Resenha Filme: “VISTA A MINHA PELE”
Por: Nelise Moreira Dos Santos • 20/3/2022 • Resenha • 606 Palavras (3 Páginas) • 1.191 Visualizações
Resenha Filme: “VISTA A MINHA PELE”
Nelise Moreira dos Santos
O filme “Vista a minha pele” é um curta metragem com direção de Joel Zito de Araújo que traz importantes questões que fazem refletir a respeito da discriminação, do preconceito e do racismo por meio de um viés diferente, o da inversão de papeis. O filme mostra a vida de uma personagem branca, Maria, em um mundo composto predominantemente por negros: programas de televisão, concursos de beleza, a escola, enfim, uma sociedade majoritariamente negra.
Com essa inversão, o filme nos faz repensar e refletir o quanto é difícil ser negro em uma sociedade que destaca, valoriza e dá espaço somente à história e a cultura dos brancos e aos brancos. Faz-nos enxergar pelo ponto de vista do negro como o racismo, o preconceito e a discriminação estão impregnados na sociedade. O curta metragem nos faz ver que a hegemonia branca ainda impera e nos faz perceber que a sociedade, a mídia, enfim quase tudo que nos cerca impõe um padrão branco. Dessa forma, os programas de televisão, ao terem, em sua maioria, apresentadores brancos, as novelas contarem com crianças, galãs e “mocinhas” brancos e as propagandas geralmente contarem somente com atores e atrizes brancos, além de, dificilmente existir um(a) negro(a) entre os vencedores de concursos de beleza reforçam a discriminação ao negro e demonstram o quanto o “padrão” branco impera, não só no Brasil, mas no mundo todo, revelando que vivemos em um mundo pensado e voltado ao branco.
A inversão dos papeis no filme nos permite imaginar como é ser negro nesse mundo, possibilitando ver um pouco como ele se sente em meio a uma sociedade racista, preconceituosa e de predomínio branco. Logo no começo do curta uma pergunta chama a atenção nesse sentido: “você já viu uma menina branca como miss festa junina? Como posso ser miss se não tenho cabelo crespo, pele chocolate e esse jeito que só os negros tem?”. Essa inversão dá um choque de realidade, já que o padrão branco e tudo o que há nele está entranhado em muitos de nós.
Tanto o pai da menina branca quanto a da menina negra reproduzem discursos que são proferidos aos negros: é melhor não sonhar alto, é melhor ter os pés no chão; os negros tem que aprender a lutar pelos direitos deles; todos no Brasil sabem que o país dá direitos iguais a todos; aqueles que batalham vencem. Discursos preconceituosos, discriminatórios e que disseminam mais preconceito, mais racismo e mais discriminação.
Outro ponto destaque do filme é a questão de como o negro é estigmatizado e mesmo dentro de um ambiente que deveria disseminar a igualdade em relação à origem, às características sociais, à classe, sexo e raça, como é o caso da escola, os negros também são vítimas desse estigma, do preconceito, do racismo e da discriminação. Justamente por vivermos em uma sociedade que não dá direitos iguais a todos, muitos negros não conseguem ter acesso ao ensino, sendo ainda minoria nos bancos escolares. Além disso, os alunos brancos muitas vezes isolam os colegas negros e os professores estigmatizam o estudante negro como sendo um aluno que não se esforça e que por isso tem dificuldades.
Como se isso não bastasse, muitas disciplinas infelizmente ainda abordam apenas a questão da escravidão quando tratam da temática afro-brasileira, não destacando ou sequer apresentando a importância da história e da cultura Afro-brasileira e Indígena, tão importantes para na História e para a construção de uma escola democrática. Por fim, destaco um questionamento levantado ao final do referido curta-metragem: será que um dia a escola vai valorizar a diferença racial, os negros e índios serão tratados em condições de igualdade?
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