CRONICA DE UMA MORTE ANUNCIADA
Por: Yasmin Meira • 6/5/2020 • Resenha • 654 Palavras (3 Páginas) • 314 Visualizações
A obra Crônica de Uma Morte Anunciada, de autoria de Gabriel Garcia Márquez, publicada em 1981, traz em forma de investigação jornalística, a morte de Santiago Nasar e todo o contexto em que ocorreu.
Os moradores do povoado de Sucre, na costa norte da Colômbia, próximo a fronteira com a Venezuela, tem seu cotidiano pacato, transformado, após um crime horrível. Nasar, um rapaz conhecido, filho de um proprietário de terras, é acusado por Angela, de ter sido o seu primeiro envolvimento sexual antes do casamento já marcado. No contexto de uma sociedade conservadora e antiquada, a atitude de Santiago é considerada desonrosa e responsável por manchar a imagem da moça. Isso causa grande revolta entre os irmãos mais velhos da jovem, que planejam o assassinato de Nasar, como forma de defender a integridade da irmã. A questão mais intrigante de todo esse contexto é o fato dos irmãos Vicários anunciarem por toda a cidade e para todos os moradores qual o seu objetivo e não acontece uma interferência por nenhuma parte, muitos acreditam que o rapaz conseguirá se defender ou por sua condição financeira está imune. As pessoas atingem um estado de apatia e nada tentam para evitar a ação o que resulta na morte, sem direito a nenhuma defesa. Diante de todas essas circunstâncias, são variadas as hipóteses que surgem entre elas que Angela teria sido abusada sexualmente ou teria acusado Santiago a fim de proteger alguém, outra seria o fato de Pedro e Pablo terem anunciado o crime com o objetivo de que a vítima conseguisse fugir.
É possível constatar que Garcia buscar agir de forma critica, principalmente em relação à hipocrisia dos moradores, a vida sexual de Angela era tratada como mais importante do que um provável abuso sofrido, esse que abrangia muitas outras meninas, revelando assim a mentalidade primitiva das pessoas.
Dois componentes da obra apresentam uma maior relevância quando tratamos de evitar o crime, a cozinheira da família Nasar, que ao saber de toda a intenção dos irmãos Vicários, uma oportunidade de vingar todo seu rancor acumulado de ações passadas e não realiza nenhuma ação para evitar o resultado. Vitória acaba praticando um crime de omissão agindo com dolo, já que trabalha para Santiago, sabe de todo objetivo dos seus assassinos e se omite, para a partir disso obter vantagem. O Delegado que por sua relação pessoal acredita que Pedro e Pablo, não chegariam a consumar o fato, acaba praticando um crime comissivo por omissão, e deve responder por homicídio, uma vez que tem a obrigação jurídica de agir em circunstâncias como essas.
Ficar inerte diante de determinada ação e de tal forma contribuir para o resultado final, infelizmente não é algo característico apenas da obra de Garcia Márquez, o não agir ocorre com mais frequência do que imaginamos. No Brasil, o publicamente conhecido caso do menino Bernardo, traz essa temática de forma bastante clara. O menino de classe media alta, filho de um medico bem sucedido na cidade, sofria de maus tratos absurdos, não se alimentava, não convivia com a irmã mais nova, não podia usufruir de coisas como o computador da casa e a piscina. Buscava sempre alternativas como dormir na casa de amigos para não ter que voltar ao espaço que dividia com pai e madrasta, fazia atividades escolares com colegas, apresentava falta de cuidado e perambulava sozinho pelas ruas da cidade de Três Passos, no interior do Rio Grande do Sul. Bernardo chegou a pedir em um Fórum que fosse entregue a uma nova família. O resultado foi a morte do menino, o corpo foi encontrado a 80 km de onde morava, sendo a madrasta e uma amiga acusadas do crime. Todos os moradores da pequena Três Passos conviviam com a situação do garoto, com os imensuráveis sofrimentos que convivia e mesmo assim se tornaram apáticos diante de tudo, até quem lhe deveria garantir a proteção, o sistema judiciário se tornou inativo nesse momento.
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