O Conto “Maria” de Conceição Evaristo

O Conto “Maria”, de Conceição Evaristo, aborda a história de um linchamento cometido contra uma mulher negra pela suspeita de envolvimento no assalto que fora cometido no ônibus em que as personagens se encontravam. A história nos leva a perceber a tendência ao punitivismo presente na sociedade, que, mesmo sem provas, assassina uma mulher por imaginar que esta também era culpada da violência que sofreram. O poder de punir, delegado ao Estado pelo contrato social ,mostra-se irradiado por toda sociedade, sobretudo individualmente, em ações de justiça privada. A discussão, analisada pela ótica do texto “psicologia e segurança pública”, se mostra, em grande parte, influenciada por tendências positivistas de tratamento social da segurança pública. Sobre esse ponto destaca-se a determinação de grupos e locais naturalmente como focos de criminalidade, direcionando contra eles repressão, controle e vigilância estatal. O linchamento que ocasionou a morte de Maria, é reflexo desse padrão de políticas de suporte à insegurança pública, que induz à eleição de sujeitos sociais perigosos que devem ser combatidos à título de inimigos da comunidade. Deve ser acrescido o fato de ser negra, que direta ou indiretamente foi fundamental na interpretação dos agressores, a que se deve ao papel em que o negro é historicamente alocado no corpo social, como sujeito do crime ou envolvido com ele, justificadamente na passagem “negra safada vai ver estava de coleio com os dois (assaltantes)”.

O homem com quem a personagem se encontra no ônibus representa a figura do criminoso nato, estigmatizado pelo próprio Estado, que deve ser temido excluído do convívio social. Cria-se o padrão de criminoso tão fortemente arraigado à cultura de um povo, que mesmo aqueles que são injustamente tidos como perigosos, acabam por crer neste título, que lhes é dado desde o princípio da vida.

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