RESENHA CRÍTICA DO DOCUMENTARIO “ÔNIBUS 174” DE JOSÉ PÁDILHA, POR GRACIANE BATISTA DA SILVA FARIAS

RESENHA CRÍTICA DO DOCUMENTARIO “ÔNIBUS 174” DE JOSÉ PÁDILHA, POR GRACIANE BATISTA DA SILVA FARIAS

O documentário “Ônibus 174” relata sobre o sequestro com fins trágicos do ônibus de linha 174 em 12 de junho de 2000 na cidade do Rio de Janeiro pelo anônimo Sando Barbosa do Nascimento. Um assalto acompanhando por milhares de brasileiros pelos canais televisivos.

Naquele dia várias pessoas tiveram sua rotina alterada e até interrompida quando Sandro adentrou naquele ônibus.

Nada de se espantar e até um ato ou ação muito comum nos dias de hoje em que a população tem uma sensação de total insegurança e violência urbana em que vivemos e na qual não podemos confiar naqueles que deveriam prezar pela nossa proteção e bem-estar: a polícia. Não fosse seu despreparo para situações limites do dia-dia.

Este sequestro mostra o reflexo da violência urbana nas grandes cidades (não só nas grandes) em que o protagonista deste cenário - Sandro- um sobrevivente de outro ato violento de grande repercussão (Chacina da Candelária) em que vários moradores de rua foram assassinados e outros feridos pela mesma polícia despreparada em questão e que também em sua infância presenciou sua mãe ser assassinada quando estava grávida de cinco meses- passou por uma vida de privações e discriminações (negro, pobre, analfabeto) não tendo condições dignas de vivência com educação, saúde, moradia e alimentação, culminou para sua formação e criação no mundo do crime com violência e crueldade, não só como simples opção de “estilo de vida”, mas sim como forma de sobrevivência.

Num país em que há uma política pobre de investimento em saúde e educação, não temos como oferecer um desenvolvimento e formação psicosociallaboral aos menores, adolescentes e pais de família para que possam adentrar no mercado de trabalho aptos a concorrência, gerando altas taxas de desemprego, que é fator primordial para aumentar ainda mais as ondas de crime como “efeito cascata”. Transformação de crianças de rua em bandidos.

Vários participantes do documentário justificam a criminalidade pelo contexto social em que o país se encontra. Alguns moram na rua porque se sentiram desprotegidos dentro de suas próprias casas- desorganização familiar- e estando então desamparadas por todos adentram na criminalidade com forma de auto-sustento, e mesmo assim ainda buscam ser visíveis pela sociedade. Tal visibilidade foi alcançada por Sandro naquele dia em que foi televisionado para todo o Brasil, para todos os lares. Quantos outros Sandros existem pelos quatro cantos do Brasil, vivendo o que ele viveu e necessitando do amparo legal que ele precisou.

Noutro ponto mostra-se o total despreparo da polícia brasileira para situações conflitantes e de limite. Falta de privacidade, falta de equipamentos de comunicação, falta de equipe especializada neste tipo de intervenção, falta de treinamento visto que um policial resolver por si próprio finalizar a ação com uma tentativa de baleamento, errando o tiro e atingindo mais outra pobre vítima de toda essa situação de desacordo, a professora Géssica Firmino.

Pode-se dizer que o documentário “ônibus 174” ao abordar temas de nossa sociedade como violência urbana, discriminação e exclusão pela sociedade e governo de pessoas que não tiveram oportunidades de acesso à escola, saúde e educação mostra que não é preciso apenas aumentar a segurança (mais policiais , mais treinamento, mais equipes aptas a intervenção em sequestros) mas também aumentar as políticas públicas quanto a saúde, educação, moradia, emprego, Para que não seja um fator agravante para que mais brasileiros sejam levados ao mundo do crime.