Fundamentos de Ética Geral e Profissional
Por: Letícia Oliveira • 15/6/2019 • Resenha • 1.887 Palavras (8 Páginas) • 412 Visualizações
CAMARGO, Marculino. Fundamentos de ética geral e profissional. 9ª Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.
Marculino Camargo propõe em sua obra uma discussão acerca da ética dentro da perspectiva geral e profissional, segundo o autor o tema é recorrente nos dias atuais em que nos é exigido cada vez mais uma postura ética na globalidade de nossa vida, porém a sua discussão é pautada na verificação dos fundamentos, espécie de razão última, em que se baseia o comportamento humano ( o agir humano).
O autor dedica o seu primeiro capítulo naquilo que chama de conceituações básicas, a primeira conceituação feita é quanto a definição de ética adotada: “ Ciencia do que o homem deve ser em função daquilo que é” , pensamento do autor SERTILLANGES é escoltado por esse que Marculino toma partido de uma compreensão da ética pautada na dependência do ser, isto é, nas palavras do próprio autor: “ [...] o agir depende do ser, cada coisa se comporta de acordo com elementos que a compõem, formando sua unidade”( p. 19).
O autor diferecia também o termo ética de moral recorrendo a etimologia desses dois termos. O primeiro provém do grego ethos que significa costumes o segundo tem o mesmo significado, contudo sua origem é diversa, pois remonta ao latim “mores”. Feito essa definição o autor apresenta três tendência cuja tarefa foi separar a compreensão ética da compressão moral, ou melhor, distinguir uma da outro. Não obstante, adota o autor uma postura unificadora uma vez que considera a ética e moral como sinônimos.
Ainda que o homem seja imutável, no ponto de vista da essência, contudo o seu agir, as suas atitudes não são iguais, ou seja, as atitudes humanas do passado não são as mesmas de hoje. Esse caráter imutável do ser humano é trazido pelo autor, porém em confronto com a mutabilidade das ações humanas , para explicar essas divergências do comportamento humano ele apresenta quatro razoes :
1ª O conhecimento que o homem tem de si próprio varia de acordo com a época. Ao longo da historio o homem foi construindo o conhecimento acerca de sua subjetividade o que o levou a mudar de atitude.
2ª o conhecimento que o homem constrói em relação a outras realidades. A descoberta de outra realidade leva a mudança comportamental.
3ª seria a cultura e tradição construídas e arraigadas ao longo do tempo de modo que se tornaram paradigmas de comportamento.
4ª avanço do progresso técnico que criam novos paradigmas éticos.
O campo profissional não fica imune as mutabilidades trazidas pelo autor e como ele mesmo assevera, as razões que explicam as transformações de comportamentos podem ser aplicadas ao campo profissional também. Diante dessa mutabilidade é importante, segundo autor, reconhecer, porque pressupõe que seja evidente a todos, o fundamento último da ética que consiste em fazer o bem e evitar o mal.
Para que esse fundamento se realize na vida humana existem critérios auxiliadores que nos ajudam no discernimento do bem e do mal, esses critérios podem ser genéricos, de consenso e aceitação unânime; ou, mais específicos em que a unanimidade é mais difícil de ser conquistada.
Essa fundada numa razão numa razão última e orientada por critérios se relaciona com outras ciências, mas possui o seu objeto próprio, o que segundo o autor é o “compromisso com o dever, a verdade, a justiça o valor, a justiça”(p. 31). no campo pessoal os frutos da ética seriam as virtudes que as pessoas adquirem a pautar o seu agir no discernimento do bem e do mal. A conceituação de ética profissional dada pelo autor consiste em: aplicação da ética geral na área profissional.
Uma constante na obra do autor é a idéia a não desvinculação da ética do ser humano, pois só pode existir o agir do homem depois de sua própria existência, nesse sentido o autor considera a ética atrelada à natureza humana e partindo dessa natureza.
A fim de aprofundar essa idéia o segundo capitulo da obra procura analisar a natureza humana em vários aspectos, ao todo quinze, dentre eles: social, espiritual, emotivo, volitivo, corpóreo, inteligência, gênero, cósmico, histórico, liberdade, estético, axiológico, político, teorizante e pratico. Essa pluralidade de aspectos trazidos a baila pelo autor não pode ser visto numa perspectiva desintegradora do ser humano, pelo contrario todos esses aspectos procuram exprimir a globalidade ou universalidade da natureza humana, com certeza existem outros aspectos, contudo a intenção do autor foi trazer aqueles que de certa forma são capazes de reunir os outros aspectos.
A compreensão do ser humano a partir de seus aspectos implica em compreender também a realização concreta desses aspectos e outros mais num ser especifico, isto é, numa subjetividade. Por isso, o autor reflete no capitulo três da obra a dimensão subjetiva da ética e o seu fundamento: a consciência.
Segundo Marculino a consciência no campo ético significa saber discernir entre o bem e o mal, [...] “ela é a norma fundamental do comportamento de cada pessoa sob o ponto de vista ético (p. 65)”. Então, agir com a consciência no campo ética trata-se de um comportamento pautado na escolha (discernimento) do bem ou do mal, esse “núcleo” da consciência deve ser o imperativo para o nosso comportamento em todas as situações.
Embora a brevidade com que faz a retomada da evolução da consciência na história da humanidade, o autor contribui para um conhecimento preliminar das transformações ao longo da historia da compreensão daquilo que chamamos de consciência. Segundo Marculino, nos tempos primitivos nossa consciência era mais objetiva, pois se manifestava de forma externa uma vez que era voltada para divindade e construções mitológicas. Entretanto, na atualidade, houve uma guinada dessa forma de compreensão da consciência do campo objetivo (mitológico e divino) para a subjetividade, ou seja, a interioridade de cada um. Por quanto quando se fala de consciência hoje logo a referenciamos para a subjetividade do individuo.
Se na história da humanidade a consciência passa por um processo de evolução não diferentemente ocorre na subjetividade do individuo. Segundo o autor a consciência evolui em cada pessoa. Essa evolução acompanha a evolução do próprio individuo, ou em outras palavras, acompanha o seu desenvolvimento. Uma criança tem a consciência diferente do adulto, do jovem e do ancião. O autor analisa as peculiaridades da consciência em cada uma dessas fases.
Essa consciência que evolui na historia e em cada um sofre também um processo de condicionamento. Esse condicionamento analisado pelo autor pode ser entendido como uma influencia que a consciência não escapa são elas: biológica, psicológica, sociológica, cósmica e histórica. Todas essas influencias acabam moldando a consciência, por conseguinte, faz parte de sua formação sendo necessário, ao verificar, sendo impossível analisar a consciência desvinculada dessas influencias, por outro lado, o próprio autor nos lembra que esses condicionamentos não devem ser vistos de forma absoluta e tampouco determinista: “ É necessário ressaltar que estes condicionamentos não devem ser considerados de uma forma fatalista ou determinista; cada pessoa deve tomar consciência da existência deles em si mesma, é recomendável procurar uma forma de vencê-los, eliminá-los [...]”.
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