Umberto Eco: Como Fazer uma Tese
Por: Elena Sicherle • 8/9/2019 • Resenha • 2.154 Palavras (9 Páginas) • 482 Visualizações
Capítulo II: A Escolha do Tema
II.1. Tese monográfica ou tese panorâmica
Eco começa o capítulo afirmando que em muitas das vezes o primeiro impulso do estudante é optar por uma tese que fale de muitas coisas - como "A Literatura hoje". Para o autor, essas teses representam um perigo para o jovem estudante; diante de um grande desafio, o estudante fará ou uma "resenha monótona de nomes e opiniões coerentes, ou dará à sua obra um cariz original e será sempre acusado de omissões imperdoáveis" (p. 35). Ao optar por esse caminho, o estudante jovem pode ser considerado negligente e ignorante por ter omitido alguns nomes considerados renomados e enfatizado alguns pequenos autores. Entretanto, para um estudante mais velho, de reputação acadêmica reconhecida, uma tese panorâmica pode ser uma boa escolha; as exclusões e desproporções seriam compreendidas como escolhas voluntárias e portanto, aceitas.
Ao estudante jovem então, sugere uma tese monográfica, com um tema preciso e restrito - como "A literatura italiana desde o pós-guerra até os anos 60" . Sobre esse tipo de tese, o autor define monografia como o estudo, trabalho, de um só tema - "opõe-se a uma 'história de', a um manual, a uma enciclopédia" (p. 38).
Eco aponta também que é possível o meio-termo: transformar uma tese panorâmica em algo mais monográfico, sem terminar em uma monografia rigorosa. Entretanto, ao fim conclui que é sempre melhor optar pela tese monográfica a panorâmica: "quanto mais se restringe o campo, melhor se trabalha e com maior segurança". É preferível uma tese que remete a um ensaio do que uma enciclopédia.
II.2. Tese histórica ou tese teórica?
De início o autor faz a ressalva que essa pergunta não pode ser feita para algumas matérias, como história da matemática e história da literatura alemã em que a tese só pode ser histórica, ou como anatomia comparada e física do reator nuclear, nas quais as teses são sempre teóricas ou experimentais. Mas para matérias como filosofia do direito, pedagogia, direito internacional, etc. a dúvida é válida.
Em uma tese teórica, o estudante enfrenta um problema abstrato, que pode ou não já ter sido estudado por outros acadêmicos. Exemplos de alguns problemas são: a natureza da vontade humana, a noção de função social, o código genético, etc.. Adiante, o autor aponta dois problemas que um estudante pouco experiente pode encontrar ao escolher uma tese desse tipo. O primeiro, a tese acaba por ser tornar uma tese panorâmica e não teórica: aborda-se o problema, mas numa série de autores. O segundo, e mais perigoso, o estudante pensa que pode resolver o problema complexo em algumas páginas.
Eco aponta que, ao basear seus pensamentos sobre aquele problema nos de outro autor, o estudante transforma sua tese teórica em uma tese historiográfica. "ou seja, não tratou do problema do ser, a noção de liberdade ou o conceito de ação social, mas desenvolveu temas como o problema do ser no jovem Heidegger; a noção de liberdade em Kant" (p.40). Comenta também que se o estudante de fato tiver ideias "originais" elas surgirão no embate com ideias do autor estudado, "podem dizer-se muitas coisas novas sobre a liberdade estudando o modo como a outra pessoa falou da liberdade" (p.40). Dessa maneira, é possível que o que viria a ser uma tese teórica acabe como o capítulo final de uma tese histórica. Essa opção se mostra vantajosa pois além de permitir verificação rápida e fácil daquilo que se diz, estabelece também um ponto de apoio - algo importante quando se fala de temas complexos e vagos.
Entretanto, os tipos de tese anteriormente discutidos não podem ser utilizados para matérias experimentais e aplicadas. Nesses casos deve-se optar pela tese experimental - como "A percepção das cores num grupo de crianças deficientes". Aqui, estudante aborda uma questão com um olhar experimental, seguindo um método de investigação e trabalhando em condições razoáveis, com laboratórios e assistência. Mas para uma boa pesquisa, ressalta Eco, é preciso antes um bom trabalho panorâmico (análise dos estudos já feitos).
II.3. Temas antigos ou temas contemporâneos
Novamente, para algumas matérias, como literatura italiana contemporânea, a dúvida não exite.
De início, Eco estabelece que temas contemporâneos são sempre mais difíceis. Isso acontece pois a bibliografia, embora de mais fácil acesso, é mais reduzida e existem menos chaves interpretativas confiáveis.
Já os temas antigos, ainda que existam uma ampla bibliografia e mais chaves interpretativas seguras, exigem uma longa leitura, uma pesquisa bibliográfica mais atenta. De modo geral, temas antigos trazem mais problemas de preparação para o estudante.
Ao fim, define que não há uma resposta correta: "um bom investigador pode conduzir uma análise histórica ou estilística sobre um autor contemporâneo com a mesma profundidade e precisão filológica com que trabalha sobre um antigo" (p.43). Para o autor, deve-se trabalhar um autor contemporâneo como se trabalha um antigo e vice-versa.
II.4. Quanto tempo é preciso para fazer uma tese?
Não se deve gastar mais de três anos para fazer uma tese. Se após esse tempo não foi possível terminar o trabalho, aconteceu as seguintes coisas: 1) a escolha da tese foi errada, 2) o estudante é um "eterno descontente", que jamais estará satisfeito com a sua produção e 3) sofre-se de "neurose da tese", a tese é ciclicamente abandonada e retomada, sentido um constante sentimento de falha.
Não se deve demorar menos de seis meses também, pois esse é o tempo mínimo para organizar o trabalho, elaborar fichas e redigir o texto. Um estudante experiente, porém, pode realizar uma tese em menos tempo, mas nesse caso, deve-se lembrar que ele possui anos de estudo.
Observa-se que, quando se debate o tempo precisa-se para fazer uma tese, o que está em questão é o tempo de pesquisa e preparação, não o da escrita do texto em si.
Sobre quando escolher a tese e o orientador, Eco indica que a escolha seja feita no final do segundo ano da faculdade. Nesse ponto do curso, o aluno já está familiarizado com diversas matérias e pode escolher as próximas disciplinas com o tema de sua tese em mente. Além de ter um bom tempo para elaborar sua tese e, eventualmente para fazer viagens de estudo, pode também, se quiser, trocar o tema. Se escolher demasiado tarde, o estudante pode não ter tempo o suficiente
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