Resenha Crítica Sobre a Obra Seis Passos Pelos Bosques da Ficção de Umberto Eco
Por: Patrícia Sabino • 21/11/2021 • Resenha • 1.156 Palavras (5 Páginas) • 205 Visualizações
ECO, Umberto. Protocolos ficcionais. In.:______. Seis passos pelos bosques da ficção
Tradução: Hildegard Feist. São Paulo: Companhia das letras, 1994 (pp. 123-147).
Amanda Letícia Ventura Silva (UFAL)1
Precursora, instigante e proporcionadora de diversos conhecimentos, a leitura tem papel
crucial na formação – intelectual, filosófica, reflexiva e crítica – do ser humano. E é nesse
sentido que Umberto Eco (1932-2016) em sua obra, Seis passos pelos bosques da ficção (1994),
fortemente aborda a grande importância da(s) leitura(s) em nossas vidas, a qual o leitor age
como um eixo à estratégia de interpretação.
Umberto Eco nasceu na Itália, precisamente na província de Alexandria, região de
Piemonte, e foi escritor, professor e filósofo contemporâneo e é considerado um dos expoentes
da nova narrativa italiana. Seus primeiros estudos foram voltados para a estética medieval, em
que se voltava principalmente sobre os textos de São Tomás de Aquino. Mas foi quando iniciou
suas pesquisas sobre os estudos dos fenômenos de comunicação ligados a cultura de massa
(telenovelas, cartazes publicitários, etc.) que ele exerceu influência no meio intelectual.
Em 1962 Eco lançou o livro, Obra aberta, a qual explanava um estudo sobre a
semiótica, onde foi estabelecida diversas interpretações que possam sobrevir ao ouvinte/leitor
através da obra artística. Nos anos 70 intensificou os estudos na área da semiótica realizando
novas perspectivas sob influências de filósofos como John Locke, Kant e Peirce, deixando o
viés das teorias semiológicas de Saussure. Escreveu também alguns romances como, O nome
da Rosa (1980) e O pêndulo de Foucault (1989), obras bem conceituadas na literatura.
O capítulo a ser comtemplado, Os protocolos ficcionais, é voltado para o leitor,
particularmente, aos protocolos de leituras que ele submete nos textos, seja ficcionais ou não.
No início desse capítulo, Umberto Eco levanta questões que afeta seus leitores de forma tão
impactante que os prendem ainda mais à leitura do seu texto, em que esses afetos – em
comparação – como dizia Deleuze no ensaio, A potência de agir de Spinoza, pode ser
relacionada também a potência de agir, existir e pensar.
Com isso, ao nos questionar: por que não lemos o mundo real de forma fictícia? – por
se apresentar um mundo tão confortável, onde podemos “viver” o mundo que quisermos (ou
não) – ou por que não tentamos fazer os mundos ficcionais tão complexos e contraditórios
quanto o mundo real?, notamos que ECO aborda a impulsividade da verossimilhança que
1 Estudante do curso de Letras – Língua Portuguesa da Universidade Federal de Alagoas Campus Sertão/Delmiro
Gouveia. E-mail: totty_monteiro@hotmail.com
constitui nossas percepções sobre esses dois mundos, pois muitas vezes somos compelidos a
trocar a ficção pela realidade e paralelamente buscamos ler a ficção como vida real e vice e
versa.
Porém, diante isso, temos que nos deter em qual tipo de leituras estamos adentrando,
como diz Eco em seu livro Obra aberta, ser o leitor modelo. Ser um leitor modelo é se deter a
mobilização de uma perspectiva de leitura crítica diante dos mais diversos tipos de leituras
(textuais, fílmicas, da realidade, etc.) sempre buscando nessas leituras outras formas de
interpretações, ou seja, interessado no não dito.
No decorre do capítulo, Umberto Eco explica as diferenças entre a narrativa natural e a
narrativa artificial. A natural descreve fatos que aconteceram na realidade, sejam eles de cargas
mentirosas, errôneas ou não, mas que aconteceram de fato. Já a artificial, supostamente é
voltada para ficção, que finge dizer a verdade sobre o mundo real ou sobre um universo
ficcional.
Com isso, quando não se sabe que o texto é verídico (retratando a realidade) e se esse
texto traz afirmações ou não, o leitor diverte-se reconstruindo um universo, trafegando com
incertezas entre a realidade e a ficção. Mas caso seja um texto que descreva a realidade, o leitor
deve reformular sua visão do texto, sem que seja preciso relê-lo. Outro ponto relevante que Eco
aborda nesse capítulo é que as personagens ficcionais podem produzir um tipo de
intertextualidade, transitando em mais de uma obra, e assim, elas passam a apresentar um sinal
de veracidade.
A exemplo disso, temos a Obra, Cogumelos, de Breno Accioly (1921-1966) a qual podese analisar este fato e ainda mais. Cogumelos é um livro de contos a qual o personagem Padre
Bulhões transita em três contos, definindo então, sua intertextualidade entre os contos. Umberto
Eco fala que quando existe esse fenômeno as personagens já criaram cidadania no mundo
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