A VERDADEIRA ÓTICA DO ESTADO DE EXCEÇÃO
Por: aline19palma • 27/10/2019 • Artigo • 1.937 Palavras (8 Páginas) • 106 Visualizações
A VERDADEIRA ÓTICA DO ESTADO DE EXCEÇÃO
Aline da Conceição Silva Dias Palma ¹
RESUMO:
Os direitos fundamentais estão garantidos? O filme americano V de Vingança expõe bem esta problemática, retratando a luta de um indivíduo, de codinome V, contra a atuação do governo opressor, estabelecido na Inglaterra futura do século XXI. O filme, a partir de tal dilema mostra a geração recente, que o Estado de Exceção está muito além daquele previsto na Constituição.
Palavras-chave: Estado de Exceção, Direitos Fundamentais, Opressão.
1. INTRODUÇÃO
O referido filme faz uma crítica sobre o exercício do Estado na sociedade, trazendo por meio da ficção aspectos presentes nos dias atuais. Esta produção cinematográfica retrata o poder coercitivo do Estado, como arma limitadora dos direitos e garantias fundamentais. Poder este que faz surtir na população o medo, principal característica do processo de politização presente no filme. Eis que surge assim, o chamado Estado de Exceção, caracterizado pela opressão.
Nesse estudo, pretende-se fazer uma análise sobre o Estado de Exceção presente no filme, além de se estabelecer uma correlação dos aspectos presentes na ficção, com a realidade dos dias atuais.
2. O GOVERNO OPRESSOR
A história começa com cenas de um homem e seu ataque fracassado no dia 5 de novembro. Depois mostra V e Evey, arrumando-se em seus quartos enquanto assistem a um importante programa de TV.
Nesta cena, logo de início, demonstra-se o caráter alienador e controlador dos meios de comunicação. Posteriormente, Evey sai de casa e desrespeita o toque de recolher, sendo surpreendida por representantes do governo, os chamados homens dedos. Logo depois, é salva por um misterioso cavalheiro de codinome “V”. Começa assim a se desenrolar a história da luta de um homem contra o governo manipulador.
A partir da narração dessa história é possível identificar os traços característicos do Estado de Exceção presente no filme. A população vivia controlada pelo Estado, havia o toque de recolher e os meios de comunicação eram marcados pela censura, só podendo transmitir aquilo que lhe fosse permitido.
O governo existente torturava, perseguia e matava negros, homossexuais e pessoas de diferentes religiões. Essa perseguição se deu por meio de um combate biológico a estas pessoas, que eram consideradas anormais pelo governo. O próprio Estado deu início a uma epidemia, que foi causada por um vírus produzido em laboratório. Esta tática foi justamente uma forma que o governo encontrou para dar um golpe, fazendo surgir uma crise para que esse Estado de Exceção fosse instaurado. Esse governo tinha muitas semelhanças com o totalitarismo, a exemplo o Nazismo. Um exemplo disso foi o Holocausto ocorrido na Alemanha nazista. O auto-chanceler, lembra bem a imagem de Hitler, com sua tirania, ditadura e pela busca por uma sociedade em que não houvesse pessoas diferentes.
Quando o filme tem início, mostra-se um ataque contra o Parlamento ocorrido no dia 5 de novembro, e nesta cena são narradas as seguintes palavras: “Lembrai, lembrai do dia 5 de novembro, a traição de pólvora e enredo, não sei de nenhuma razão para que a traição de pólvora, nunca deve ser esquecido”. Esse trecho é parte de uma música de John Lennon, e remete ao dia 5 de novembro de 1965, dia este no qual se daria a Conspiração da Pólvora, porém esta não deu certo. Esta conspiração era uma tentativa de um grupo de católicos para assassinar o rei Jaime I e grande parte da aristocracia, pois as pessoas de diferentes religiões estavam sendo perseguidas. O plano era destruir o parlamento do país, com todos integrantes dentro. V usa máscara de Guy Fawkes, que foi o responsável pela Conspiração da Pólvora, dando a continuidade de que “não é o homem que permanece, são suas ideias”. Portanto, a partir deste episódio retratado de forma breve no filme, é possível identificar que sempre houve um Estado de Exceção e sempre haverá, sendo este Estado não só aquele previsto na Constituição, mas todos que de certa forma firam os direitos humanos.
No Brasil, por exemplo, esse Estado pôde ser identificado durante a ditadura e atualmente nas favelas, nas chamadas UPPs (Unidades de Pacificação Intensiva).
Os símbolos são grandes destaques no filme. O principal era o que V deixava nas suas representações, o V inserido no círculo vermelho, pode ser visto como o V da vingança, mas se visto ao contrário é também o A do Anarquismo, sendo esta, a base filosófica do filme.
O toque de recolher demonstra a suspensão da liberdade de ir e vir, sendo este um dos principais direitos inerentes a todos os cidadãos. Aqueles que não obedecessem a esta imposição eram severamente punidos, estando vigiados pelos chamados homens dedos. Aqui nos remete a obra Vigiar e Punir de Foucault, com sua análise de que somos a todo tempo vigiados, até mesmo pelas instituições que compõem a sociedade.
Os meios de comunicação presentes no filme eram uma das principais armas para manipular os indivíduos. A censura era a característica marcante presente na mídia, tudo era controlado, não podendo haver uma pluralidade de ideias transmitidas, além disso, o principal programa de TV, conhecido como A Voz De Londres, repercutia propagandas do governo e mostrava uma sociedade perfeita. A população, dessa forma ficava alienada, conformada com tudo o que viam. Tudo isso era necessário para se fazer um tipo de lavagem cerebral nos cidadãos. Não havia desejo de mudança, até o momento em que V, invade o principal canal de televisão com o intuito de transmitir aos cidadãos a verdadeira face do governo. A partir desse momento, começa a ser despertado nas pessoas um espírito revolucionário.
O medo era o principal fator que limitava os indivíduos e que impedia o fim do Estado de Exceção. Mesmo que o povo tivesse anseio por mudança, não poderiam fazer nada, pois havia o medo da punição. Só poderia existir uma revolução se a coragem fosse instaurada. Então o personagem mascarado, começa a realizar ataques, justamente para que este espírito corajoso se alastrasse na população. Em um determinado momento V disfarçado de homem do governo, captura Evey e leva para uma falsa prisão. Lá a personagem é maltratada, sofrendo muito por isso. Porém chega uma hora em que Evey encontra uma autobiografia, de uma mulher que por ser homossexual tinha sido cobaia da cura para os experimentos biológicos. Nesta biografia ela relata tudo que sofreu pela não aceitação de sua maneira de viver, A partir disso, Evey perde seu medo, torna-se mais forte que este, e era isso que V desejava, libertar a personagem do casulo que a prendia. No final, a barreira do medo também é rompida, os cidadãos mascarados marcham até o parlamento, mostrando que não eram mais controlados pelo o ordenamento estabelecido.
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