LINGUA , PODER E ESCRITA
Por: MATEUSCAMACHO • 7/6/2017 • Dissertação • 961 Palavras (4 Páginas) • 310 Visualizações
Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul
Unidade Paranaíba
Direito (Noturno)
Língua Portuguesa
Professora Msª Luiza Bedê
Mateus Camacho Soares
O Belo Torna-se Poderoso
A comunicabilidade nasce com o conceito de sociedade, o homem tem a necessidade de se comunicar a todo momento, o que é um diferencial dos demais seres vivos por conta da nossa complexa comunicação. Os períodos históricos da humanidade se diferenciam pela presença ou não da escrita, como bem explica a autora Sylvie Baussier em seu livro Pequena História da Escrita, “o surgimento da escrita marca o fim da pré-história e o surgimento da história do homem”. Na contemporaneidade o que está escrito prevalece sobre o que é falado, identificamos isso no campo jurídico, as leis em sua essência eram baseadas nos costumes, fundamentadas pela vivência, à medida que a sociedade evoluiu, houve-se a necessidade da positivação da norma, passando-nos a ideia de que o correto a ser seguido é aquilo que está escrito.
É necessário salientar que a numerosidade e a diversidade, características que diferenciam o modo de agir de cada grupo, se estendem desde os povos ágrafos até a sociedade moderna, e são causas da variação linguística identificada na atualidade, de acordo com os aspectos sociais e culturais de cada região, logo, para a criação de uma gramatica normativa que atendesse a todos esses aspectos seria necessário uma linguagem una, observadas as condições, teoricamente não há possibilidades para uma unificação da língua.
A Constituição Federal brasileira de 1988 nos assegura dentre outros direitos fundamentais o acesso à educação, no entanto, vemos que o acesso a ela é restrito à pequenas parcelas da sociedade, geralmente pelos detentores do poder, classificados por Marx como os burgueses, os ricos, essa ideia se estende desde a era medieval, onde vemos nos reis a mais pura exemplificação de que a autoridade e a escrita sempre andaram juntas, período esse marcado por uma demasiada desigualdade social, visto que somente os que eram favorecidos pela vontade dos nobres tinha acesso a escrita. Em analogia, observa-se hoje a criação de uma linguagem normativa que contribui para que o preconceito linguístico ganhe cada vez mais força, já que dificilmente a classe baixa terá acesso a língua “correta”, e o modo que aprendem a falar e escrever é considerado errado, caracterizando um preconceito social já descrito por Bagno:
Como todo preconceito, o linguístico é a manifestação, de fato, de um preconceito social, porque o que está em jogo não é a língua que a pessoa fala, mas a própria pessoa como ser social. Uma vez que a língua é parte fundamental da identidade de um indivíduo e de um grupo social, rejeitar a língua é rejeitar a própria pessoa e a comunidade que ela faz parte. (BAGNO, Marcos 1997 p.26)
O Brasil é considerado o quinto maior país do mundo, com cerca de oito milhões de quilômetros quadrados, o que torna a cultura brasileira demasiadamente variada, por conta disso cada região desenvolveu uma forma de falar, de se comunicar diferente das demais. Todavia a normatização da língua classificando uma certa e as demais erradas nos é transmitida diariamente descartando a importância que o modo de falar representa para cada região. Observemos os meios de comunicação em massa, em sua maioria não se vê o uso de dialetos, gírias, sotaques ou algum artificio que caracterize o modo linguístico de determinadas regiões em programações de cunho nacional, nos jornais dos grandes centros midiáticos por exemplo, é de fácil assimilação que a linguagem usada é a mesma utilizada por pessoas da mais alta estirpe, salvo os programas de entretenimento em que o nordestino sempre assume o papel do engraçado, sul-mato-grossense é o caipira, o paulista é burguês. Isso nos passa a ideia de que aquele que fala errado sempre estará em segundo plano, e nunca será tratado com seriedade, pois sempre será alvo de marginalização e exclusão por se pronunciar de maneira não aceitável. Vemos esse escarnecimento na obra de Bagno:
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