Resenha “O Que Resta de Auschwitz”
Por: Eduarda Dworakowski • 28/8/2018 • Trabalho acadêmico • 2.233 Palavras (9 Páginas) • 311 Visualizações
A obra “O que resta de Auschwitz” tem autoria do grande filósofo italiano Giorgio Agamben, sendo essa publicada no ano de 1956, pouco mais de uma década após a libertação do campo de concentração de Auschwitz, localizado na Polônia, ser libertado pelas tropas soviéticas e derrubar o Terceiro Reich, de Adolf Hitler.
O italiano, formado em Direito, deixa sua formação académica e visão acerca dessa a mostra ao longo de sua obra, usando muito de conceitos e conhecimentos do direito para a elaboração de analogias e refutações acerca do tema central, já explicitado no próprio título da obra, as testemunhas do campo de concentração nazista de Auschwhitz.
Apenas como forma de contextualizacao, Aushcwitz era uma rede de campos de concentracao, localizados esses em terras do Terceiro Reich, da Alemanha nazista de Adolf Hitler, construído como forma de “resolver” o problema dos prisioneiros em massa, principalmente judeus. Tal rede de campos de concentração foi libertado apenas no ano de 1945, por tropas sovieticas, sendo esse responsável pela morte de 1,3 milhões de pessoas, pelo que estima-se, sendo esses marjoritariamente judeus.
Em sua obra, o autor apoia-se em importantes filósofos de seu contexto histórico como M. Foucault e Hannah Arendt, filosofa alemã de origem judia e refugiada em Paris durante os anos de governo de Adolf Hitler e do extermínio em massa da população judia.
Em “O que resta de Auscwhitz” o filosofo se centra, a partir de varias tensões e conceituações, na questão do “resto” de Auschwitz, ou seja, daquilo não revelado nas comuns historias e testemunhos que se tem do campo de concentração, sendo esse “resto”, em linhas gerais, a impossibilidade do testemunho, a ser explicada mais para frente de tal resenha. O problema retratado por Agamben se localiza no campo da ética, no problema daquilo que não é encerrado com os julgamentos feitos pelos juizes no campo do Direito. Inclusive, logo no inicio da obra, esse trata tais julgamentos feitos no campo do direito como, de certa forma, ruins, pois por mais que esses fossem necessários, o autor coloca esses como insuficientes, por terem julgado muito menos do real numero de envolvidos nos campos e nas torturas à aquele povo, mas principalmente por difundirem a ideia de tudo como já superado, o que inclusive pode ter como consequência a ascensão dos novo movimentos neo-nazistas pelo mundo, não somente na Alemanha, como o recente acontecimento de Charleston, nos EUA, por exemplo. Deixando “calado” e como resolvido algo que deveria ser ressaltado quase que diariamente como forma de não somente não deixar tal tragédia se repetir mas também para ressaltar os problemas dessa.
“À PARTE ALGUMA MENTE LUCIDA, muitas vezes isolada, precisou-se de quase meio século-ara entender que o direito não havia esgotado o problema, mas que, se muito, este era tao grande a ponto de pôr em questão o próprio direito, de levá-lo à própria ruina” (AGAMBEN, 2008, pg. 29).
No direito, coloca o autor, as esferas da verdade, justiça e julgamento como separadas, cabendo ao direito apenas o julgamento conforme as leis e normas jurídicas impostas por uma autoridade, e não analisar uma real justiça ou não, sendo a pena, na visão de G. Agaben o julgamento em si e não sua consequência. O autor inclusive usa de uma importante citação, de S. Santa de que “a sentença de absolvição é a confissão de um erro judicial” (Milano, Adelphi, 1994, pg. 26)
A obra é subdividia em quatro capítulos, sendo o primeiro desses, “A Testemunha”, uma especie de introdução as problematizacoes e discussões a serem feitas pelo autor italiano ao longo de seu trabalho, introduzindo também sua problematização do campo do direito, como mencionado anteriormente.
Em “A Testemunha” esse traz a figura da testemunha do Primo Levi, sobrevivente do campo Auschwitz-Birkenau, que será muito utilizado ao longo de toda obra.
O autor coloca Levi como superstes, ou seja, como aquele que realmente viveu aquilo até o final e que pode então dar o testemunho disso, sendo esse inclusive um importante autor de grandes obras a respeito do período do Holocausto, escrevendo famosos títulos como “É isto um homem?.
Outro importante trecho especifico, a ser ressaltado do primeiro dos capítulos da obra, é a “descoberta” feita pelo sobrevivente Levi, da denominada “zona cinzenta”, que norteia boa parte das conclusões a serem feitas ao longo do trabalho de Agamben.
Essa, segundo explicação do autor como forma de simplificar, seria uma zona de impotentia juricandi, ou seja, uma zona que não situaria-se no campo do bem ou do mal, aquém à isso. O autor ainda apoia-se no pensamento niilista, de F. Nietzche do homem como super-homem, ou seja, como superior aos outros e devendo a sociedade ser um instrumento de aperfeiçoamento, como contraria ao conceito de Levi, sendo a “zona cinzenta” a zona que banaliza o mal, sendo a ética suspensa e atitudes animalescas irrelevadas, abordando isso em sua obra “ Os afogados e os sobreviventes: os delitos, os castigos, as penas, as impunidades” por método relato de outra testemunha assistindo uma partida de futebol entre o Esquadrao Especial e os prisioneiros (Sonderkommando), sendo essa como uma “pausa” ao horror.
A ideia mais importante de Padre Levi, todavia, influente testemunho dos campos de extermínio, é a questão do paradoxo do testemunho, muito abordada por Agamben que parece ter muito interesse em tal questão ao longo de sua obra.
O paradoxo, como trazido por Levi, se da em razão do testemunho servir como uma descrição de quem testemunhou o evento, superstes, todavia esses trariam obrigatoriamente consigo uma lacuna, um caráter único e indizível que jamais será dito, Levi, inclusive coloca uma importante testemunha sobre tal paradoxo em sua mais influente obra (Levi, 1990, pg.47) “[…] Nós, sobreviventes, somos uma minoria anômala, alem de exígua: somos aqueles que, por prevaricação, habilidade ou sorte, nao tocamos o fundo. Quem o fez, quem fitou a górgona, nao voltou para contar, ou voltou mudo; mas são eles os “muculmanos”, os que submergiram - são eles as testemunhas integrais, cujo depoimento teria significado geral.”
Basicamente de tal trecho de Levi, se é definida a ideia de o que é o “resto” de Auschwitz, figura central da obra de Agamben, sendo esse “resto” justamente a impossibilidade dos testemunhos, nao havendo uma testemunha verdadeira e sendo o “essencial” nao registrado, o testemunho daqueles sem humanidade, dos muçulmanos, os reais testemunhos mortos e incapazes de darem um real e integral testemunho.
Como um bom exemplo disso, tem se a grande obra “O Diário de Anne Frank”, obra famosa mundialmente por trazer os relatos de uma menina judia durante o período do holocausto porem que se encerra sem um testemunho integral, a partir do momento em que essa é capturada e levada ao campo de extermínio tratado por Agaben, Auschwitz, e nao se sabe mais um testemunho integral.
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