O AMBIENTALISTA EM CONTRAPONTO AO DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO SUSTENTÁVEL
Por: Cristiano Baccin • 12/4/2017 • Artigo • 6.155 Palavras (25 Páginas) • 236 Visualizações
A RETÓRICA E A HISTERIA NA PRODUÇÃO DO DISCURSO
AMBIENTALISTA EM CONTRAPONTO AO DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO SUSTENTÁVEL
Cristiano Baccin da Silva [1]
Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI
Curso de Mestrado em Ciência Jurídica – CMCJ
Disciplina: Política Jurídica: estudos sobre o modo de produção do direito urbanístico e ambiental no Brasil
Professor Responsável: Dr. Davi do Espírito Santo
Janeiro - 2017
RESUMO
Trata-se de um trabalho acadêmico, sob a forma de artigo científico, cujo escopo é submeter à discussão o discurso ambientalista contaminado pela retórica e histeria, em contraponto ao desenvolvimento socioeconômico sustentável, na formação de uma consciência ambiental equilibrada. Aborda-se a importância da questão ambiental inserida em diversos campos sociais, reconhecendo sua relativa autonomia em um campo de existência próprio. Destaca-se, por outro lado, que referido discurso busca obter determinadas “vantagens materiais e simbólicas”, expressões de Pierre Bourdieu, na luta por uma legitimação. Noutra tópico, expõem-se que o objetivo principal do direito ambiental brasileiro está ligado ao desenvolvimento socioeconômico, e não apenas em matéria de preservação ambiental, encontrando fundamentação no texto constitucional. Que parte dos ambientalistas, desvencilhados da verdadeira causa de preservação e estabelecimento de uma consciência ambiental equilibrada, usam de suas posições e da coerção do discurso “politicamente correto” para criar um cenário de caos e medo, contra a liberdade econômica, dando espaço ao “free-rider discursivo” no contexto ambiental, apropriando dos bens simbólicos sem que essa adesão discursiva tenha respaldo na prática, porque guiada por interesses individuais. Conclui-se pela necessidade de se obter um ponto de convergência, porque a sustentabilidade socioambiental pressupõe um ponto de equilíbrio entre o desenvolvimento social, o crescimento econômico e a utilização dos recursos naturais.
Palavras-Chave: Discurso. Retórica. Histeria. Ambientalista. Desenvolvimento. Sustentabilidade.
ABSTRACT
It is an academic work, in the form of a scientific article, whose scope is to submit to the discussion the environmental discourse contaminated by rhetoric and hysteria, as a counterpoint to sustainable socioeconomic development, in the formation of a balanced environmental awareness. It addresses the importance of the environmental issue inserted in several social fields, recognizing their relative autonomy in a field of their own existence. On the other hand, this discourse seeks to obtain certain "material and symbolic advantages", expressions of Pierre Bourdieu, in the fight for a legitimation. On another topic, it is exposed that the main objective of Brazilian environmental law is related to socioeconomic development, not only in environmental preservation, finding a basis in the constitutional text. That part of the environmentalists, who are disengaged from the true cause of preservation and establish a balanced environmental conscience, use their positions and the coercion of the "politically correct" discourse to create a scenario of chaos and fear, against economic freedom, giving space to " Discursive free-rider "in the environmental context, appropriating the symbolic goods without this discursive adherence has support in practice, because guided by individual interests. It is concluded that there is a need to achieve a convergence point, because socio-environmental sustainability presupposes a balance between social development, economic growth and the use of natural resources.
Key words: Speech. Rhetoric. Hysteria. Environmentalist. Development. Sustainability.
1 INTRODUÇÃO
Ao longo das últimas quatro décadas a questão ambiental vem ganhando destaque e relevância na sociedade moderna, presente cada vez mais no cotidiano dos seus diversos campos sociais.
Sobre esses “campos”, Patrice Bonnewitz busca, nas lições de Pierre Félix Bourdieu [2], a respectiva definição:
Em termos analíticos, um campo pode ser definido como uma rede ou uma configuração de relações objetivas entre posições. Essas posições são definidas objetivamente em sua existência e nas determinações que elas impõem aos seus ocupantes, agentes ou instituições, por sua situação (situs) atual e potencial na estrutura da distribuição das diferentes espécies de poder (ou de capital) cuja posse comanda o acesso aos lucros específicos que estão em jogo no campo e, ao mesmo tempo, por suas relações objetivas com outras posições (dominação, subordinação, homologia etc.). Nas sociedades altamente diferenciadas, o cosmos social é constituído do conjunto destes microcosmos sociais relativamente autônomos, espaços de relações objetivas que são o lugar de uma lógica e de uma necessidade especificas e irredutíveis às que regem os outros campos. Por exemplo, o campo artístico, o campo religioso ou o campo econômico obedecem a lógicas diferentes[3] [4].
Neste contraste, o discurso da causa ambientalista busca a defesa de um posicionamento “ambientalmente correto”, que, de forma progressiva, é assim assimilado como válido e inafastável para a concretude da consciência ambiental, estruturando e compondo o seu respectivo campo.
Fonseca e Bursztyn, citando Bourdieu[5], esclarecem que:
Segundo Bourdieu (1983), os campos sociais seriam espaços onde são travadas lutas concorrenciais entre atores em torno de interesses específicos que caracterizam uma determinada área. O campo é estruturado pelas posições objetivas ocupadas pelos atores, que são determinadas pela posse de capital específico ao campo. A natureza do capital depende dos interesses e dos objetos em disputa em seu interior, que são guiados por uma racionalidade típica de cada campo em particular. Os atores elaboram estratégias para maximizar os lucros simbólicos e atingir posições dominantes na arena de disputa. O que está em jogo é a luta pelo monopólio de dizer o que é ou não considerado verdade universal dentro do campo. A posse desse capital leva a posições simbolicamente vantajosas, que permitem ao ator ditar as regras do campo. (...). A questão ambiental está se conformando em um campo relativamente autônomo[6], que define seus critérios internos, suas regras de funcionamento e um modo de agir, sentir e pensar típico, em disposições duráveis do sujeito (o habitus[7] do campo). O que está em jogo no campo ambiental são as próprias representações sociais do que significaria o meio ambiente e como são estabelecidas as relações ontológicas construídas sobre seres humanos e natureza[8].
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