Ensaio do Livro Interpretação e Super Interpretação de Umberto Eco
Por: Alexandre Ramos • 14/4/2020 • Ensaio • 848 Palavras (4 Páginas) • 232 Visualizações
Universidade do Estado da Bahia – UNEB[pic 1]
Curso: Letras Inglês (II Semestre)
Disciplina: Estudos Filosóficos (Celso Silva)
Discente: Alexandre Ramos
ECO, Umberto. Interpretação e superinterpretação. Tradução MF; revisão da tradução e texto final Monica Stahel. São Paulo: Martins Fontes, 2012. 3ª edição
Em seus escritos, Eco (2012) faz uma crítica ao que ele chama de superinterpretação de textos. Ele dá a entender que superinterpretar é interpretar além do que se deve, é tirar conclusões descabidas de um texto, onde este não tem “intenção” de passar ao leitor tais conclusões.
O ato de interpretar consiste em dar significado à algo. Mesmo a interpretação sendo potencialmente ilimitada, não quer dizer que não haja parâmetros. Para Eco, a interpretação tem critérios e não corre por conta própria. Ainda sobre a interpretação Eco diz que “Interpretar um texto significa explicar por que essas palavras podem fazer várias coisas (e não outras) através do modo pelo qual são interpretadas”[1].
Para demonstrar de onde vem a tendência à superinterpretação, Eco faz uma abordagem histórica de dois modelos que influenciam a forma de decifrar (interpretar) o mundo e os textos: racionalismo e irracionalismo.
No modelo de racionalismo grego, tudo que existe origina-se de uma causa. Conhecer algo significa conhecer suas causas. Para tanto é preciso saber uma série de princípios que fundamentam essas causas: Uma laranja é uma laranja (princípio de identidade), ela não pode ser uma laranja e uma banana (princípio de não-contradição), não pode estar madura estando verde (princípio do terceiro excluído). O racionalismo busca a certeza e demonstração, é o modelo predominante na ciência.
Contrapondo o racionalismo grego, há o hermetismo. Nesse modelo, é possível que muitas coisas sejam verdadeiras mesmo sendo contraditórias, a verdade é um segredo a ser descoberto e todas as coisas podem ser relacionadas umas às outras pela semelhança. A interpretação é infinita, há um distanciamento dos princípios do racionalismo. Em um texto, além do que está evidentemente escrito nele, há um significado oculto. As palavras podem dizer outras coisas além do que aparentam dizer. Entende-se por irracionalismo aqui, aquilo que foge ao modelo de racionalismo.
Ao superinterpretar um texto, o leitor superestima alguns elementos, inferindo significados através de associações e tira conclusões destes, sendo que tais elementos poderiam ser explicados de uma maneira mais simplista. Eco dá um exemplo enfático de superinterpretação:
[...] há uma relação entre o advérbio “enquanto” e o substantivo “crocodilo” porque – pelo menos – aparecem juntos na sentença que acabei de pronunciar. Mas a diferença entre a interpretação sã e a interpretação paranóica está em reconhecer que esta relação é mínima e não, ao contrário, deduzir dessa relação mínima o máximo possível. O paranóico não é o indivíduo que percebe que “enquanto” e “crocodilo” aparecem curiosamente no mesmo contexto: o paranóico é o indivíduo que começa a se perguntar quais os motivos misteriosos que me levaram a reunir estas duas palavras em particular. O paranoico vê por baixo de meu exemplo um segredo, ao qual estou aludindo.[2]
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