Resenha discurso sobre as ciências
Por: Gabriela Diniz • 15/3/2017 • Resenha • 1.662 Palavras (7 Páginas) • 625 Visualizações
SANTOS, Boaventura de Sousa. Um discurso sobre as ciências. São Paulo: Cortez, 2008. p. 8 – 92
RESENHA CRÍTICA
O texto inicia tratando sobre a questão da ciência de forma reflexiva, trazendo para o mesmo plano de discussão, o passado, presente e o futuro, entrelaçando os três numa analise só.
Nós, seres humanos, sempre temos um “pé” no passado, sempre estamos voltando na nossa história, nos acontecimentos. Voltamos porque isso nos traz aprendizado, maturidade, e viver no futuro requer maiores habilidades do que àquelas vividas outrora no passado e até no presente, que será passado no futuro. O futuro é tão forte como o passado pois no futuro, hoje será passado.
As minhas ideias, ideais, não serão as mesmas do futuro ou do passado, pois a maturidade do fazer será diferente no passado e no futuro. Eu pego coisas do passado, aqui no presente, o meu ponto de equilíbrio, e vejo como posso aplicar no futuro, mesmo sem ter certeza, as vezes nem uma ideia, de como será o amanhã. Por isso é tão difícil cortar o cordão umbilical com o nosso passado. É preciso cortar esse cordão para que indivíduo viva bem o presente, a atual realidade, sem se preocupar ou se culpar por coisas já vividas. Mas também não pode haver um abandono total, pois tudo é aprendizado para uma evolução. É necessário um passado para que, com a experiência, não cometamos os mesmos erros no futuro.
Tratando sobre ciência e os avanços da mesma, Boaventura afirma que ainda nos encontramos no século XIX. Diz que, em termos científicos, o séc. XX não começou e talvez nem comece antes de terminar. Ainda nessa reflexão sobre a ciência e o tempo, o autor volta na ideia do passado e futuro e nos apresenta duas ideias distintas. Uma que transmite esperança, e a outra, medo, por, por exemplo, possíveis catástrofes ecológicas ou guerras nucleares que pudessem fazer com que o século XXI acabasse antes mesmo de começar.
Logo no início do texto nós conseguimos compreender a forma do autor de analisar as situações, usando como “aliado” o vínculo entre o passado, o presente e o futuro, como já comentado anteriormente. Ele nos faz ponderar sobre a instabilidade do presente. Algo que nos parece muito obvio num momento do presente, um segundo depois pode não mais parecer, pois o presente é rapidamente mutável. Ele nos dá um ótimo exemplo. Estamos olhando uma única figura, em um momento nós conseguimos visualizar claramente um vaso grego de cor branca recortada e fixada em um fundo preto. Logo no outro momento, olhando a mesma imagem, nós conseguimos enxergar dois rostos gregos, frente a frente, de perfil, fixados num fundo branco.
Toda essa complexidade e transição cria uma necessidade urgente de responder a perguntas simples, mas muitíssimo importantes. Essas perguntas são nomeadas por Boaventura como “elementares”. Perguntas elementares, ele define, são aquelas mais profundas que atingem nossa perplexidade individual e o coletivo. Esse tipo de pergunta foi feita por Rousseau e deve ser feita por nós também, pois essas mesmas perguntas feitas por ele 200 e tantos anos atrás são as feitas por nós hoje em dia. O autor diz:
“Estamos de novo regressados à necessidade de perguntar pelas relações entre a ciência e a virtude, pelo valor do conhecimento dito ordinário ou vulgar que nós, sujeitos individuais ou coletivos, criamos e usamos para dar sentido às nossas práticas e que a ciência teima em considerar irrelevante, ilusório e falso; e temos finalmente de perguntar pelo papel de todo o conhecimento científico acumulado no enriquecimento ou no empobrecimento prático das nossas vidas, ou seja, pelo contributo positivo ou negativo da ciência para a nossa felicidade.”[1](p. 18)
A ideia é a seguinte: se as perguntas são fáceis, as respostas serão bastante complexas. É preciso um esforço grande para obter as respostas desses questionamentos, pois, em relação ao passado, a Rousseau, por exemplo, as condições são diferentes, tanto psicologicamente, quanto sociologicamente.
Terminando essa parte introdutória, Boaventura nos dá o “roteiro” do caminho que percorrerá no livro, onde ele finalizará pressupondo sobre o perfil de uma nova ordem cientifica que está surgindo. Ele discutirá a emergência dessa nova ordem nos âmbitos teórico e sociológico.
O próximo tópico discutido pelo autor foi nomeado “paradigma dominante”, onde inicia a discussão acerca da racionalidade, ciência moderna e outras questões.
A racionalidade que norteia a ciência moderna se deu a partir da revolução cientifica do século XVI e foi desenvolvida nas ciências naturais. Essa ideia de racionalidade só se estende para as ciências sociais no século XIX. A partir daí começou um modelo “único” da racionalidade cientifica. O racionalismo é entendido como sendo totalitarista por ser um modelo global que nega o caráter racional àquelas formas de conhecimento que não respeitam e seguem as regras e os princípios deles. Como disse o autor: “É esta a sua característica fundamental e a que melhor simboliza a ruptura do novo paradigma científico com os que o precedem. ” (p. 21). Alguns parágrafos a frente, nós temos uma contradição a essa característica ao autor afirmar: (...) “os protagonistas do novo paradigma conduzem uma luta apaixonada contra todas as formas de dogmatismo e de autoridade.”(p. 24) Negando o racionalismo quando não seguidas as regras e princípios deles eles lutam contra o dogmatismo e a autoridade? Essa é uma grande contradição.
Mas voltando a ideia anterior, por ser totalitário, o racionalismo era diferente daqueles modelos antigos, medievais. No que diferia? Eles separavam a natureza da pessoa humana e também contestavam o conhecimento do bom senso, considerando o conhecimento cientifico muito mais seguro. A ciência moderna desconfia das experiências do nosso cotidiano. Para uma maior "segurança", a matemática era um instrumento utilizado pra analisar experimentos e observações que levassem a um conhecimento mais profundo. "A matemática fornece à ciência moderna, não só o instrumento privilegiado de análise, como também a lógica da investigação, como ainda o modelo de representação da própria estrutura da matéria."(p. 27)
A ciência moderna passou a permeabilizar o âmbito do comportamento social. Sobre isso Boaventura disse que se foi possível descobrir as leis da natureza, seria igualmente possível descobrir as sociais. Evoluímos de um estudo das ciências naturais para o estudo da ciências sociais, que, de certa forma, estão ligadas. Bacon diz que a ciência fará do homem "o senhor da natureza".
O que conseguimos compreender até agora? Conhecimento científico são regras metodológicas e pressupostos epistemológicos, onde temos uma "batalha" entre "qual o fim das coisas e quem são os seus agentes" contra "como funciona". No âmbito das ciências naturais nós temos o ser humano versus homem, homem versus animal e homem versus cultura. Já em relação às ciências sociais, o autor diz:
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