Análise sobre o filme Terra Fria

Análise sobre o filme Terra Fria - ("North Country")

O filme lançado em 2005, estrelado por Charlize Theron, narra a história, baseada em fatos reais, de Josey Aimes, que promoveu uma ação coletiva de assédio sexual contra uma mineradora norte americana.

A trama é tecida com o ingresso de Josey em um posto de trabalho em uma mineradora, um local de trabalho majoritariamente masculino, juntamente com outras mulheres. Durante o enredo, é notória a discriminação de gênero ao mostrar a personagem principal e suas colegas de trabalho sofrerem diversos tipos de assédio, moral e sexual, pelo simples fato de serem mulheres.

Para o sistema jurídico brasileiro, o assédio sexual é caracterizado da seguinte maneira, conforme o autor Welington Almeida Pinto: "A princípio, trata-se de uma coerção sexual normalmente exercida por uma pessoa que, no trabalho, na escola ou, em qualquer outra organização, ocupa cargo hierarquicamente superior e impõe a seus subordinados favores sexuais em troca de favores ou promoções".

Ainda, de acordo com Código Penal Brasileiro, em seu art. 216-A, afirma que a tipificação do crime é caracterizada pelo intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, através de um superior hierárquico na relação de emprego, cargo ou função.

Diante da perspectiva jurisdicional brasileira, façamos a análise da situação da obra cinematográfica.

Há assédio sexual e/ou sexual no filme? Em quais cenas?

Em diversas cenas as funcionárias passam por constrangimentos e agressões físicas e verbais dos colegas, tanto dos funcionários quanto da própria diretoria da empresa, além de serem tratadas com desprezo e serem constantemente tratadas como chacotas, e em todo momento, tantos as agressões propriamente ditas quanto as "brincadeiras" (que também eram agressões) tinham conotações sexuais.

Pelo fato de serem mulheres, todos os outros homens que trabalhavam na mineradora agiam como seus superiores hierárquicos, e pelo que se entende então havia uma relação de subordinação entre homens e mulheres.

Com isso, pode-se considerar que diante das situações apresentadas na trama, o assédio sexual é caracterizado, contudo fica evidente na maioria das cenas que o interesse dos homens não era inicialmente obter favores sexuais, mas sim subjugá-las e o modo como eles achavam eficaz de fazê-lo era agredindo-as verbalmente, tocando partes íntimas, escrevendo ofensas nas paredes do banheiro feminino. O principal intuito dos homens era demonstram que elas não eram bem-vindas e não seriam aceitas naquele ambiente de trabalho. Era por meio da repressão que eles afirmavam que para eles era um insulto trabalhadoras mulheres em um ambiente cujo trabalho era basicamente realizado por homens.

Como se sabe, em determinadas regiões, apesar do pequeno avanço intelectual da sociedade quanto aos direitos femininos, principalmente com relação ao trabalho, ainda há preconceitos quanto a esse tipo de situação, sendo as mulheres vistas como obrigatoriamente donas de casa, não sendo muito bem aceito pela em certas regiões uma mulher trabalhar fora de casa, muito menos para exercer funções tipicamente masculinas.  

 O enredo do filme trata o final da década de 80 e a região é o norte dos Estados Unidos (o que justifica o nome original do filme, cuja tradução literal é "Norte do país"), em uma pacata cidade do interior e isso é fator que determina, entre outros, o preconceito local do trabalho feminino.

O assédio moral é caracterizado pelo autor Rodolfo Pamplona Filho como também uma ideia de cerco com a vítima, que fere a dignidade psíquica do indivíduo e de forma reiterada, com a finalidade de exclusão do ambiente e convívio social, é muito presente em diversos momentos do filme, ao observarmos o constrangimento sofrido pela personagem principal e suas colegas de trabalho, como a cena mais impactante do filme, no qual os operários prendem uma das mulheres em um banheiro químico (que elas conquistaram depois de uma reinvindicação, pois anteriormente não havia banheiros nos locais externos e para os homens não era um problema devido suas condições físico-genitais) e o tombam, derrubando nela todo o excremento que ali continha. Ainda, nas cenas em que eles escrevem nas paredes dos banheiros, agridem-nas verbalmente aos sussurros (em alto e bom som) ao passarem por elas nos corredores.

O assédio moral, em regra, é caracterizado por uma conduta reiterada e prolongada, degradando e humilhando a vítima repetitivamente, e todas essas características são facilmente detectadas nas cenas descritas.

Uma cartilha denominada Assédio Sexual e Moral no Trabalho produzida pelo Ministério Público do Trabalho em 2009 (Cartilha elaborada pela Subcomissão de Gênero com participação da Comissão de Ética do MET) indica que o principal objetivo do agressor é desestabilizar a vítima profissional e emocionalmente, além de querer se livrar da vítima, ou seja, querer peça demissão, o que é exatamente o que almejam os homens da mineradora.

O autor Wellington Almeida denomina como assédio visual quando é incisivo do assediador mostrar à vítima materiais eróticos ou pornográficos, que a deixe em situação constrangedora, como fotografias ou pôsteres que mostrem ou sugerem um ato sexual ou erótico, além de caricaturas indecentes, que é exatamente o que ocorre na trama com os escritos no vestiário, ou mesmo a cena que a personagem principal encontra um pênis de borracha em sua lancheira.

As cenas que demonstram um comportamento claro de que há intenção de obtenção de favores sexuais é quando o personagem Bobby Sharp leva Josey para um local isolado e insinua que os dois tenham relações sexuais ali mesmo, uma clara investida e com certo tom de ameaça ao dizer que se ela caísse de onde eles se encontravam (uma esteira alta que transportava minério, depositando-o uma imensa pilha) ela jamais seria encontrada.

Outro momento, com o mesmo personagem, após uma reclamação da vítima perante a diretoria da empresa, ele fica ciente da reclamação de Josey e em forma de represália, pega Josey com força, a joga em uma pilha de minério e toca suas partes íntimas, afirmando que “era isso que ela queria”. Depois desse momento, Josey decide demitir-se quando conta para todos no refeitório e é desacreditada.

A cena do toque supracitada, bem com uma cena em que uma das operárias é tocada nos seios por um dos homens, é tipificada como assédio físico, caracterizado pelo contato físico insistente e indesejável com a vítima.