Idiossincrasia Como uma Ferramenta do Conhecimento: Crítica Social na Era do Intelectual Normalizado
Por: Abner Oliveira • 23/6/2018 • Trabalho acadêmico • 2.184 Palavras (9 Páginas) • 569 Visualizações
Texto de Referência: "Idiossincrasia como Ferramenta do Conhecimento: Crítica Social na Era do Intelectual Normalizado", de Axel Honneth, Goeth University Frankfurt am Main e Columbia University.
• Axel Honneth refuta a ideia de que os intelectuais desapareceram.
◦ Nas democracias avançadas hodiernas há um constante crescimento do número de intelectuais normalizados como o subproduto cultural dessa esfera pública democrática.
◦ Por outro lado, se tem a marginalização dos críticos sociais.
• O foco do texto é contrapor a visão do que são as virtudes necessárias para um crítico social, defendida por Michael Walzer em "Courage, Sympathy, and a Good Eye" - que, para Honneth abarca tão somente os intelectuais normalizados -, e expor as diferenças conceituais existentes entre os termos "intelectual normalizado" e "crítico social".
◦ Para Walzer, uma crítica social bem-sucedida depende diretamente das virtudes do crítico, quais sejam: coragem; simpatia; e um bom olho (senso se proporção ao aplicar a teoria.
• Axel Honneth concorda que o efeito prático da crítica social resulta da perspicácia de sua preocupação central. Entretanto, para ele isso tem um efeito problemático: a desvalorização do conhecimento sociológico, decorrente da personalização dos contextos intelectuais.
• Aponta o primeiro significado daquilo que entende por "intelectual normalizado": tipo onipresente de autor que participa com argumentos generalizados nos debates de uma esfera pública democrática; agente espiritual nos fóruns de formação da opinião pública, que tratam de assuntos nos quais são especializados.
• Para iniciar sua análise acerca dos intelectuais normalizados e da crítica social, Honneth apresenta as previsões de Joseph Schumpeter.
◦ 1ª Previsão (se cumpriu quase em sua totalidade): com a expansão da educação e a disseminação da mídia, o número de intelectuais aumentaria dramaticamente nas próximas décadas.
▪ Segundo Honneth, o ambiente democrático é extremamente propício para a discussão de questões de interesse geral.
• Quatro ambientes profissionais são a principal fonte de recrutamento de pessoas que assumirão os problemas cotidianos com a atitude de generalistas: indústria da mídia; universidades (docentes); aparatos acadêmicos de partidos, igrejas e sindicatos; e graduados universitários desempregados que fornecem conhecimento para grandes empresas e meios de comunicação.
▪ A normalização dos intelectuais, segundo Honneth, emana de todo o espectro político.
◦ 2ª Previsão (amplamente refutada): radicalização social dos intelectuais, dadas suas situações profissionais inseguras e precárias, o que, por conseguinte, reforçaria cumulativamente a crítica do capitalismo.
▪ O que ocorreu foi que há um número cada vez maior de intelectuais que lidam apenas com questões cotidianas.
▪ Um reservatório social para uma forma de crítica que indaga por trás das premissas de descrições de problemas publicamente aceitas e tenta ver através de sua construção (esboço do que Honneth entende por crítica social) não é mais encontrado na classe dos intelectuais.
• Honneth ressalta que a normalização dos intelectuais é um subproduto cultural do que pode ser descrito como o estabelecimento bem-sucedido de uma esfera pública democrática. Não é algo para se lamentar ou se arrepender, entrentato, esse fenômeno é diametralmente distinto do que entende por crítica social.
◦ A vitalidade dos intelectuais normalizados cresce com o influxo de convicções objetivamente generalizáveis nas quais os cidadãos podem reconhecer suas próprias opiniões ignorantes, de modo que, as convicções pessoais se cristalizam em questões politicamente relevantes, como o aborto, intervenção militar e reforma previdenciária, que podem, sob a influência de opiniões intelectuais, fomentar o processo de formação de opinião democrática.
• Honneth prossegue com a exposição da teoria de Walzer.
◦ A virtude "coragem", defendida por ele, se aplica no contexto dos regimes totalitários - como o nazista e o fascista – do séc. XX. Ralf Dahrendorf contesta que essa virtude não é mais necessária, pelo menos em nossas latitudes, para o sucesso de um intelectual, tendo em vista o contexto de liberdade de expressão e opinião em ambientes democráticos.
◦ Honneth concorda com Walzer no seguinte ponto: simpatia e bom olho – capacidade de identificar-se com o sofrimento social dos grupos oprimidos e a percepção do que é politicamente alcançável - são virtudes dos intelectuais contemporâneos (aqueles bem-sucedidos, distintos dos intelectuais normalizados que seguem uma rotina praticada sem imaginação retórica).
◦ A crítica social, por outro lado, colocaria em questão os mecanismos culturais ou sociais que estabelecem as condições de aceitação de posições no debate público.
• Diferença entre as tarefas da crítica social e da atividade intelectual: Os intelectuais se mantêm dentro de um arcabouço conceitual (diretrizes conceituais da esfera pública) a fim de ganhar uma audiência pública. A crítica social, por sua vez, dedica-se a perfurar habilmente essas estruturas tentadas e testadas e continuamente suspendê-las.
▪ Essas estruturas são o quadro conceitual que nos mantém cativos, no sentido de que certos procedimentos são tidos como naturais.
• Siegfried Kracauer descreveu como uma tentativa de "destruição de todos os poderes míticos ao redor e dentro de nós".
◦ Os intelectuais aceitam o sistema descritivo da esfera pública, enquanto os críticos sociais questionam as próprias premissas do sistema descritivo aceito na esfera pública.
▪ Caso os intelectuais arrisquem embutir críticas sociais em seus argumentos publicamente distribuídos seria necessário sair do ponto de referência final da atividade, que é o próprio sistema descritivo.
• Segundo Axel Honneth, um elemento de "outsiderness", ou seja, de não-pertencimento (perseguição política, exílio, isolamento cultural) é fonte espiritual da crítica social, pois isso acarreta uma certa distância dos modelos interpretativos socialmente ensaiados.
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