Resenha India's Daughter

RESENHA DO DOCUMENTÁRIO “INDIA’S DAUGHTER”

        O documentário “India’s Daughter” (“Filhas da Índia”) relata a história de um grupo de homens que estupra, de forma anômala e bastante violenta, uma jovem estudante de 23 anos de idade, dentro de um ônibus. O crime ocorreu há pouco mais de três anos, no dia 16 de dezembro de 2012, e movimentou mulheres por todo o país a protestar e, assim, mobilizar sua repulsa a tal ato. A filmografia também possui um enfoque na vida e nos valores dos estupradores, fazendo com que se possa notar uma “cultura de estupro” dentro de uma sociedade apegada a suas crenças e tradições.

        Jyoti Singh, filha única de uma família pobre e muito trabalhadora, tinha acabado de formar na faculdade de Medicina, e para comemorar tamanha felicidade decidiu ir ao cinema com um amigo; retornando para casa a jovem e o amigo pegaram um ônibus, onde foi brutalmente atacada física e sexualmente por seis homens que a julgaram como indecente por estar andando à noite com um homem. No discurso de um advogado que deu seu depoimento no documentário, é afirmado que a mulher que sai à noite (ainda mais com um homem, que não é membro da sua família) permite que os homens tomem a liberdade de molestarem-na.

        A Índia tem uma grande bagagem sobre a desvalorização da mulher, e pode-se perceber isso a partir do momento em que elas nascem, onde ao contrário dos homens, não celebram o nascimento da criança mulher com presentes para amigos como é feito com o nascimento dos homens. É dentro de um país assim, que surge a “cultura do estupro”, onde uma mulher que agir de forma imoral ao olhar masculino deve ser “castigada”. Além de serem violentadas, essas mulheres passam a ser menosprezadas perante a sua comunidade e, absurdamente, são alienadas a pensar que seria melhor estarem mortas a terem “permitido” que fossem estupradas e ficar se submetendo ao constrangimento social diário.

        Assim, não é difícil notar que a fala do estuprador Mukesh se baseia mais numa questão de valores a que foram “educados” do que a ação de uma pessoa que apresenta certa perturbação mental, como poderia ser classificados facilmente estupradores no nosso país, por exemplo. O depoimento de Mukesh é a reprodução de uma cultura que não reprime se não até garante, o direito de estuprar aos homens. Para exemplificar esse sentimento que os homens indianos possuem sobre as mulheres do seu país, dá-se ao fato de que em nenhum momento o acusado se mostrou arrependido ou tido remorso ao ato infame ao qual participou.

        Apesar de todos os males, o documentário algo para se orgulhar: a união das mulheres (e homens, também) para lutar por um direito que estava sendo usurpado por muito tempo. O caso de Jyoti foi o estopim para uma carga histórica de violência que perpassa séculos. Hoje, as autoridades da Índia aprovaram uma legislação mais rígida para crimes sexuais com vítimas que chegaram a óbito.