Resumo A Origem do Totalitarismo
Por: Fernando Mainardi • 29/6/2018 • Resenha • 11.991 Palavras (48 Páginas) • 499 Visualizações
RESUMO DO LIVRO ORIGENS DO TOTALITARISMO: ANTISSEMITISMO, IMPERIALISMO, TOTALITARISMO DE HANNAH ARENDT. (PARTE III, TOTALITARISMO) [1],
Fernando Augusto Mainardi
PREFÁCIO
A derrota da Alemanha nazista pôs fim a um capítulo da história, pelo menos era o primeiro momento em que se podia elaborar e articular o que houve? Como aconteceu? Por que havia acontecido? Como pode ter acontecido? Porque, da derrota alemã, da nação em ruínas haviam emergido montanhas de papéis intactos, a respeito dos doze anos que durou o Reich milenar de Hitler. Contudo, muitos outros documentos chegaram após o lançamento da primeira edição deste livro.
O fim da guerra em 1945 não trouxe o fim do governo totalitário na Rússia, decisivo neste sentido foi a morte de Stálin. Em contraste com a Alemanha, onde Hitler usou a guerra conscientemente para desenvolver e aperfeiçoar o governo totalitário, na Rússia foi um período de suspensão temporária do domínio total. Neste sentido, para fins de estudo os anos de 1929 a 1941 e 1945 a 1953 são fundamentais, mas as fontes de informações são escassas, diferente das provas horríveis, claras e irrefutáveis como no caso da Alemanha nazista. E esta escassez de documentos e estatísticas, prejudicam todos os estudos deste período da história Russa.
Mas séria ainda é outra questão, nenhum estudo sobre totalitarismo pode ignorar o que aconteceu ou acontece na China. Aqui nosso conhecimento é ainda menos seguro do que em relação à Rússia dos anos 30. Em parte, pelo isolamento que a China conseguiu criar do resto do mundo e em parte pois não temos ajuda de desertores dos altos escalões do Partido Comunista chinês.
O que é importante em nosso contexto é que governo totalitário é diferente dos tiranos e ditadores, mas a distinção entre eles não é questão acadêmica para ser deixada aos cuidados dos “teóricos”. Temos todos os motivos para usar a palavra totalitarismo com cautela. Em absoluto contraste com a escassez e incertezas das novas fontes de informação sobre os governos totalitários, vemos uma enorme afluência de estudos sobre novas ditaduras, totalitárias ou não. No tocante a este livro ter sido escrito há tanto tempo não foi desvantajoso e isto se aplica ao que escrevemos sobre o totalitarismo nazista como do bolchevista. Uma das estranhezas da literatura sobre o totalitarismo é que as tentativas prematuras de escrever a história segundo as regras acadêmicas deveriam esbarrar na ausência de fontes impecáveis de documentos e no superdesenvolvimento individual.
As biografias de Hitler de Konrad Heiden e Stalin de Boris Souvarine são em alguns aspectos mais precisos e em quase todos mais relevantes do que as biografias clássicas de Ana Bullock e Isaac Deutscher, a razão principal disso são os depoimentos dos proeminentes desertores e testemunhas oculares. Não foi preciso o discurso secreto de Nikita Khrushchev para saber dos crimes cometidos por Stalin nem que este homem era profundamente desconfiado e havia confiado em Hitler. E foi para admitir alguns crimes que Khrushchev escondeu os crimes do regime como um todo, e deu a explicação mais simplória possível: Stalin é demente. Contra esta camuflagem que os novos intelectuais russos entraram em rebelião.
Stalin iniciou seu gigantesco expurgo em 1928 quando tinha motivos de receio e afirmava “existir inimigos internos” para combater. No que tange ao nosso conhecimento sobre a era Stalin, o arquivo de Smolensk publicado por Fainsod, é ainda o mais importante documento. A julgar pelo livro de Fainsod, há muito que aprender sobre os meados da década de 20. Era precária a posição do Partido, pois no país existia um ânimo de franca oposição, mas também porque infestavam-no a corrupção e a embriaguez, quase toda as exigências de liberação eram acompanhadas de um antissemitismo declarado e que o esforço de coletivização e eliminação dos kulaks de 1928 em diante, na verdade interrompeu a nova política econômica de Lênin e com ela a embrionária reconciliação entre o povo e o seu governo.
Sabemos também como era feroz a oposição solidária de toda classe camponesa que se recusa a ser classificada como camponeses ricos, médios e pobres para ser a seguir recrutada para a luta contra os kulaks, pois havia alguém pior que os kulaks sentado em algum lugar, planejando algo pior para o povo. Fainsod aponta, com razão que estes documentos mostram claramente um “descontentamento geral” bem como qualquer “oposição organizada” contra o regime como um todo. Na minha opinião é corroborado por provas existia uma alternativa para a tomada do poder por Stalin e a sua transformação da ditadura unipartidária em domínio total, essa alternativa era a continuação da nova política econômica tal qual havia sido iniciada por Lenin.
Além disso as medidas tomadas por Stalin com a introdução do primeiro Plano Quinquenal de 1928, quando seu controle do partido era quase completo, demonstram a transformação da classe em massa e a eliminação da solidariedade grupal. Com relação ao período de inconteste domínio de Stalin, de 1929 em diante tem estranhas lacunas, especialmente quanto a dados estatísticos. Esta falta de dados só prova que todas as regiões e distritos da União Soviética recebiam dados estatísticos oficiais. Agora comprovados por prova documental confirmada o que sempre suspeitamos o regime nunca foi “monolítico”, mas conscientemente construído em torno de funções superpostas complicadas e paralelas.
O regime, tal qual encontramos na Alemanha nazista tinha a estrutura assegurada pelo princípio da liderança, “culto à personalidade”, Stalin, que durante o grande expurgo colocou uma “omissa cadeia de denúncia em movimento” quando no dia 29 de julho de 1936 deu a cada bolchevista a qualidade inalienável de reconhecer um inimigo do partido. Não importando como ele se disfarçava. E como a solução final dada por Hitler no nazismo, “Matarás”, Stalin recomendava como regra do partido, “levantarás falso testemunho”. Este primeiro documento verdadeiro, mostrou que o “alto preço da dor” exigido pela industrialização e pelo progresso econômico, resultou na verdade, com a eliminação dos Kulaks, a coletivização e o grande expurgo produziram foi fome, caóticas condições de produção e povoamento. Na verdade, o preço dos regimes totalitários foi tão alto que ainda não foi totalmente pago nem pela Alemanha nazista nem pela Rússia pós-stalinista.
O processo de destotalitarização que se seguiu a morte de Stalin em 1958, não podemos afirmar ser ele temporário, provisório ou permanente pois como quer que interpretamos as linhas sinuosas e desnorteante da política soviética a partir de 1953, é inegável que o império policial foi liquidado, a maioria dos campos de concentração desmontados, e não houve mais expurgos. É verdade que os métodos usados pelos governantes nos anos que seguiram a morte de Stalin ainda obedeciam aos padrões por ele estabelecidos após a morte de Lenin.
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