Resenha "O Príncipe" cap 1 a 15
Por: Vic Taetae • 17/9/2017 • Resenha • 1.602 Palavras (7 Páginas) • 415 Visualizações
Maquiavel escreve “O Príncipe” como um verdadeiro manual para a conquista ou manutenção de um Estado por um soberano, dando as coordenadas para que esse obtenha sucesso em sua dominação. Assim, ele faz de início uma série de classificações para diferenciá-los, como a básica separação entre repúblicas e principados, se atendo mais minuciosamente aos últimos. Ele os classifica em principados novos ou hereditários, sendo os primeiros anteriormente livres ou obedientes a outro soberano, e os outros, pertencentes ao Príncipe por hereditariedade.
Os principados recebidos por herança são os mais fáceis de manter de modo que são mínimas as chances do príncipe perder o domínio deles. Isso se deve ao vínculo da população com a família real, isso só seria cortado caso o príncipe, por razão extraordinária, se tornasse odiado. Por outro lado, há os principados novos, que podem ser divididos em misto e inteiramente novo, sendo este não governado por outros príncipes e aquele, um membro anexado a um Estado hereditário.
Nesse caso, o príncipe que almeja dominar esses principados terá um desafio pela frente: dominar o Estado pela força, mas também, não ofender os habitantes. Porque mesmo que essa conquista tenha sido feita por acordos a outra parte pode não estar completamente satisfeita, e assim, conspirar contra o príncipe utilizando também a insatisfação do povo. Caso esse principado tenha os mesmos costumes e língua do novo soberano é mais fácil de subjugar do que os que são diferentes, porque mesmo que se estinga a linhagem real há sempre uma invocação dos costumes antigos, mesmo depois de muitas décadas.
Para que o príncipe se mantenha no poder nesse caso, ele poderia valer-se de algumas estratégias. Como ir habitar o principado, para que possa manter pessoalmente a ordem e organizar colônias ao invés de manter tropas, pois causaria muita despesa e muita injúria entre o povo. Além disso, ele deve enfraquecer as elites e defender os mais fracos, não para fortalecê-los, mas para que esses o aceite. Outro fato a ser observado é a possível entrada de um estrangeiro tão poderoso quanto ele próprio, que possa ameaçar sua soberania.
Há além dessas, outra diferenciação entre os principados. Os que foram governados por um príncipe e ministros, que estão no cargo pela concessão do senhor e os que foram governados por um príncipe e barões, que pelo sangue e antiguidade têm direito ao cargo. No primeiro caso, o príncipe tem mais autoridade por que dentre todos, ele é o superior, e sendo os outros subservientes seriam dificilmente corrompidos, ou caso fossem, poderiam oferecer poucas vantagens. Dessa forma, uma vez vencido o Estado, a única preocupação seria eliminar o sangue do príncipe, pois não haveria mais ninguém para governar, uma vez que os servos não teriam domínio sobre o povo. Já em reinos os quais além do príncipe, há também, uma corte, seria provavelmente mais fácil de adentrar o território com a ajuda de algum desses nobres. Entretanto, não bastaria eliminar a linhagem real, pois haveria barões poderosos que poderiam comandar rebeliões.
A garantia da conservação do governo vem dos cidadãos, principalmente em territórios que se regiam por leis próprias. Ou então causar sua ruína, evitando assim que se recorra à liberdade do passado para fazer uma revolta. Diferente do que acontece em um local que era habituado a viver sob o comando de um príncipe, que ao perdê-lo não se atina para escolher outro entre eles próprios e acabam por se sujeitar a um novo príncipe. No entanto, a República se constitui, nesse cenário, um caso particular, porque é mais ativa, a memória da liberdade é reanimada a todo o momento e o desejo por vingança é mais intenso. Assim, para conservá-la em poder do príncipe este deve ou destruí-la ou habitá-la.
Dentre as diversas formas de ser conquistar um Estado, uma das mais falhas, ao longo da história é através de fortunas, porque ao fim dessa, a obediência também acaba. Além da instabilidade da boa vontade daquele que o pôs no poder. Apesar da conquista ser um processo relativamente rápido nesse caso, isso pode ser uma desvantagem, pois as bases não são sólidas e ao primeiro golpe é arruinado. Os maiores êxitos são atribuídos aos príncipes que conquistaram os cidadãos pelo seu valor, principalmente estando estes em uma situação de insatisfação e opressão. Cabe ressaltar que aqueles encontram dificuldades na fundação do Estado, pois, devem impor novas leis e costumes. Mas, quando eles possuem força o suficiente para instituí-las são bem-sucedidos. Seja qual dessas estratégias o príncipe se utilizar ele deve observar sempre a quem ele ofende porque dificilmente benefícios recompensam antigas injúrias.
Em contrapartida, há outra forma de se alcançar o principado: através da maldade, contra as leis. Assim, o príncipe pode chegar ao mando pelas suas ações como matar os concidadãos e trair os amigos, mas não alcança a glória. Pois, ele não pode confiar em ninguém e não é bem quisto pelo seu povo. Isso pode ser mudado caso as crueldades forem bem-praticadas, nesse caso todas as ofensas são feitas de uma vez só e depois são abandonadas dando lugar a benefícios aos súditos. Quando mal-usadas os homens ficam insatisfeitos porque ao invés das crueldades diminuírem, elas se renovam ou aumentam.
Outras formas de conquista além dessas acarretam em outros tipos de principado. São eles dois: o principado civil e o principado eclesiástico. O primeiro se constitui quando um cidadão se torna príncipe de sua pátria pelo favor do povo ou dos poderosos, o que acontece de acordo com a oportunidade que houver. Aquele que ascende através dos poderosos tem mais dificuldade de governar, pois, está cercado de pessoas que tem poder, assim deve agradá-los. Por outro lado, aquele que toma o trono pelo povo comanda sozinho. Deve-se observar também que o desejo do povo é mais simples e consiste numa condição de vida digna. Recomenda-se que ele evite a inimizade dos grandes porque podem atacá-lo. Ainda que se deva garantir o seu governo através da amizade com o povo, caso contrário nos momentos adversos este se voltará contra o príncipe. No segundo caso, o príncipe enfrenta grandes dificuldades antes de dominá-los, mas quando se domina elas desaparecem quase que por completo. Isso se dá porque são mantidos através da rotina religiosa. São os únicos príncipes que não defendem o Estado e os únicos súditos que não governam. E mesmo assim, os Estados não lhes são tomados nem o povo toma o poder do príncipe. São garantidos e regidos por poderes superiores não compreendidos pelos homens e é a isso que se atribui tamanha segurança e estabilidade.
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