Resenha Vidas Secas - HQ
Por: Vitor hugo De Sousa • 18/7/2019 • Resenha • 2.200 Palavras (9 Páginas) • 533 Visualizações
A história que permeia o livro “Vidas Secas” gira em torno de uma família, Fabiano, Sinhá Vitória, o filho mais velho, o filho mais novo e baleia, a cachorra. Esta família, muito pobre e sem condições de comprar comida vive peregrinando pelo sertão, fugindo da seca, os chamados retirantes. Até então sem local para sequer dormir, vivem de restos, passando por diversos reveses, sociais e econômicos. A obra retrata a vida de muitos que moram no sertão nordestino, sem perspectivas e abandonadas pelo governo e sociedade. A jornada de achar um local para viver, ter que enfrentar as forças do Estado e seu controle social, a perda de um dos seus integrantes, o entrave de não ter onde conseguir suprimentos para a sobrevivência e os problemas psicológicos de cada um devidos aos problemas sofridos. Fabiano, um homem de poucas palavras, rude e o típico vaqueiro do sertão nordestino é o pai da família, ao encontrar um local para morar este tem de lidar com a brutalidade do patrão. Com a falta de comunicação, ou a inaptidão desta, acaba tendo problemas com a polícia em um bar e sendo preso. Na prisão acaba se arrependendo e pensando em como sempre foi um peso para toda a família, por ter problemas com vicio em álcool e jogos. Pouco mais para frente da história tem que matar a cachorrinha Baleia, que estava morrendo de inanição, que na obra é mais bem retratada que os próprios filhos do casal, que tampouco nome tinham, eram retratados apenas como “filho mais velho” e “filho mais novo”. Sinhá Vitória, mãe da família, sábia e sonhadora tem de lidar com a maior parte dos problemas, pois como vivem em uma sociedade patriarcal e machista, é quem sofre as maiores penas. Tem que cuidar dos filhos, da pequena casa (que vivem de aluguel) e lidar com as incompetências do marido. Sonhava apenas em ter uma cama de fitas de couro. A obra acaba por toda a família andando pela seca, de novo, procurando um lugar melhor para viver, onde não tivessem que viver mais em sofrimento.
Como um romance clássico da literatura brasileira, “Vidas secas” aparece para nós, aqui, em forma de quadrinhos, a obra original escrita por Graciliano Ramos, surge agora como graphic novel, narrativa ficcional recontada também por meio de imagens. Nesta obra, Eloar Guazzelli Filho, artista gráfico, e Arnaldo Branco, roteirista, não só reproduzem o livro “Vidas secas” como também dão uma nova cara a ele. Através de um novo formato de letra, e principalmente em uma nova época, as imagens contam também uma história, essas que, nos livros ficavam apenas no nosso imaginário, agora saltam aos nossos olhos com uma perspectiva diferente. Eloar Guazzelli Filho, ilustrador, animador e quadrinista. Publica quadrinhos desde 1990, tendo sido premiado no Yomiuri international cartoon contest (1991) e no Salão internacional de humor de Piracicaba em 1991,1992 e 1994. Além de algumas outras premiações nacionais. Formado em Artes Plásticas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Arnaldo Allemand Branco, um grande cartunista e jornalista brasileiro. Graciliano Ramos, autor da obra original utilizada no trabalho, foi um escritor brasileiro, sua maior obra literária foi “Vidas Secas”. É considerado o melhor ficcionista do Modernismo e o prosador mais importante da Segunda Fase do Modernismo.
O livro foi escrito em 1938, época esta que passara por grandes momentos históricos, o primeiro grande momento se passa na crise cafeeira de 1929, com a crise, que se alastrou pelo país todo, o pouco de desenvolvimento que pudera chegar ao nordeste acabara por ali. 1930 houve a quebra da Bolsa de valores de Nova York, a maior crise da historia americana atingindo, em cheio, o Brasil. A maior das influências brasileiras no livro “Vidas secas” é a revolução de 1930, a Era Vargas que aconteceu de 1930 a 1945 transformou pela primeira vez a historia do sertão nordestino, com as políticas emergenciais do governo Vargas. Com a chegada de um “inverno” regular em março (retratado inclusive no livro, nos dando até uma pequena noção de quando se passa a historia) o plano de Getulio Vargas era de encaminhar os retirantes de volta aos seus locais de moradia no interior do Estado. Com o auxilio da legião brasileira de assistência e do governo estadual, o dispensário dos pobres empreendeu uma campanha de auxilio ao regresso dos retirantes ao interior, com a concessão de passagens de trem, sementes e uma quantia em dinheiro.
O filosofo para comparar e relacionar com a obra escolhido por mim foi Jean-Jacques Rousseau. Para ele o homem e o cidadão são condições paradoxais na natureza humana, pois é o reflexo das incoerências que se instauram na relação do ser humano com o grupo social, que inevitavelmente o corrompe. Melhor interpretando, Para Rousseau o homem nasce bom, com naturezas boas, e a sociedade que o corrompe. Nesta categoria ele engloba desde a presença negativa dos ciúmes no relacionamento afetivo, até a instauração da propriedade privada como base da vida econômica. Contudo, com a abordagem da ética e da moral, no contrato social, o filosofo propõe que o homem pode voltar as suas origens de bondade e generosidade, ele crê que a indiferença na personalidade humana e acabando com a desigualdade social o homem estaria livre para exercer sua liberdade exercendo apenas o trabalho de devoção a aspectos exteriores e as normas de etiqueta. Em sua obra Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, Rousseau discorre sobre a questão da maldade humana. Para melhor analisar esta característica, ele estabelece três etapas evolutivas na jornada do Homem. O primeiro estágio refere-se ao homem natural, subjugado pelos instintos e pelas sensações, sujeito ao domínio da Natureza; o segundo diz respeito ao homem selvagem, já impregnado por confrontos morais e imperfeições; e o terceiro, a condição do homem civilizado, marcada por intensos interesses privados, que sufocam sua moralidade. Rousseau defende a formação do homem natural no seu lar, junto aos familiares, por constituir um ser integral voltado para si mesmo, que vive de forma absoluta. Já o cidadão deve ser educado no circuito público proporcionado pelo Estado, pois é tão somente uma parte do todo, e por esta razão engendra uma vida relativa. O aprendizado social, segundo o filósofo, não produz nem o homem, nem o cidadão, mas sim um híbrido de ambos.
Relacionando a Obra “Vidas Secas” já pegamos de inicio o pensamento de natureza do homem. Fabiano e a Família apesar de viverem em convívio mas isolados, eles tinham pequenos contatos com a sociedade isso já tirava deles a natureza de bondade. A definição de natureza humana é o equilíbrio perfeito entre “o ser” e o “querer ser”, o homem natural é um ser de sanções apenas, o homem de natureza é aquele que só deseja o que o permeia. Quando Fabiano sonha em viver sem problemas, sendo patrão, Sinhá quando sonha com a cama de fitas de couro (que ela já havia visto do antigo patrão) e deseja tanto aquela cama eles estão atuando como homens de natureza, pois só desejam tudo o que um dia já viram e tiveram por perto. Além disso, o homem natural não pode sonhar com o futuro, Sinhá vivia apenas de sonhos futuros e Fabiano de sair do sofrimento.
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