Manifestações Sociais no Brasil – 2013:O estopim da sede por cidadania
Por: Julio Araujo • 10/4/2016 • Resenha • 1.052 Palavras (5 Páginas) • 270 Visualizações
RESENHA TEMÁTICA¹
Manifestações Sociais no Brasil – 2013: o estopim da sede por cidadania
Leandro Ferreira de Souza²
No início do mês de Junho deste ano uma série de manifestações populares ocorreu nas ruas de centenas de cidades brasileiras. Tendo inicialmente como foco de reivindicação a redução das tarifas do transporte coletivo, as manifestações ampliaram-se, ganhando um número imensamente maior de pessoas e também novas reivindicações. Com o auxílio das redes sociais, cada vez mais pessoas eram convocadas a participar das manifestações, espalhadas por todo o Brasil, e compostas principalmente por jovens que traziam em seus cartazes dizeres como: “O gigante acordou”; “Verás que um filho teu não foge a luta”; “Não é só pelos R$0,20”; “Desculpe o transtorno, estamos mudando o Brasil”; entre outros.
Mas o que de verdade aconteceu durante essas manifestações? Revolução? Revolta? A resposta é que não pode ser considerado nem movimento de revolta e muito menos de revolução, segundo uma pesquisa realizada por Bruna Souza, do site UOL, com Tania Regina de Luca, professora do Departamento de História da Universidade Estadual Paulista de Assis, e Célio Tasinafo, doutor em História Social, que explicam a diferença entre os termos, onde, no que se intitula revolta, temos seu surgimento após movimentos de manifestação e que na maioria das vezes possui atos de violência. Já a revolução trata-se de transformações profundas nos aspectos sociais, político e econômico. Dessa forma, tivemos no Brasil as manifestações, que tem como característica o seu alcance circunstancial.
Tais manifestações prenderam a atenção dos brasileiros por um bom período e, assim como em qualquer tema, tivemos aqueles a favor e os contra tal movimento. O jornal Folha de São Paulo, em sua edição on-line Folha UOL do dia 13 de junho de 2013, publicou um editorial que não expressa a opinião do jornal e sim de algum leitor sem reconhecer a autoria, que se coloca claramente contra as manifestações que até então estavam ocorrendo. Fazendo contagem dos danos já causados por uma parcela
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1 Resenha Temática desenvolvida para a disciplina Redação Técnica do curso de Engenharia Mecânica da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas.
2 Graduando em Engenharia Mecânica pela PUC Minas.
mínima de “manifestantes mais exaltados”, o tal leitor que não se identificou, faz uma generalização da situação, como se todos que ali estavam fossem protagonistas da quebradeira. Nomeando os manifestantes como “jovens predispostos à violência por uma ideologia pseudorrevolucionária”, o autor do texto reconhece o direito de manifestação, mas se coloca revoltado pelo fato de que de certa forma isso interfere no seu direito de ir e vir.
Visto pelo lado dos que apoiaram o movimento, além dos grupos de movimentos sociais que deram origem a onda de protestos e também aos que posteriormente aderiram, milhares de pessoas comuns, desvinculadas de partidos e grupos sociais específicos participaram dos movimentos. Várias análises foram feitas durante e depois esta onda de protestos, e, segundo Tales Ab’sáber, que é psicanalista, ensaísta e professor de filosofia da psicanálise na UFSP, a maior conquista se deu pelo descongelamento humano à política. Também com um posicionamento favorável ao movimento temos Wolfgang Leo Maar, professor titular de ética e filosofia política da Universidade Federal de São Carlos, que não vê como novidade a mobilização popular, e sim a visão conservadora despertada para a mobilização popular, deixando a dúvida do por que tais movimentos foram de certa forma, abandonados. O antropólogo Luiz Eduardo Soares, em entrevista dada a Ângela Faria, se posiciona a favor das manifestações, afirmando que “as coisas podem mudar se acreditarmos nisso e a alma não for pequena”. Luiz enfatiza que as manifestações buscaram mudanças, e não se muda sem turbulências, pois reformar faz barulho, tumultua, e que repudia somente os danos ao patrimônio e as reações violentas da polícia, afirmando que isso se reservava a uma parcela pequena dos ali presentes nas manifestações. Acredita que somos corresponsáveis pelas virtudes e deficiências brasileiras e propõe iniciarmos um debate politico em casa mesmo, na mesa do jantar.
O grito forte dos brasileiros, que por vezes foi considerado como sem foco, ecoou e mostrou que, mesmo a população estando em sua grande maioria inerte antes do inicio das manifestações, a indignação estava presente em cada um de nós, independente da classe social a que pertencemos. Os vinte centavos foi apenas o estopim de tudo que aprisiona o cidadão brasileiro, de tudo que indigna cada um dos brasileiros. Corrupção, impunidade, propinas, desvios de verbas públicas, empresas públicas fantasmas, benefícios de parlamentares, e diversos outros motivos. O desequilíbrio social, que se traduz na distribuição desigual dos benefícios econômicos, também representa uma das principais motivações para a onda de protestos ocorridos. A justiça e o amor podem transformar a sociedade num lugar habitável, com dignidade e igualdade de condições para todos os cidadãos. Devido à falta de informação de grande parte dos brasileiros, que não possuem o devido entendimento de como funcionam as coisas no Brasil, e de como se dá de um modo geral o funcionamento dos três poderes, o grito pela cidadania deste ano não foi gravado para surtir efeitos. Imagine um estudante, que diante de um teste para um concurso se encontra cheio de ânimo para fazer o teste, mas não possui os conhecimentos que o teste exige... Da mesma forma se vê o povo brasileiro, que possuía ânimo e encorajamento, mas não soube atingir seu alvo.
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