Paulo Nader
Por: Bruno Dias • 13/4/2016 • Trabalho acadêmico • 9.625 Palavras (39 Páginas) • 500 Visualizações
FACULDADE DE CIÊNCIA DE TIMBAÚBA – FACET
CURSO: DIREITO
DISCIPLINA: FILOSOFIA GERAL E ÉTICA
PROF. Ms. MARCOS HENRIQUE DE PONTES
1ª PARTE: FILOSOFIA GERAL
1ª BLOCO: DA FILOSOFIA EM GERAL
A Origem Da Filosofia | 1) A palavra filosofia é grega. Philo deriva-se de philia, que significa amizade, amor fraterno (amor à sabedoria). Shofia que quer dizer sabedoria, e dela vem à palavra sophos, sábio. Atribui-se ao filosofo grego Pitágoras de Samos (séc. V) a invenção da palavra filosofia. Filosofia significa, portanto, amor e respeito pelo saber. Filosofo: o que ama a sabedoria, tem amizade pelo saber, deseja saber. Pitágoras teria afirmado que a sabedoria plena e completa pertence aos deuses, mas que os homens podem rejeita-las ou amá-las, tornando-se filósofos. 2) A Filosofia, entendida como aspiração ao conhecimento racional, lógico e sistemático da realidade natural e humana, da origem e causas do mundo e de suas transformações, da origem e causas das ações humanas e do próprio pensamento, é um fato tipicamente grego. Evidentemente, isso não quer dizer, de modo algum, que outros povos, tão antigos quanto os gregos, como chineses, os hindus, os persas, os hebreus ou os índios da América não possuam sabedoria, pois possuíam e possuem. Ex: Os chineses desenvolveram muito profundo sobre a existência de coisas, seres e ações contrárias ou opostas, que formam a realidade. Deram às oposições o nome de dois princípios: Yin e Yang. Yin é o princípio feminino passivo na natureza, representado pela escuridão, o frio e a umidade; yang é o princípio masculino ativo na natureza, representado pela luz, o calor e o seco. Os dois princípios se combinam e formam todas as coisas, que, por isso, são feitas de contrários ou de oposições. O mundo, portanto, é feito da atividade masculina e da passividade feminina. Ex: Os gregos: Pitágoras. Que diz ele? Que na natureza é feita de um sistema de proporções matemáticas produzidas a partir de um sistema da unidade (o nº 1 e o ponto), da oposição entre os números pares e impares e da combinação entre as superfícies e os volumes (as figuras geométricas), de tal modo que essas proporções e combinações aparecem para nossos órgãos dos sentidos sob a forma de qualidades contrárias: quente-frio, seco-úmido, áspero-liso, claro-escuro etc. Qual a diferença entre o pensamento chinês e de Pitágoras? No chinês toma duas caraterísticas (masculino e feminino) existentes em alguns seres (os animais e os humanos) e considera que o universo inteiro é feito da oposição entre qualidades atribuídas a dois sexos diferentes. Pitágoras pega a natureza numa generalidade muito mais ampla do que a sexualidade própria a alguns seres na natureza, e faz distinção entre as qualidades sensoriais que nos aparecem e a estrutura invisível da natureza, que, para ele, é do tipo matemático e alcançado apenas pelo intelecto. Em suma: são diferenças desse tipo, que nos leva a dizer que existe uma sabedoria chinesa, uma sabedoria hindu ou dos índios, mas não há filosofia entre eles. Através da filosofia, os gregos contribuíram para o Ocidente europeu as bases e os princípios fundamentais do que chamamos razão, racionalidade, ciência, ética, política etc. Basta observarmos que as palavras como lógica, técnica, politica, democracia, diálogo, gênese, pedagogia farmácia, entre muitas outras, são palavras gregas, para percebermos a influência decisiva e predominante da filosofia grega sobre o pensamento e das instituições das sociedades europeias ocidentais. 3) Por causa da colonização europeia das Américas, nós que fazemos parte – ainda que de modo inferiorizado – do Ocidente europeu e assim também somos herdeiros do legado que a filosofia grega deixou. Eis as principais contribuições dessa filosofia: a) A ideia de que a Natureza opera obedecendo a leis e princípios necessários e universais, isto é, os mesmos e toda a parte e em todos os tempos. Ex: Lei da gravidade, as leis geométricas do triângulo ou do círculo, conforme demonstraram os filósofos gregos. b) A ideia de que as leis necessárias e universais da Natureza podem ser plenamente conhecidas pelo nosso pensamento, isto é, não são conhecimentos misteriosos e secretos, que precisariam ser revelados por divindades, mas são conhecimentos que o pensamento humano, por sua própria força e capacidade, pode alcançar. c) A ideia de que nosso pensamento também opera obedecendo a leis, regras e normas universais e necessárias, segundo as quais podemos distinguir o verdadeiro do falso. Nosso pensamento separa quando uma afirmação é verdadeira ou falsa. Se alguém apresentar o seguinte raciocínio: “todos os homens são mortais; Sócrates é mortal. Logo, Sócrates é mortal”, diremos que a afirmação “Sócrates é mortal” é verdadeiro, porque foi concluída de outras afirmações que já sabemos serem verdadeiras (silogismo aristotélico). |
O Nascimento Da Filosofia Na Grécia Antiga | 1) Os historiadores da Filosofia dizem que ela possui data e local de nascimento: final do séc. VII a.C., e início do séc. VI a.C., nas colônias gregas da Ásia Menor, na cidade de Mileto. E o primeiro filosofo foi Tales de Mileto. A filosofia também possui um conteúdo preciso para nascer: é a cosmologia. Essa palavra é composta de duas outras: cosmos, que significa mundo organizado, e logia, que vem da palavra logos, que significa pensamento racional, discurso racional, conhecimento. Durante muito tempo considerou-se que a filosofia nascera por transformações que os gregos operaram na sabedoria oriental (egípcia, persa, caldeia e babilônica). A ideia de uma filiação oriental da filosofia foi muito defendia oito séculos depois de seu nascimento (durante os sécs. II e III), no período do Império Romano. Quem a defendia? Os pensadores judaicos, como Filo de Alexandria, e os Padres da Igreja, como Eusébio de Cesareia, Clemente de Alexandria e Justino de Roma. Por que defendiam a origem oriental da filosofia grega? Pelo seguinte motivo: a filosofia grega tornara-se, em toda Antiguidade clássica, e para os poderosos da época, os romanos, a forma superior ou mais elevada do pensamento e da moral. Os judeus, para valorizar seu pensamento, desejavam que a Filosofia tivesse origem oriental, dizendo que o pensamento de filósofos importantes, como Platão, tinha surgido no Egito, onde se originara o pensamento de Moisés, de modo que havia uma ligação entre a Filosofia grega e a Torah hebraica. Os Padres da Igreja, por uma vez, queriam mostrar que os ensinamentos de Jesus eram elevados e perfeitos, não eram superstição, nem primitivos e incultos, e por isso mostravam que os filósofos gregos estavam filiados a correntes de pensamentos místico e oriental e dessa maneira, estariam próximos do cristianismo, que é uma religião oriental (tese chamada “orientalista”). 2) Fora o exagero do orientalismo (cultura do Oriente), percebe-se que, de fato, a filosofia tem dívidas com a sabedoria dos orientais, não só porque as viagens colocaram os gregos em contato com os conhecimentos produzidos por outros povos (sobretudo os egípcios, persas, babilônicos, assírios e caldeus), mas também porque os dois maiores formadores da cultura grega antiga, os poetas Homero e Hesíodo, encontraram os elementos para elaborar a mitologia grega, que, depois, seria transformada racionalmente pelos filósofos. a) Com relação aos mitos: quando compararmos os mitos orientais, cretenses, micênicos e os que aparecem nos poetas Homero e Hesíodo, vemos que eles retiraram os aspectos apavorantes e monstruosos dos deles e do início do mundo; humanizaram os deuses, divinizaram os homens; deram racionalidade a narrativas sobe as origens das coisas, dos homens, das instituições humanas (como o trabalho, as leis, a moral). b) Com relação aos conhecimentos: os gregos transformaram em ciência (isto é, num conhecimento racional, abstrato e universal) aquilo que eram elementos de uma sabedoria prática para o uso direto na vida. Assim, transformaram em matemática (aritmética, geometria, harmonia) o que eram expedientes práticos para medir, contar e calcular. Transformaram em astronomia (conhecimento racional da natureza e do movimento dos astros). Transformaram em medicina (conhecimento racional sobre o corpo humano, a saúde e a doença) aquilo que eram práticas de grupos religiosos (sacerdotes) secretos para a cura misteriosa das doenças. c) Com relação à organização social e política: os gregos não inventaram apenas a ciência ou a filosofia, mas inventaram também a política. Todas as sociedades anteriores a eles conheciam e praticavam a autoridade e o governo. Mas, por que não inventaram a política propriamente dita? Nas sociedades orientais e não-gregas, o poder e o governo eram exercidas como autoridades absolutas da vontade pessoal e arbitrária de um só homem ou de um pequeno grupo de homens que decidiram sobre tudo, sem consultar a ninguém e sem justificar suas decisões para ninguém. Os gregos inventaram a política (palavra vem de polis, que, em grego, significa cidade organizada por leis e instituições) porque instituíram práticas pelas quais as decisões eram tomadas a partir de discussões e debates públicos eram adotadas ou revogadas por voto em assembleia públicas; porque estabeleceram instituições públicas (Tribunais, Assembleias, separação entre autoridade religiosa e laica) e sobretudo porque criaram a ideia da lei e da justiça como expressões da vontade coletiva pública e não como imposição vontade de um só ou de um grupo, em nome de divindades. 3) A Filosofia nasceu realizando uma transformação gradual sobre os mitos gregos por uma ruptura radical com o mitos? Que é um mito? A palavra mito vem do grego, mythos, e deriva de dois verbos: do verbo mytheyo (contar, narrar, falar alguma coisa para os outros) e do verbo mytheo (conversar, contar, anunciar, designar). Para os gregos, mitos é um discurso pronunciar ou proferir para ouvintes que recebem como verdadeira a narrativa, porque confiam naquele que narra; é uma narrativa feita em público, baseada, portanto, na autoridade e confiabilidade da pessoa do narrador. Como o mito narra à origem do mundo e de tudo o que nele existe? a) Encontrando o pai e a mãe das coisas e dos seres, isto é, tudo o que existe decorre de relações sexuais entre forças divinas pessoais. Essas relações geram os demais deuses: os titãs (seres semi-humanos e semidivino), os heróis (filhos de um deus com uma humana ou de uma deusa com um humano). A narração da origem é, assim, uma genealogia, isto é, narrativa da geração dos seres, das coisas, das qualidades, por seres, que são seus pais ou antepassados. b) Encontrando uma rivalidade ou uma aliança entre os deuses que faz surgir alguma coisa no mundo. Nesse caso, o mito narra ou uma guerra entre as forças divinas, ou uma aliança entre elas para provocar alguma coisa no mundo dos homens. O poeta Homero, na Ilíada, que narra à guerra de Tróia, explica por que, em certas batalhas, os troianos eram vitoriosos e, em outras, a vitória cabia aos gregos. Os deuses estavam divididos, alguns a favor de um lado e a favor do outro. A cada vez, o rei dos deuses, Zeus, ficava com um dos partidos, aliava-se com um grupo e faziam um dos lados - ou os troianos ou dos gregos – vencer uma batalha. 4) Como os mitos sobre a origem do mundo são genealogias, diz-se que são Cosmogonias e Teogonias. A palavra gonia vem de duas palavras gregas: do verbo gennao (gerar, fazer crescer) e do substantivo genos (nascimento, gênese). Gonia, portanto, quer dizer: geração, nascimento a partir d concepção sexual e do parto. Cosmos, a Cosmologia é a narrativa sobre o nascimento e a organização do mundo, a partir de forças geradoras (pai e mãe) divinas. Teogonia é uma palavra composta de gonia e theós, que, em grego, significa: as coisas divinas, os seres divinos, os deuses. A Teogonia é, portanto, a narrativa da origem dos deuses, a partir de seus pais e antepassados. Em suma: a Filosofia ao nascer, uma cosmologia, uma explicação racional sobre a origem do mundo e sobre as causas das transformações e repetições das coisas; para isso, ela nasce de uma transformação gradual dos mitos ou de uma ruptura radical com os mitos? 5) O mito de Eros e da feminilidade: na Teogonia de Hesíodo, as entendidas saem do seio de Caos – vazio da desorganização inicial – surgem por segregação. Até que nasce Eros, o Amor, força de natureza espiritual. No ciclo dos mitos olimpianos, Eros (Cupido, para os romanos) é filho de Afrodite e Ares. No diálogo de Platão O Banquete, diversos oradores discursam o que consideram ser o amor. Aristófanes, o melhor comediógrafo da época relata um mito segundo o qual, os seres em duplos e esféricos, e os sexos em três: um constituído por suas metades masculinas; outro por duas metades femininas; e o terceiro andrógino, metade masculino, metade feminino. Como ousaram a desafiar os deuses, Zeus cortou-os em dois para enfraquecê-los. Cada ser tornou-se então um ser fendido, e o amor recíproco se origina da tentativa de restauração da unidade primitiva. Como os seres iniciais não eram apenas bissexuais, é valorizada a amizade entre os seres do mesmo sexo, sobretudo, o masculino, como forma de encontro. Segundo análise de Marcuse em Eros e Civilização, trata-se de uma “super-repressão”, intimamente ligada ao “princípio de desempenho”. Na família burguesa vão se tecendo os papéis destinados a cada elemento a teoria de gênero (homem – chefe da família; e a mulher – confinada ao lar). A consequência disso é a chamada dupla moral, isto é, a existência de uma moral para a mulher e outra para o homem. Para a mulher, a educação de menina é orientada como se fosse um ser assexuado. Sua vida sexual deve começar apenas no casamento e, sem os “prazeres da luxúria”, pois a virgindade feminina é tida como grande valor social. Por isso, um comportamento que dicotomiza a figura feminina por muito tempo era: ou é honrada ou é prostituta (alusão a feminilidade: os romanos tiveram a Ars amotoria- Arte de amar de Ovídio; os Indus, o Kama Sutra). Nessas obras, procura-se conhecer o sexo pelo domínio do corpo e pelo exercício do amor (trata-se de uma arte). A sexologia, por sua vez, procura explicar o sexo pelo intelecto (desejo libidinoso – é uma ciência). Apenas na comunidade primitiva, a mulher desempenhava um papel social relevante, participando das atividades coletivas da tribo. Mesmo que já houvesse divisão sexual de tarefas, essas eram completamente, não de subordinação. Quando surgiu a propriedade privada, a mulher foi confinada ao mundo doméstico e subordinada ao chefe da família. Um rígido controle da sexualidade feminina indica que a monogamia se relacionava diretamente com a questão da herança das propriedades da família. A mais comum das distorções é representada pelos estereótipos, que fixam a mulher em padrões considerados “naturais”. Segundo essa tendência, ela teria características como intuição, a delicadeza, a sensibilidade, o altruísmo, o amor incondicional, que culminariam no “instinto materno”. Ao exaltar instinto materno, aproximamos a mulher da natureza e a confirmamos ao mundo doméstico, à esfera privada. Já o homem se volta para mundo, para o público, como artífice da civilização. A filósofa francesa Simone de Beauvoir, que nos anos de 1945 se destacou como pioneira na desmitificação da feminilidade, sobretudo ao publicar a obra o “segundo sexo”, disse que “ninguém nasce mulher: torna-se mulher”. Falar sobre os aspectos da subordinação e da emancipação feminina muito se deve aos movimentos feministas que, na metade do séc. XX, fez eclodir em todo ocidente, ao lado que chamou de revolução sexual da década de 1960. 6) Quais as diferenças entre Filosofia e mito? a) O mito pretendia narrar como as coisas eram ou tinham sido passado imemorial, longínquo e fabuloso, voltando-se para o que era antes tudo existisse tal como existe no presente. A filosofia, ao contrário, se preocupa em explicar como e por que, no passado, no presente e no futuro (isto é, na totalidade do tempo), as coisas são como são; b) O mito narrava a origem através de genealogias e rivalidades ou alianças entre forças divinas sobrenaturais e personalizadas, enquanto a filosofia, ao contrário, explica a produção natural das coisas por elementos e causas naturais e impessoais. O mito falava em Urano e Gaia; a Filosofia fala em céu, mar e terra. |
Do Campo De Investigação Da Filosofia | I) A história da Grécia costuma ser dividida pelos historiadores em quatro grandes fases ou épocas: a) A da Grécia homérica, correspondente aos 400 anos pelo poeta Homero, em seus dois grandes poemas, Ilíada e Odisseia; b) A de Grécia arcaica ou dos sete sábios, do séc. VII ao séc. V a.C., quando os gregos criam cidades como Atenas, Esparta, Tebas, Samos, et., e predomina a economia urbana, baseada no artesanato e no comércio; c) A da Grécia clássica, nos sécs. V e IV a.C., quando a democracia se desenvolve, a vida intelectual e artística entra no apogeu e Atenas domina a Grécia; d) E, finalmente, a época helenista, a partir do final do séc. IV a.C., quando Grécia passa para o poderio do Império de Alexandre da Macedônia, e, depois, para as mãos do Império Romano. II) Os grandes períodos da Filosofia grega: a) Período pré socrático (cosmológico), no final do séc. VII ao final do séc. V a.C., quando a Filosofia se ocupa fundamentalmente com a origem do mundo e as causas das transformações na natureza. b) Período socrático (antropológico), do final do séc. V e todo o séc. IV a.C., quando a filosofia investiga as questões humanas, isto é, a ética, a política e as técnicas. c) Período sistemático, do final do séc. IV ao final do séc. III a.C., quando a filosofia busca reunir e sistematizar tudo quando foi pensado sobre a Cosmologia e a Antropologia, interessando-se sobretudo em mostrar que tudo pode ser objeto do conhecimento filosófico. d) Período helenístico (greco-romano), do final do séc. III a.C., até o séc. VI d.C. Nesse longo período, que já alcança Roma e o pensamento dos primeiros Padres da Igreja, a Filosofia se ocupa sobretudo com as questões da ética, do conhecimento humano e das relações entre o homem e a Natureza e ambos com Deus. III) As principais características da cosmologia e da antropologia são: A) É uma explicação racional e sistemática sobre a origem, ordem e transformação da Natureza (physis é natureza eterna e me perene transformação) da qual os seres os seres humanos fazem parte, de modo que, ao explicar a Natureza, a Filosofia também explica a origem e as mudanças dos seres humanos. b) Afirma que não existe criação do mundo, isto é, nega que o mundo tenha surgido do nada (ex: Deus criou o mundo do nada – ex nihilo - religião judaico-cristã). c) A democracia afirmava a igualdade de todos os homens adultos perante as leis e o direito de todos de participar diretamente os governos da cidade, da polis. d) Como consequência, a democracia, sendo direta e não por eleição de representantes (cidadãos gregos), garantia a todos a participação no governo, e os que dele participavam tinham o direito de exprimir, discutir e defender em público suas opiniões sobre as decisões que a cidade devia tomar (Nota: mulheres, escravos, crianças e estrangeiros estavam excluídos dessa participação). IV) O filósofo Sócrates, considerado o patrono da filosofia, rebelou-se contra os sofistas, dizendo que não eram os filósofos, pois não tinham amor pela sabedoria nem respeito pela verdade, defendendo qualquer ideia, se fosse vantajoso. Corrompiam o espírito dos jovens, pois faziam o erro e a mentira tanto quanto a verdade. V) Período sistemático Este período tem como principal nome e filósofo Aristóteles de Estagira, discípulo do Platão. O estudo das formas gerais do pensamento, sem preocupação com seu conteúdo, chama-se lógica, e Aristóteles foi o criador da lógica como instrumento do conhecimento em qualquer saber (ciência em grego, é episteme). Vejamos a classificação aristotélica: a) Ciências produtivas: ciências que estudam as práticas produtivas ou as técnicas, isto é, as ações humanas cuja finalidade está além da própria ação, pois a finalidade é a produção de um objeto, de uma obra. São elas: arquitetura (cujo fim é a edificação de alguma coisa), economia (cujo fim é a produção é o comércio em geral), medicina (cujo fim é produzir a saúde). b) Ciências práticas: ciências que estudam as práticas humanas enquanto ações que têm nelas mesmas seu próprio fim, isto é, finalidade da ação se realiza nela mesma, é o próprio ato realizado. São elas: a ética, em que a ação é realizada pela vontade guiada pela razão para alcançar o bem do indivíduo. c) Ciências teoréticas, contemplativas ou teóricas: são aquelas que estudam coisas que existem independentemente dos homens e de suas ações e que, não tendo sido feitas pelos homens, só podem ser contempladas por eles. Theoria, em grego significa contemplação da verdade. A partir da classificação aristotélica, definiu-se no correr dos séculos, o grande campo da investigação filosófica, campo que só seria desfeito no séc. XX, quando as ciências particulares se foram separando do tronco geral da Filosofia. a) O do conhecimento da realidade última de todos os seres, ou da essência de toda realidade. Como, em grego, ser, se diz on e os seres se diz ta onta, este campo é chamando de Ontologia (que, na linguagem de Aristóteles, se formava com a Metafísica e a Teologia). b) O do conhecimento das ações humanas ou dos valores e das finalidades da ação humana (valores morais - valores políticos – as técnicas e as artes). V – Período helenístico Trata-se do último período da Filosofia Antiga, quando a polis grega desapareceu como centro político, deixando de ser referência principal dos filósofos, uma vez que a Grécia encontra-se sob o julgo do Império Romano. Datam desse período quatro grandes sistemas cuja influência será sentida pelo pensamento judaico-cristão, que começa a formar-se nessa época: estoicismo, epicurismo, ceticismo e neoplatonismo. A amplidão do Império Romano, a presença crescente de religiões orientais no Império, os contatos comerciais e culturas entre Oriente e Ocidente fizeram aumentar os contatos dos filósofos helenistas com a sabedoria oriental (cidadãos do mundo). Podemos falar numa orientalização da filosofia, sobretudo nos aspectos místicos e religiosos. |
Da História Da Filosofia (Principais Períodos) | a) Filosofia Antiga (do séc. VI a.C. ao séc. VI d.C.). Compreende os quatro grandes períodos da filosofia greco-romana, indo dos pré socráticos aos grandes sistemas do período helenísticos. b) Filosofia Patrística (do séc. I ao séc. VII). Inicia-se com as Epístolas do Apóstolo Paulo e o Evangelho de João e termina no séc. VII, quando teve início a Filosofia Medieval. Dividido em patrística grega (ligada à Igreja de Bizânia) e patrística latina (ligava à Igreja de Roma) e seus nomes mais importantes foram: Justino, Tertuliano, Orígenes, Eusébio de Cesareia, Agostinho. A patrística foi obrigada a introduzir ideias desconhecidas para os filósofos greco-romanos: a ideia de criação do mundo, de pecado original, de Deus como Trindade Una. De encarnação e morte do Deus feito homem, do juízo final, etc. Para impor as ideias cristãs, os Padres da Igreja as transformação em verdades reveladas por Deus (através da Bíblia) que, serem decretos divinos, seriam dogmas, isto é, inquestionáveis. Por isso, o grande tema de toda a Filosofia Patrística é o da possibilidade de conciliar razão e fé, e, a esse respeito, havia três posições principais: 1) Os que julgavam fé e razão irreconciliáveis e a fé superior à razão. 2) Os que julgavam fé e razão conciliáveis, mas subordinavam a razão à fé. 3) Os que julgavam razão e fé irreconciliáveis, mas afirmavam que cada uma delas tem seu campo próprio de conhecimento e não devem mistura-se (a razão – concerne à vida temporal dos homens; a fé, concerne à salvação da alma e à vida eterna). c) Filosofia Medieval (do séc. VII ao séc. XIV). Abrange filósofos europeus, árabes e judeus. É o período em que a Igreja Católica dominava a Europa, coroava reis, organizava cruzadas à terra santa (Jerusalém) e criava as primeiras universidades e escolas. E, a partir do séc. XII, por ter sido ensinada nas escolas, a Filosofia Medieval também é conhecida com o nome de Escolástica. A Filosofia Medieval teve como influências principais Platão (filosofia de Plotino séc. IV d.C.) e Aristóteles (traduzido pelos árabes, particularmente Avicena e Averróis). Conservando e discutindo os mesmos problemas que a patrística, a Filosofia Medieval acrescentou outros. Durante esse período surge propriamente a Filosofia Cristã, que é, na verdade, a Teologia. Um de seus temas mais constantes são as provas da existência de Deus e da alma, isto é, demonstrações racionais da existência do espírito humano imortal. Outra característica marcante da Escolástica foi o método por ela inventado para expor as ideias filosóficas; apresentava-se uma tese e esta devia ser ou refutada ou defendida por argumentos tirados da Bíblia, de Aristóteles, de Platão ou da Patrística. d) Filosofia da Renascença (Do séc. XIV ao séc. XVI). É marcada pela descoberta de obras de Platão desconhecidas na Idade Média, de novas obras de Aristóteles, bem como pela recuperação das obras dos grandes artistas gregos e romanos. A efervescência teórica e prática foi alimentada com as grandes descobertas marítimas, que garantiam ao homem o conhecimento de novos mares, novos céus, novas terras e novas gentes, permitindo-lhe ter uma visão crítica de sua própria sociedade. Essa efervescência cultural e política levou a críticas profundas à Igreja Católica, culminado na Reforma Protestante (Martinho Lutero), baseada na ideia de liberdade de crença e de pensamento. Os nomes mais importantes desse período são: Dante, Giordano Bruno, Maquiavel, Erasmo de Roterdã, Jean Bodin, Nicolau de Cusa. e) Filosofia Moderna (Do séc. XVII ao séc. XVIII). Esse período, conhecido como o grande racionalismo clássico, é marcado por três grandes mudanças: a) Aquela conhecida como o “surgimento do sujeito do conhecimento”, isto é, a filosofia, em lugar de começar seu trabalho a natureza e Deus, para a depois referir-lhe ao homem, começa indagando qual é a capacidade do intelecto humano para conhecer e demonstrar a verdade dos conhecimentos. b) Para os modernos, as coisas exteriores (a natureza, a vida social e política) podem ser conhecidas desde que sejam consideradas representações, ou seja, ideias ou conceitos formulados pelo sujeito do conhecimento. c) Essa concepção da realidade como intrinsecamente racional e que pode ser plenamente captada pelas ideias e conceitos preparou a terceira grande mudança intelectual moderna. A realidade, a partir de Galileu, é concebida como um sistema racional de mecanismos físicos, cuja estrutura profunda e invisível é matemática. Em suma: predomina nesse período, a ideia de conquista científica e técnica de toda a realidade, a partir da explicação mecânica e matemática do universo e da invenção das máquinas, graças às experiências físicas e químicas. A mesma convicção orienta o racionalismo político, isto é, a ideia de que a razão é capaz de definir para cada sociedade qual o melhor regime político e como mantê-lo racionalmente. Os principais pensadores dessa época: Descartes, Galileu, Hobbes, Espinosa, Leibniz, Locke, Newton. f) Filosofia do Iluminismo (Do séc. XVIII ao início do séc. XIX). Esse período crê nos poderes da razão, chamada de As Luzes (iluminismo). O Iluminismo afirma que: pela razão, o homem pode conquistar a liberdade e a felicidade social e política (a Revolução Francesa de 1789). A razão é capaz de evolução e progresso, e o homem é um ser perfectível. A perfectividade consiste em liberar-se dos preconceitos religiosos, sociais e morais, em libertar-se da superstição e do medo, graças aos conhecimentos, às ciências, às artes e à moral. O aperfeiçoamento da razão se realiza pelo progresso das civilizações, que vão das mais atrasadas (também chamadas de “primitivas” ou “selvagens”) às mais adiantadas e perfeitas (as da Europa Ocidental). Há diferença entre natureza e civilização, isto é, a Natureza é o reino das relações necessárias de causa e efeito ou das leis naturais universais e imutáveis, enquanto a civilização é o reino da liberdade e da finalidade proposta pela vontade livre dos próprios homens, em seu aperfeiçoamento moral, técnico e político. |
Filosofia Contemporânea (Aspectos Gerais) | O século XIX é, na filosofia, o grande século da descoberta da História ou da historicidade do homem, da sociedade, das ciências e das artes. A filosofia moderna levou à ideia de progresso, isto é, de que os seres humanos, as sociedades, as ciências, as artes melhorariam com o passar do tempo. Essa visão otimista também foi desenvolvida na França com Augusto Comte, que atribuía o progresso ao desenvolvimento das ciências positivas. O entanto, no séc. XX, a mesma afirmação da historicidade dos seres humanos, da razão e da sociedade levou à ideia de que a História é descontínua e não progressiva, cada sociedade tendo sua história própria em vez de ser apenas uma etapa numa histórica universal das civilizações. A ideia de progresso passa a ser criticada porque serve como desculpa para legitimar colonialismo e imperialismos (os mais “adiantados” teriam o direito de dominar os mais “atrasados”). Passa a ser criticada também a ideia de progresso das ciências e das técnicas, mostrando-se em cada época histórica e para cada sociedade, os conhecimentos e as práticas possuem sentido e valor próprios, e que tal sentido e tal valor desaparecem numa época seguinte ou são diferentes numa outra sociedade não havendo, portanto, transformação contínua, acumulativa e progressiva. No séc. XX, a Filosofia foi submetida a uma grande limitação quando à esfera de seus conhecimentos. Isso pode ser atribuído a dois motivos principais: 1) Desde o final do séc. XVIII, com o filósofo alemão Kant, passou-se a considerar que a Filosofia, durante todos os séculos anteriores, tivera uma pretensão irrealizável. Que pretensão fora essa? A dor de que nossa razão pode conhecer coisas tais como são em si mesmas. Esse conhecimento da realidade em si, dos princípios e das primeiras causas de todas as coisas chama-se Metafísica. 2) Desde meados do séc. XIX, como consequência da teoria de Comte – chamada Positivismo -, foi feita uma separação entre Filosofia e Ciências Positivas (matemática, física, biologia, sociologia). As ciências, dizia Comte, estudam a realidade natural, social, psicológica e moral e são propriamente o conhecimento. Para ele, a Filosofia seria apenas uma reflexão sobre o significado do trabalho científico, isto é, uma análise e uma interpretação dos procedimentos ou das metodologias usadas pelas ciências e uma avaliação dos resultados científicos. A Filosofia tornou-se, assim, uma teoria das ciências ou epistemologia (episteme, em grego, quer dizer ciência). A filosofia reduziu-se, portanto, à Teoria do Conhecimento, à Ética e à Epistemologia. A atividade filosófica não se restringiu à teoria do conhecimento à lógica, à epistemologia e à ética. Desde o início do séc. XX, a História da Filosofia tornou-se uma disciplina de grande prestígio e, com ela, a história das ideias e a história das ideias e a história das ciências. Desde a 2ª Guerra Mundial, com o fenômeno do totalitarismo – fascismo, nazismo, stalinismo -, com as guerras de libertação nacional contra os impérios coloniais e as revoluções socialistas em vários países; desde os anos 60, com lutas contra ditaduras e com os movimentos por direitos (negros, índios, mulheres, homossexuais e os excluídos econômica e politicamente); e desde os anos 70, com a luta pela democracia em países submetidos a regimes autoritários, um grande interesse pela filosofia politica ressurgiu e, ele, as críticas de ideologias e uma nova discussão em torno da Filosofia da História. Atualmente, um movimento filosófico conhecido como desconstrutivismo ou pós-modernismo, vem ganhando preponderância. Seu alvo principal é a crítica de todos os conceitos e valores que, até hoje, sustentaram a Filosofia e o pensamento dito ocidental: razão, saber, sujeito, história, tempo, liberdade, natureza, homem etc. |
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