Os Propósito do Ethos - Maingueneau
Por: Bruna Alves • 2/3/2022 • Artigo • 575 Palavras (3 Páginas) • 191 Visualizações
A propósito do ethos - Maingueneau
Resenha
A noção de ethos discursivo tem sido objeto de reflexão de diferentes pesquisas que estudam a imagem do enunciador produzida no discurso. Essa imagem, conforme Maingueneau, é construída no discurso em suas múltiplas relações com o outro (sujeitos e discursos) e emerge na articulação entre variados elementos (verbais e não verbais, éticos e estéticos etc.), os quais necessitam da incorporação do interlocutor para apreendê-la em um conjunto complexo de representações sociais e culturais. O ethos discursivo, embora se diferencie da tradição retórica, não deixa de concordar com três ideias básicas do ethos aristotélico: o ethos é a uma noção discursiva, isto é, constitui-se por meio do discurso, não sendo uma “imagem do locutor exterior à fala”, um “processo interativo de influência sobre o outro” e uma noção híbrida (sócio discursiva) tem um comportamento socialmente avaliado, que não deve ser apreendido fora de uma situação de comunicação precisa”
A Análise do Discurso, tendo como principal expoente nos estudos do ethos Maingueneau, vai retomar o conceito aristotélico de ethos quando afirma que este é a imagem de si no discurso. No entanto, a Análise do Discurso vai além dos estudos elaborados pela Retórica, pois pretende analisar as imagens criadas pelos enunciadores no discurso baseando-se não apenas em situações de eloquência judiciária ou em enunciados orais, mas se estendendo a todo e qualquer discurso, mesmo àqueles presentes no texto escrito. A noção de ethos, para ele permite refletir sobre o processo mais geral da adesão dos sujeitos a uma certa posição discursiva. Retomando a ideia aristotélica de que o ethos é construído na instância do discurso, Maingueneau afirma que não existe um ethos preestabelecido, mas sim um ethos construído no âmbito da atividade discursiva. Assim, a imagem de si é um fenômeno que se constrói dentro da instância enunciativa, no momento em que o enunciador toma a palavra e se mostra através do seu discurso. Assim, diz-se que o ethos liga-se ao orador, através principalmente das escolhas linguísticas feitas por ele, escolhas estas que revelam pistas acerca da imagem do próprio orador, continuamente construída no âmbito discursivo.
Em uma observação de como o ethos se coloca a partir de um discurso, é necessário ressaltar que a eficácia da imagem do orador residirá no ato de enunciação, e não em sua própria imagem (enunciado). Aristóteles mostra que ethos seria o constante de nossos próprios atos. Isso implica em uma construção de caráter. Retomando essa ideia, entende que “o caráter não é mais o que recebe suas determinações da natureza, da educação, da idade, da condição social; é o produto da série de atos dos quais sou o princípio”. De tal modo, o orador pode ser considerado também o autor de seu próprio caráter no discurso que proclama, no ato da enunciação.
Ethos retomou importância nas pesquisas a partir de problemáticas relativas ao discurso. Para Maingueneau, o entendimento de ethos na retórica aristotélica pode ser basicamente definido como: “as propriedades que os oradores se conferiam implicitamente, através de sua maneira de dizer. Isso implica que o efeito deste ethos, ainda na retórica aristotélica, reside no atravessamento e carregamento dos enunciados sem explicitar sua função. Deve entender o ethos a partir de uma ideia transversal à oposição entre o oral e o escrito. Ou seja, não se deve considerar somente o que é dito pelo enunciado, bem como somente por seus gestos ou aspectos físicos, mas sim entender que a oralidade deste orador atua diretamente na projeção ethópica.
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