.
“Restauradores” – Boito
Conferência apresentada na Exposição de Turim de 1884. Este texto de Boito retoma e desenvolve aspectos dos textos anteriores, como os princípios apresentados no Congresso de Engenheiros e Arquitetos Italianos de 1883. Trata do espírito crítico do século XIX e aprecia a arte gótica. Traça os principais pontos da restauração da escultura, pintura e arquitetura.
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