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Fichamento Casa Grande e Senzala

Por:   •  31/5/2017  •  Trabalho acadêmico  •  3.444 Palavras (14 Páginas)  •  689 Visualizações

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 Prefácio à 1 edição

No Brasil, as relações entre os brancos e as raças de cor foram desde a primeira metade do século XVI condicionadas, de um lado pelo sistema de produção econômica- a monocultura latifundiária; do outro, pela escassez de mulheres brancas, entre os conquistadores.

****O açúcar não só abafou as indústrias democráticas de pau- brasil e de peles, como esterilizou a terra, em uma grande extensão em volta aos engenhos de cana, para os esforços de policultura e de pecuária. E exigiu uma enorme massa de escravo. A criação de gado, com possibilidade de vida democrática, deslocou-se para os sertões. Na zona agrária desenvolveu-se, com a monocultura absorvente, uma sociedade semifeudal- uma minoria de brancos e brancarões dominando patriarcais, polígamos, do alto das casas-grandes de pedra e cal, não só os escravos criados aos magotes nas senzalas como os lavradores de partido, os agregados, maradores de casas de taipa e de palhas vassalos das casas-grandes em todo o rigor da expressão.

Vencedores no sentido militar e técnico sobre as populações indígenas; dominadores absolutos dos negros importados da Africa para o duro trabalho da bagaceira, os europeus e seus descendentes tiveram entretanto de transigir com índios e africanos quanto às relações genéticas e sociais.

A escassez de mulheres brancas criou zonas de confraternização entre vencedores e vencidos, entre senhores e escravos. Sem deixarem de ser relações – as dos brancos com as mulheres de cor – de “superiores” com “inferiores” e, no maior numero de casos, de senhores desabusados e sádicos com escravas passivas, adoçaram- se; entretanto, com a necessidade experimentada por muitos colonos de constituírem família dentro dessas circunstancias e sobre essa base. A miscigenação que largamente se praticou aqui corrigiu a distancia social que de outro modo se teria conservado enorme entre a casa-grande e a mata tropical; entre a casa-grande e a senzala. O que a monocultura latifundiária e escravocrata realizou no sentido de aristocratização, foi em grande parte contrariado pelos efeitos sociais da miscigenação.  

***Ligam-se à monocultura latifundiária males profundos que tem comprometido, através de gerações, a robustez e a eficiência da população brasileira, cuja saúde instável, incerta capacidade de  trabalho, apatia, perturbações de crescimento, tantas vezes atribuídas à miscigenação.

 A importância da hiponutrição, destacada por Armitage, McCollurn e Simmonds e recentemente por Escudero; da fome crônica, originada não tanto da redução em quantidade como dos defeitos da qualidade dos alimentos, traz a problemas indistintamente chamados “decadência” ou “inferioridade” de raças, novos aspectos e, graças a Deus, maiores possibilidades de solução. Salientam-se entre as consequências da hiponutrição a diminuição da estatura, do peso, e do perímetro torácico; deformações esqueléticas; descalcificação dos dentes; insuficiências tiróidea, hipofisária e gonadial provocadoras da velhice prematura, fertilidade em geral pobre, apatia, não raro infecundidade.

A formação patriarcal do Brasil explica-se, tanto nas suas virtudes como nos seus defeitos, menos em termos de “raça” e de “religião” do que em termos econômicos, de experiência de cultura e de organização da família, que foi aqui a unidade colonizadora. Economia e organização social que as vezes contrariam não só a moral sexual católica como as tendências semitas do português aventureiro para a mercancia e o trafico.

O sistema patriarcal de colonização portuguesa do Brasil, representado pela casa-grande, foi um sistema de plástica contemporização entre as duas tendências. Ao mesmo tempo que exprimiu uma imposição imperialista da raça adiantada à atrasada, uma imposição de formas europeias (já modificadas pela experiência asiática e africana do colonizador) ao meio tropical, representou uma contemporização com as novas condições de vida e de ambiente. A casa-grande de engenho que o colonizador começou, ainda no século XVI, a levantar no Brasil grossas paredes de taipa ou de pedra e cal, coberta de palha ou de telha-vã, alpendre na frente e dos lados, telhados caídos em um máximo de proteção contra o sol forte e as chuvas tropicais- não foi nenhuma reprodução das casas portuguesas, mas uma expressão nova, correspondendo ao nosso ambiente físico e a uma fase surpreendente, inesperada, do imperialismo português; sua atividade agrária e sedentária nos trópicos; seu patriarcalismo rural e escravocrata.

A casa-grande, completada pela senzala, representa todo um sistema econômico, social, politico: de produção; de trabalho; de transporte; de religião ; de vida sexual e de família ( o patriarcalismo polígamo); de higiene do corpo e da casa; de politica. Foi ainda fortaleza, banco, cemitério, hospedaria, escola, santa-casa de misericórdia amparando os velhos e as viúvas, recolhendo órfãos.

*****Desse patriarcalismo, absorvente dos tempo coloniais a casa-grande do engenho Noruega, em Pernambuco, cheia de salas, quartos, corredores, duas cozinhas de convento, despesa, capela, puxadas, parece-me expressão sincera e completa. Expressão do patriarcalismo já repousado e pacato do século XVIII; sem o ar de fortaleza que tiveram as primeiras casas-grandes do século XVI. Nos engenhos dos fins do século XVII e do século XVIII estava-se porem como em um convento português- uma grande fazenda com funções de hospedaria e de santa-casa.

******O que a arquitetura das casas-grandes adquiriu dos conventos foi antes certa doçura e simplicidade franciscana. A arquitetura jesuítica e de igreja foi, a expressão mais alta e erudita de arquitetura no Brasil colonial. Influenciou certamente a da casa-grande. Esta, porém, seguindo seu próprio ritmo, seu sentido patriarcal, e experimentando maior necessidade que a puramente eclesiástica de adaptar-se ao meio, individualizou-se e criou tamanha importância que acabou dominando a arquitetura de conventos e igrejas. Se a casa-grande absorveu das igrejas e conventos valores e recursos de técnica, também as igrejas assimilaram caracteres da casa-grande: o copiar, por exemplo. Nada mais interessante que certas igrejas do interior do Brasil com alpendre na frente ou dos lados como qualquer casa de residência.

A casa-grande venceu no Brasil a Igreja, nos impulsos que esta a principio manifestou para ser a dona da terra. Vencido o jesuíta, o senhor de engenho ficou dominando a colônia quase sozinho. O verdadeiro dono do Brasil. Mais do que os vice-reis e os bispos.

A força concentrou-se nas mãos dos senhores rurais, donos das terras, donos dos homens, donos das mulheres. Suas casas representam esse imenso poderio feudal, paredes grossas, alicerces profundos, óleo de baleia. Refere uma tradição  nortista que um senhor de engenho mais ansioso de perpetuidade não se conteve: mandou matar dois escravos e enterrá-los nos alicerces da casa. O suor e às vezes o sangue dos negros foi o óleo que mais do que o de baleia ajudou a dar aos alicerces das casas-grandes sua consistência quase de fortaleza.

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