Resenha da obra "A Exceção e a Regra"
Por: juuhcampos • 15/6/2018 • Resenha • 462 Palavras (2 Páginas) • 2.217 Visualizações
Resenha sobre “A exceção e a regra”
A peça teatral apesar de escrita há muito tempo apresenta correlação com o atual modelo de sociedade. De forma simples consegue pontuar aspectos que remetem a reflexões elaboradas. Com isso é possível assinalar algumas críticas pertinentes ao que estamos estudando.
A começar pelo título da peça que nos remete a pensar na decisão proferida pelo juiz. Com a regra ele perpetua o argumento de que os trabalhadores querem derrubar os empregadores, legitimando a autodefesa do comerciante; e com a exceção o argumento de que apenas nesse caso particular o cule não queria o mal ao comerciante. Nesse ínterim, o mal agir torna-se a regra enquanto o bom agir, uma exceção.
Outro ponto interessante se mostra como a descaracterização das pessoas na peça. Apenas o comerciante tem nome próprio (Karl Langmann), enquanto os trabalhadores são conhecidos apenas pela seus empregos (cule, o guia, etc.). Além disso, mesmo entre os trabalhadores há diferenças. Isso retrata como o status quo continua sendo denominador comum para perpetuar a seletividade de tratamento na sociedade atual.
Não poderia deixar de comentar que além da descaracterização das personagens frente aos seus designados empregos, há ainda uma figura que é até mais inferiorizada: a mulher. Desenhada como frágil, ela é ainda mais despersonalizada (é conhecida apenas como a mulher do cule).
A natureza do trabalhador é a de que é melhor defender o empregador e manter o seu emprego do que colaborar com outro trabalhador. Isso foi feito pelo guia quando interrogado pelo juiz e com medo de que ao defender o cule sofresse retaliação do comerciante. Dessa forma é possível interpretar a realidade trabalhista nos dias atuais. É comum ver brigas e desavenças entre operários por melhores cargos (individualismo) do que união para a melhora da classe trabalhadora como um todo (coletivismo).
Uma das passagens que mais chama atenção é a seguinte: “[...]vejam bem o procedimento desta gente: Estranhável, conquanto não pareça estranho/ Difícil de explicar, embora tão comum/ Difícil de entender, embora seja a regra. Até o mínimo gesto, simples na aparência, olhem desconfiados! Perguntem se é necessário, a começar do mais comum! E por favor, não achem natural/ O que acontece e torna a acontecer/ Não se deve dizer que nada é natural! [...]”. Essa passagem é para mim, a que melhor representa o texto por inteiro e consegue nos fazer refletir tanto sobre a própria peça como também no contexto atual o qual estamos inseridos: relação de poder, o sistema econômico, status social e reforma trabalhista.
A questão central dessa peça de teatro se mostra prática até hoje. Com pouca ou nenhuma modificação aos dias atuais é possível perceber que a realidade almejada se encontra distante e é objeto de luta posto que ainda há comportamentos e atos estratificados dentro do modelo de sociedade atual.
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